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Entrevista com Brenda Chapman

 

Em Dezembro de 2011, o site Pixar Portal entrevistou Brenda Chapman, famosa animadora e diretora, conhecida por muitos como a primeira mulher a dirigir uma animação em longa-metragem de um estúdio renomado – neste caso, “O Príncipe do Egito”, da DreamWorks Animation. Anteriormente, Chapman trabalhou em célebres produções da Walt Disney Pictures, tais como “Uma Cilada para Roger Rabbit” (este produzido pela subsidiária Touchstone Pictures), “A Pequena Sereia”, “A Bela e a Fera”, “O Rei Leão” (no qual foi Chefe de História) e “O Corcunda de Notre Dame”, dentre outros. Na DreamWorks, além de “O Príncipe do Egito”, Brenda Chapman participou da produção de “Shrek”, “A Fuga das Galinhas” e de mais alguns projetos.

 

Brenda Chapman nos Estúdios Disney

 

A convite de seu amigo Joe Ranft, ela ingressou em 2003 na Pixar Animation Studios, onde trabalhou brevemente nos filmes “Carros”, “Wall-E”, “Ratatouille”, “Up” e “Toy Story 3”. Entretanto, sua tarefa de maior destaque no estúdio até o momento foi a concepção original e a supervisão de “Valente” (“Brave”), projeto este que enfim foi aprovado pelos chefes criativos e que já possui previsão de lançamento para esse ano. De fato, Brenda Chapman foi a primeira mulher a dirigir um filme da Pixar, sendo que o longa também é a primeira produção da casa protagonizada por uma personagem feminina. Todavia, devido à diferenças criativas, Brenda deixou a direção do filme em 2010 e atualmente está se dedicando na elaboração de outros projetos. “Valente”, por sua vez, agora é dirigido por Mark Andrews, apesar de Brenda Chapman ainda ser creditada como co-diretora do longa. Ela, inclusive, está casada com Kevin Lima (o diretor de “Encantada”).

 

 

Nesta entrevista, a animadora fala um pouco sobre as origens do conto de fadas celta e de como o cotidiano com sua filha influenciou alguns aspectos do longa-metragem, dentre outros assuntos. Enfim, confira estas seguintes declarações a seguir, na íntegra!

 

Pixar Portal: De onde surgiu a ideia original que deu inicio à produção de “Valente”?

Brenda Chapman: O filme foi principalmente inspirado no relacionamento com a minha filha. Eu tenho essa filha que é bastante obstinada, independente e bem-humorada. Temos as nossas desavenças e ambas são malucas por controle, mas a intensidade do meu amor por ela é uma coisa constante. Ela tinha quatro ou cinco anos quando eu vim com a ideia e perguntei: como ela será quando chegar à fase da adolescência? Bem, agora eu sei quem ela é como adolescente, já que ela tem 12 anos agora. Ela é uma grande parte da minha vida e é nela que eu de fato posso focar totalmente, então eu queria fazer uma história sobre uma mãe e sua filha e de como é essa relação entre as duas, essa luta. Como disse antes, eu amo contos de fada e almejava produzir um que não fosse uma paródia – mas sim algo contemporâneo, com mulheres e famílias modernas. Não seria apenas mãe e filha, mas uma família atual configurada em um conto de fadas do mundo antigo. E eu também tenho uma quedinha pela Escócia. Acho que é principalmente pelo fato de eu ter alguma ascendência e um gene forte que me atrai para esse país.

 

 

Pixar Portal: Você já falou anteriormente de sua afeição por Bela (de “A Bela e a Fera”) por ela ser uma princesa não-convencional. Será que o apelo da princesa atípica teve algo a ver com a direção que você tomou para “Valente”?

Brenda Chapman: Eu tive essa intenção, mas também em relação à história. O conto de uma princesa atípica. Eu amo contos de fada, mas estava cansada da mensagem de que você deve aguardar a chegada do seu príncipe encantado para em seguida viver feliz para sempre. Bobagem! E eu também estava ficando cansada das paródias em contos de fada. Portanto, eu queria fazer uma história que prestasse homenagem às antigas fábulas de Grimm e que nos levasse de volta para esse mundo mágico. Trata-se de uma opinião completamente diferente sobre uma princesa. Eu conheci várias pessoas que diziam: “Oh legal! Outra princesa!”. Por causa do marketing, as meninas giram em torno de produtos de princesa, então meu objetivo era oferecer um tipo diferente de princesa – uma princesa forte, que mães e filhas pudessen relacionar-se, de modo que as mães não arrancassem os cabelos quando vissem suas meninas tentando se vestir ou agir como esta personagem. Em vez disso, seria como: “Sim! É isso aí garota!”.

Pixar Portal:A Escócia é uma parte integrante da história, ou foi mais uma escolha estilística?

