“A espada do verdadeiro Rei. E ele está lá embaixo e ele é um deus.”
Chester Wormwood
Há um ano, Galavant estreou sem alarde e com uma proposta inusitada. Aos poucos, a sátira aos contos de fadas foi conquistando o seu lugar ao sol — ao menos, com quem a assistia — e, depois de uma renovação surpresa, voltou mais segura de si, entregando episódios com uma qualidade superior aos da primeira temporada. Porém, nada nos preparou para a excelência dessa dupla final.
Bobo da Corte, enfim, teve sua chance de ter um solo neste ano. E fez bonito. Com o instrumental de “Galavant“, a recapitulação serviu para aguçar a curiosidade para os desfechos das tramas principais. O final da música também foi ótimo, com dois dos três exércitos do título já a postos para a batalha, conforme o terceiro se aproxima.
Enquanto Isabella faz um discurso distorcido para os “soldados” de Hortênsia, armados com frigideiras e colheres, Madalena e Wormwood preferem assistir à guerra de camarote. Gareth percebe a mudança de comportamento da namorada, e contrariado, decide desfrutar de seu presente de aniversário sozinho, afinal era um bom dia para se morrer.
Alan Menken e Glenn Slater fizeram um trabalho incrível em todos os episódios, mas nestes, a dupla de compositores se destacou ainda mais, porque cada música esbanjava magia e criatividade. A diversão e inspiração dos dois estavam evidentes. Foram piadas e referências a Game of Thrones (2011), Titanic (1997), Peter Pan (1953), Nem que a Vaca Tussa (2004) e até com o destino da série e com o próprio Menken.
Galavant é uma série com orçamento modesto, o qual é gasto principalmente com as participações especiais. Por isso, a batalha épica foi uma grata surpresa, desde o impressionante número de figurantes até o excelente figurino de todos os personagens. “A Good Day to Die” e a coreografia da luta foram a cereja do bolo e coroaram a cena como a melhor de todo o seriado.
Sem uma gota de sangue derramado, a batalha ainda foi palco dos aguardados reencontros de Galavant com Isabella e Richard com Gareth. A edição do momento foi crucial para acelerar a reconciliação de ambos porque era desnecessário arrastar o conflito entre eles com uma ameaça muito maior surgindo. Ao perceber a presença da Espada do Herói, Wormwood passa a controlar os zumbis de Galavant.
Porém, o plano musical de Madalena de usar o D’DEW sai pela culatra e acaba reunindo os exércitos de Valência e Hortênsia e os demais personagens contra ela, incluindo seu amado Gareth. As novas camadas ganhadas por Gareth e Madalena durante a temporada, assim como o desenvolvimento de um romance entre eles, trouxeram mais profundidade para a traição dupla. E as atuações de Vinnie Jones e Mallory Jansen estavam na medida certa.
Como esta é uma série cheia de surpresas, Sid chega com um quarto exército composto apenas pelos personagens vistos nos outro oito episódios, sem qualquer ator famoso e reconhecível, pois o orçamento não permitia. O grupo se divide. Enquanto Gareth e Galavant lutam com os zumbis, Richard e Isabella enfrentam Wormwood e Madalena em duelos na colina.
Richard, no entanto, foi a grande estrela da temporada. Sua transformação de um rei infantil e completamente mimado em um herói valente e digno de respeito foi muito mais interessante de se acompanhar do que a nova jornada de resgate de Galavant. Tad Copper, o qual se revelou ser mesmo um dragão no final, foi importante para Richard despertar a sua bravura e matar o grande vilão, Wormwood.
De certa forma, todos os personagens receberam seus finais felizes. Galavant e Isabella se casaram e foram morar perto da praia; os reis de Valência recuperaram suas coroas; Madalena partiu em busca de mais poder das trevas, com Gareth e Sid partindo para salvá-la; e Richard foi atrás de Roberta em uma típica cena de aeroporto, mas, dessa vez, usando navios, cavalos e gatos. O clima de despedida na música dos monges cantores era gritante.
Os roteiristas aproveitaram para amarrar certas pontas soltas, a exemplo do destino de Chefe e Gwynne. A dupla fugiu para uma pequena e simples cabana, onde vivem como sempre sonharam. Mas algumas dúvidas ainda restam. Se Richard é o verdadeiro rei, qual é o seu reino? Seu castelo original foi desmanchado e seus súditos vivem em uma democracia. Talvez, nunca tenhamos resposta para essa pergunta.
Ficou evidente a intenção dos roteiristas e da equipe de oferecerem um final satisfatório e épico para o público, ao contrário da temporada passada.E felizmente, eles conseguiram cumprir essa missão. Se antes o risco de cancelamento era enorme, agora as chances da ABC trazê-la para uma terceira temporada são mínimas, embora existam ganchos para possíveis novas aventuras.
Mas milagres podem acontecer. Mesmo se a emissora do alfabeto optar por não renová-la, existem esperanças da série ser resgatada por algum outro canal a cabo ou mesmo por serviços de streaming, como a Netflix. Porque seria um desperdício descontinuar uma produção tão engraçada e criativa, com ótimas e cativantes músicas e um elenco tão bem entrosado.
Galavant estreou como um mero tapa-buraco, uma série a ser descartada. Apesar disso, a série foi além de suas limitações e conquistou uma pequena legião de admiradores, e com razão. O futuro pode ser incerto e sombrio para a turma do nosso herói, porém, foi uma honra podermos acompanhá-la nesses dezoito episódios e escrever a respeito. E será um prazer podermos continuar, caso a sorte nos sorria novamente. Muito obrigado pela excelente aventura, Galavant!