Pete Docter. Esse nome é conhecido pelos amantes de animação, especialmente as do Pixar Animation Studios. É o dono da mente responsável por nos presentear com os inestimáveis Monstros S.A. (2001) e UP: Altas Aventuras (2009). Porém, quem assistiu à sessão especial de Divertida Mente, na última terça-feira, se deparou com um outro nome não tão familiar, durante o passeio pelo estúdio: Ronaldo “Ronnie” Del Carmen.
A história de superação de Del Carmen poderia até mesmo render um longa-metragem. O animador de cinquenta e cinco anos, nascido em Cavite City, nas Filipinas, teve de superar pobreza e despejo para começar do zero em uma indústria que nunca cogitou trabalhar. “Eu sou um animador por acidente. Eu sou muito, muito sortudo. As pessoas querem me promover para empregos que elas pensam que eu posso fazer,” comenta ao Inquirer.
De animador por acidente até chegar ao posto de co-diretor, a vida de Ronnie deu muitas voltas. “Parecia estranho e surreal,” lembra sobre o convite de trabalhar ao lado de Pete Docter na animação. “Por um lado, eu não entendia o que aquilo significava, mas disse automaticamente ‘sim’.” E foi imediata a identificação com Riley, que precisa se ajustar a uma nova cidade, enquanto as suas emoções entram em conflito.
Quando tinha onze anos, seu pai e alguns amigos se juntaram para montar um negócio, mas, logo que obtiveram lucro, um deles fugiu com todo o dinheiro. “Nós eramos uma família de classe média e, na semana seguinte, nós eramos pobres. Eu quase não conclui o ensino médio. Enquanto todos os meus amigos estavam indo para a faculdade, eu tive que trabalhar.” Seu pai deixou as Filipinas, para trabalhar nos Estados Unidos, quando Del Carmen tinha dezessete anos; e eles só foram se encontrar novamente doze anos depois.
Cinco anos após se formar no ensino médio, ele se matriculou na University of Santo Tomas (UST), onde fez aulas de animação, sem entusiasmo, apesar de desenhar desde pequeno e de não ter interesse algum em se tornar animador. “Parecia muito trabalho para pouco ganho,” revela. Graduado em Artes e com uma especialização em Publicidade, Del Carmen se casou com sua colega de aula, Tess, e começou a trabalhar como diretor de arte em uma agência de publicidade.
Foi nesse momento que a petição de seu pai, agora um cidadão dos Estados Unidos, foi aprovada e possibilitou que ele imigrasse com a sua família. No entanto, o salto de fé parecia não ter funcionado. Por meses, ele ficou desempregado e já pensava em lavar pratos em um dos hotéis, quando finalmente conseguiu um trabalho – em animação. “Desenhar meio que salvou a minha vida e criou uma nova carreira para mim.”
O fato de saber muito pouco a respeito de animação não o impediu de aceitar o desafio e aprender, colaborando nos seriados Where’s Waldo? (1991) e Batman: A Série Animada (1992-1995), de onde passou a trabalhar em dois longas-metragens do DreamWorks Animation: O Príncipe do Egito (1998) e O Caminho para El Dorado (2000). E em 2000, sua estrela da sorte brilhou mais uma vez e ele se juntou ao Pixar Animation Studios.
Seu primeiro crédito na casa do Luxo Jr. foi como supervisor de história em Procurando Nemo (2003), outros de seus trabalhos incluem: Ratatouille (2007), UP: Altas Aventuras (2009), Valente (2012), Universidade Monstros (2013), e os curtas A Banda de um Homem Só (2005) e A Missão Especial de Dug (2009), a primeira vez que assumiu o comando de uma animação. E foi a sua colaboração na aventura de Carl Fredricksen que lhe rendeu um convite para co-dirigir Divertida Mente.
Curiosamente, Carl Fredricksen é o seu personagem favorito de todos os projetos em que trabalhou. À época da produção de UP: Altas Aventuras, seu pai adoecera gravemente e Del Carmen costumava visitá-lo no hospital e mostrá-lo as sequências que havia desenhado. “Eu dizia: ‘Olha, pai, o senhor se parece com o Carl,” relembra. Infelizmente, seu pai não viveu para assistir ao longa-metragem concluído.
“Meu pai vive no filme,” diz. “Eu o vejo como um memorial para o meu pai. Batman foi meu primeiro amor na infância, e eu ainda amo esse personagem. Eu amei o aspecto horripilante de Alien. Porém, a coisa mais emocionante que fiz em minha carreira foi mostrar um homem velho passar por essas emoções e perceber que sua vida ascendeu. Acredito que nunca terei outra oportunidade como essa. Tem sido muito gratificante poder fazer isso.”
E agora que já co-dirigiu um longa-metragem de animação, quais as possibilidades para o futuro? “Eu gostaria de dirigir uma produção, mas também quero contar uma história minha,” comenta. E há uma história que ele gostaria de contar – ele fez storyboards para um curta intitulado Ulan. “É uma memória da minha infância, de brincar na chuva. Estou planejando produzir e já apresentei a ideia. Em workshops de storytelling, costumo dizer que as melhores histórias vêm da nossa infância.“
“Adoraria que todo mundo pudesse contar as suas histórias… Esse tipo de vínculo e confiança facilitam a construir um sonho comum, seja na indústria ou em filmes de animção, é sobre a tentativa de criar algo que não existe. Pois, se eu posso contar-lhe esse sonho e essa história, você poderá se juntar a mim e torná-los reais,” finaliza o animador.
C rescer pode ser uma jornada turbulenta, e com Riley não é diferente. Ela é retirada de sua vida no meio-oeste americano quando seu pai arruma um novo emprego em São Francisco. Como todos nós, Riley é guiada pelas emoções – Alegria, Medo, Raiva, Nojinho e Tristeza. As emoções vivem no centro de controle dentro da mente de Riley, onde a ajudam com conselhos em sua vida cotidiana. Conforme Riley e suas emoções se esforçam para se adaptar à nova vida em São Francisco, começa uma agitação no centro de controle. Embora Alegria, a principal e mais importante emoção de Riley, tente se manter positiva, as emoções entram em conflito sobre qual a melhor maneira de viver em uma nova cidade, casa e escola.