Brenda Chapman: Bom, o país tinha muito a ver com a forma como nós planejávamos estilizar o filme. No começo eu tinha pensado em algo situado no Norte da Europa, mas aí as coisas começaram a ficar um pouco enroladas e pensamos “Oras pombas! Vamos só falar que é na Escócia!”. E eu continuei voltando às imagens da Escócia. Eu queria Billy Connolly para o papel do pai. Então, decidimos parar de bater em torno do arbusto.

 

 

Pixar Portal: Este é o primeiro filme da Pixar com uma liderança feminina. A Pixar já estava parecendo atrasada por não ter uma direção feminina por um bom tempo. Isso influenciou o fato da produção de “Valente” ter sido aprovada?

Brenda Chapman: Eu não tenho certeza sobre este assunto. Tudo o que sei é que fui convidada a ingressar na Pixar por Joe, e, em seguida, isto evoluiu para um projeto desenvolvido por mim. No momento em que eles estavam tentando sair da caixa. Eles possuíam vários filmes camaradas e tinham grande sucesso com essas histórias. Mas eu acho que eles estavam tentando ampliar um pouco os seus horizontes. Assim como aconteceu na Disney, eu estava no lugar certo na hora certa. Na Pixar, os diretores criam suas próprias ideias a partir do que é mais interessante para eles, do que suas paixões são feitas. Quando eles me deram a oportunidade de criar algo, eu queria fazer um filme inspirado em minha filha. Se nos bastidores, houve qualquer tipo de pressão, eu não sei. Eu nunca senti isso.

 

Brenda Chapman

 

Pixar Portal: Seremos capazes de perceber influências suas no longa final?

Brenda Chapman: Eu não sei como eles desenvolveram a história recentemente, mas quando estava no projeto, eu buscava ressaltar bastante a personagem da mãe. Estava sempre tentando trazer à tona as verdades acerca de um relacionamento e não confiar apenas nos estereótipos. Ás vezes, eu me baseava diretamente em coisas do meu próprio dia-a-dia. Eu entrava e dizia “Você não vai acreditar no que aconteceu comigo esta manhã!” e, frequentemente, isso se encaixava muito bem. Certa manhã, eu estava no banheiro me arrumando, minha filha entrou e eu disse: “Você precisa se apressar e se preparar”, “Por quê?!”, ela gritou comigo e então eu gritei com ela e de repente nós simplesmente paramos, nos abraçamos e dissemos “Bom dia!”… e em seguida voltamos a gritar uma com a outra. Eu só tive que rir disso depois. Quando eu lhes contei essa história, eles disseram “Oh, mas é ótimo! Vamos fazer isso!”. Contudo, isto aconteceu já faz um tempo, portanto não sei se essa ideia permaneceu no filme.

Pixar Portal: Havia rumores circulando meses atrás sobre uma mudança na direção do longa-metragem. Você poderia esclarecer a confusão falando sobre seu atual papel na Pixar?

Brenda Chapman: Eu não estou mais dirigindo “Valente” agora. Eu ainda estou vendo algumas exibições ocasionais e continuo trabalhando na Pixar, mas estou desenvolvendo outros projetos além de “Valente”. Digamos que existiam certas diferenças criativas.

 

 

Pixar Portal: Com “Monstros S.A.”, foram pêlos. Em relação a “Procurando Nemo”, havia a água. Com “Os Incríveis”, foram seres humanos. Você acha que a Pixar ultrapassou certas fronteiras técnicas com “Valente”?

Brenda Chapman: Principalmente, eu acho que você vai ouvir falar muito sobre o cabelo, pois isso faz parte do caráter de Merida. É uma forma de se referir a ela através desse cabelo selvagem, despenteado e encaracolado. Eu trabalhei em “A Pequena Sereia”, “A Bela e a Fera”, “O Corcunda de Notre Dame” e “O Príncipe do Egito”, e Ariel, Bela, Esmeralda e Miriam, todas deveriam ter um cabelo crespo, mas por causa da quilometragem do lápis, os penteados sempre ficavam alisados para baixo e só tinham uma leve ondulação. Portanto, eu estava determinada com esta princesa, pois ela possuía um fogo selvagem em seu cabelo encaracolado e este fazia parte do seu caráter e de seu design. Ele faz uma declaração a respeito de quem ela é. Eles tinham tentado fazer cabelos cacheados antes em Boo de “Monstros S.A.”, mas desistiram porque era uma verdadeira luta e eles já tinham que lidar com a textura dos pêlos. Com Merida, eles realmente trabalharam duro nesse desafio, conquistaram-no e fizeram um trabalho incrível. Graças aos Céus que conseguiram! O mundo inteiro de “Valente” usa a mesma tecnologia. Eles tiveram que criar o cabelo para lidar com a qualidade orgânica da Escócia, com as gramíneas no chão, os pinheiros e os líquenes. Tudo possui uma qualidade orgânica e a tecnologia que surgiu com a criação do cabelo também os ajudou em muito com as paisagens. Foi mesmo sensacional fazer as coisas parecerem menos artificiais e terem praticamente vida própria.

