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Clássicos na Crítica | Alice no País das Maravilhas

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“Cortem-lhe a cabeça.”

Rainha de Copas

Primeiramente imaginado pelo inglês Lewis Carroll e, então, levado aos cinemas em 1951 por Walt Disney, Alice no País das Maravilhas é o tema de mais uma coluna Clássicos na Crítica. Boa leitura, Camundongos!

A história de Alice sempre fascinou Walt Disney e poder produzi-la foi um grande feito, resultado de muitos anos de negociação. Entretanto, na época, o filme foi considerado um fracasso devido à sua bilheteria bem inferior à do lançamento anterior do estúdio, o clássico Cinderela (1950).

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Foi somente nos anos 1970 que o filme começou a ser mais solicitado e, desde então, sua popularidade cresceu e criou-se uma base de fãs sólida. É interessante vermos como um filme pode tornar-se bem sucedido com o tempo. Afinal, Alice no País das Maravilhas é hoje um ícone da Disney e também da cultura pop, enfeitando até mesmo roupas e jóias.

Alice no País das Maravilhas se inicia como os grandes clássicos do estúdio, com os créditos logo no início do filme acompanhados de uma canção que já remete à história do filme. O enredo do longa é retratado em belos desenhos e podemos conhecer alguns de seus personagens.

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Hoje, esse início poderia ser considerado entediante, tendo em vista o mundo ansioso que busca apenas o resultado, nesse caso o filme. Ainda assim acredito que é um ótimo modo de mergulhar na história. Algo diferente em Alice é que apesar de ter se originado de uma obra clássica, o filme não inicia com um livro sendo aberto, como é em Branca de Neve e os Sete Anões (1937) e A Bela Adormecida (1959) por exemplo.

Alice, junto de sua gatinha Dinah, estuda História junto de sua tutora em um belo jardim inglês, e logo no primeiro diálogo, Alice revela sua grande imaginação. A menina se vê insatisfeita com o mundo ao seu redor e descreve a sua utopia na canção “In A World of My Own“. O visual do filme é super colorido, assim como a imaginação da protagonista, e neste início já temos uma bela imagem de Alice deitada sobre as flores.

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Então, a ação do filme se inicia: Alice vê um coelho correndo, aparentemente atrasado, e sua curiosidade a leva até um buraco na terra. Ao cair no famigerado buraco do coelho, Alice encontra a passagem do mundo real para o País das Maravilhas e durante o caminho tudo começa a tomar formas estranhas.

Ainda perseguindo o coelho, ela dá de cara com uma pequenina porta, mas para passar por ela é necessário mudar de tamanho, o que ela faz diversas vezes. Quando finalmente consegue passar por dentro da fechadura, encontra vários habitantes locais, liderados pelo Dodô, que não deixam dúvidas das maluquices que virão na sua jornada.

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Alice no País das Maravilhas é o filme da Disney com o maior número de personagens e a história do filme se divide em pequenos encontros com essas interessantes figuras. Tais encontros, quase sempre sem sentido, que no fim levam Alice mais próximo do Coelho Branco.

Seguindo seu caminho, a menina encontra Tweedle Dee e Tweedle Dum, dois contadores de histórias. Os rapazes apresentam à Alice o perigo da curiosidade com o conto “A Foca e o Carpinteiro“, que serve de aviso a protagonista que sempre se complica graças à sua eterna busca por novidades.

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“Tudo aqui é maluco.”

Mestre Gato

Depois de ser distraída por Tweedle Dee e Tweedle Dum, Alice encontra a casa do Coelho Branco mas não consegue se entender com ele. Novamente a menina se equivoca ao mudar de tamanho e fica imensa. Confundida com um monstro ela quase é queimada viva mas consegue escapar após diminuir sua forma.

Agora bem pequenina, a menina adentra um belo jardim de flores cantoras. E outra vez Alice se desentende com os habitantes do País das Maravilhas e é expulsa ao ser taxada de erva daninha. Essa cena é um ótimo momento para destacar o primoroso trabalho da artista Mary Blair.