 

 

Pixar Portal: Quais foram os maiores desafios que você teve de enfrentar na elaboração da história?

Brenda Chapman: Bom, eu ainda estou enfrentando-os. A coisa mais importante para mim no começo era a simplificação. Eu tive uma história muito mais complicada no início e ela evoluiu. Finalmente fomos capazes de aprimorá-la até descobrirmos as bases principais dela para vermos o que realmente precisávamos afim de seguirmos em frente. Nós eliminamos algumas personagens e outras complicações para o enredo. Histórias originais são as mais difíceis de fazer e eles ainda estão trabalhando nisso. Eu vi uma versão do filme há alguns meses e ele ainda tinha muito caminho a percorrer. Mas eles vão chegar lá, não tenho dúvidas.

Pixar Portal: Existe alguma diferença em como animar uma personagem européia em oposição à uma personagem americana?

Brenda Chapmam: De fato, a nacionalidade não determina quem elas são. Portanto, você pode até colocar algumas sutilezas do país em qualquer aspecto que você achar melhor, mas, realmente, tem mais a ver com o caráter individual.

 

 

Pixar Portal: Esta é a primeira vez que um filme da Pixar foi dirigido por alguém fora do grupo Pixar Brain Trust. Qual o segredo usado para manter um equilíbrio entre o estilo original da Pixar e as ideias novas trazidas para a mesa?

Brenda Chapmam: Essa é difícil para eu responder. Você tem que sentir que está seguindo os seus próprios instintos. Para mim, o espírito da Pixar é o impulso criativo e o coração criativo das histórias. É permanecer fiel ao processo de criação, e acho que é por isso que seus longas têm sido tão bem-sucedidos.

Pixar Portal: O que o futuro reserva para Brenda Chapman?

Brenda Chapman: Não tenho certeza. Como eu disse, estou desenvolvendo alguns projetos. Não estou certa de que eles serão aprovados ou não. E também estou tentando treinar minha mão para escrever novas histórias. Se elas serão criadas em forma de livro, de roteiro, ou de ambos não tenho certeza. Se eu ficar na Pixar, espero que algo aconteça por lá. Estou feliz ao ver o que está por vir. Após seis anos e meio trabalhando em um filme, me divirto bastante com a espontaneidade de apenas ver o que acontece a cada dia, de forma criativa. Quando eu estava no longa, não tinha tempo algum para me envolver com o século XXI e olhar para blogs, sites e mídias sociais. É algo com que estou me envolvendo, e eu realmente tenho gostado muito disso. Ainda estou lutando para aprender como a chegar a lugares diferentes e ficar atenta. Mas quando tropeço em alguma coisa, fico muito animada com isso. Espero que eu possa estar mais envolvida neste novo mundo. Eu sei que para vocês eu sou da velha escola.

 

 

Clique aqui, para conferir a primeira parte (em inglês), desta entrevista, na qual Brenda Chapman fala um pouco a respeito de sua carreira e de suas impressões dos estúdios em que já trabalhou.

 

“Valente” estreia nos cinemas estadunidenses em 22 de Junho e nas telonas nacionais em 20 de Julho de 2012.

 

Clique aqui e saiba mais sobre “Valente” da Disney•Pixar!

 

Desde os tempos antigos, as histórias de batalhas épicas e lendas místicas foram passadas através de gerações pelas montanhosas e misteriosas Terras Altas da Escócia. Em “Valente” (Brave), um conto de fadas se une à uma sombria jornada quando a corajosa Merida (voz de Kelly Macdonald) confronta os seus costumes, o destino e o mais feroz dos animais.

Merida é uma habilidosa e impetuosa arqueira filha do Rei Fergus (voz de Billy Connolly) e da Rainha Elinor (voz de Emma Thompson). Determinada a conquistar o seu próprio caminho na vida, Merida desafia um costume antigo e sagrado para os senhores da terra: o grande Lorde MacGuffin (voz de Kevin McKidd), o mal-humorado Lord Macintosh (voz de Craig Ferguson) e o briguento Lorde Dingwall (voz de Robbie Coltrane).

As ações de Merida inadvertidamente desencadeam o caos e a fúria no reino, e quando ela recorre à uma bruxa velha excêntrica (voz de Julie Walters) para obter ajuda, a ela é concedido um desejo malfadado. O perigo subsequente força Merida a descobrir o significado da verdadeira bravura, a fim de desfazer a maldição bestial antes que seja tarde demais.

“Valente” (Brave) da Disney·Pixar, chega em Junho de 2012 aos cinemas dos Estados Unidos, e em 20 de Julho de 2012 ao Brasil, podendo sofrer alterações na data.

 

Escrito por Luís Fernando

"Tupi or not tupi! That is the question..."