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A americana trabalhou em alguns clássicos do Walt Disney Animation Studios como Peter Pan (1953) e Cinderela (1950). Mary foi responsável pelas artes conceituais e também pelo color styling do filme. No momento em que Alice chega ao jardim, repare como as flores são desenhadas e como suas cores são vibrantes. Tudo graças ao trabalho de Mary Blair.

Seguindo a série de (des)encontros inusitados, Alice conhece a lagarta, que a deixa ainda mais perdida e confusa com suas frases enigmáticas. Aqui é possível perceber a mudança de postura do estúdio em relação ao conteúdo de seus filmes. Há anos foram proibidas cenas de fumo nas animações Disney, mas aqui vemos a lagarta utilizando um narguilê, prática que não era chocante décadas atrás, como em Pinóquio (1940) quando o protagonista aparece fumando um charuto.

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De volta ao seu caminho Alice cruza com um dos personagens mais icônicos da trama, o Mestre Gato. Sua figura enigmática e alucinante sempre foi um símbolo da história de Alice na literatura e com a animação finalmente associamos o rosto à pessoa, ou melhor, ao animal. O Mestre Gato é o tipo de coadjuvante que rouba a cena, tornando-se marca registrada da história.

Assim como os outros moradores do País das Maravilhas, o Gato pouco ajuda Alice, apenas apresentando-a com mais charadas. Antes de desaparecer, sugere uma visita ao Chapeleiro e a Lebre de Março mas avisa que eles são malucos, e então solta a frase ícone de toda a história: “We’re All Mad Here” (na versão brasileira traduzida para “Aqui Tudo é Maluco“). Sugiro que procurem a quantidade de tatuagens já feitas com essa fala.

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Chegando ao encontro do Chapeleiro Maluco e da Lebre de Março, Alice conhece a comemoração do Desaniversário mas infelizmente não consegue aproveitar o chá por conta da mudança frenética de lugares à mesa. Enquanto na animação o Mestre Gato tornou-se ícone, na versão com atores (2010) de Tim Burton, o Chapeleiro ganhou uma legião de fãs graças à atuação do muito popular Johnny Depp.

Depois do chá, Alice se cansa de tanta maluquice e decide de uma vez por todas voltar pra casa, o que ela infelizmente não consegue. Agora triste e sem esperança, Alice canta “Very Good Advice“, uma canção melancólica sobre os problemas de ser curiosa. É interessante ressaltar o número de canções do filme, são quase dez. Entretanto, o filme não é lembrado por sua trilha sonora como outros clássicos do estúdio são.

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“Se esse mundo fosse só meu tudo nele era diferente.”

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Alice no País das Maravilhas não possui canções poderosas e com finais apoteóticos, como “Ciclo Sem Fim” (O Rei Leão, 1994), ou mesmo canções românticas, como “O Sonho Que Eu Sonhei” (A Bela Adormecida, 1959). As músicas do longa servem como acompanhamentos para os pequenos encontros da menina ao longo de sua jornada e tem o intuito de apresentar melhor a personalidade da jovem.

Com isso, os fãs que estão acostumados a cantar a plenos pulmões as trilhas da Disney vêem em Alice uma trilha sonora sem brilho. Mas pessoalmente, “Very Good Advice” possui uma letra bem madura e que é digna de reflexão.

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Mais uma vez o Mestre Gato atravessa o caminho de Alice e desta vez abre uma passagem para as terras da Rainha de Copas, a poderosa líder do País das Maravilhas. Lá ela conhece os serviçais da tirana, todos cartas de baralho, que para agradar a majestade pintam as rosas dos jardins de vermelho (ou melhor, cor de carmim como diz a canção). Após descobrir que suas rosas foram pintadas a Rainha revela a ditadora que é e ordena que cortem as cabeças de vários súditos.

Passado o acesso de raiva, a Rainha convida Alice para um jogo de croquete e mais uma vez o Mestre Gato complica a vida da menina. Ele derruba a tirana e logo depois desaparece, deixando a culpa para Alice, que vai ao tribunal defender sua cabeça.

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Durante o julgamento, alguns conhecidos, como o Chapeleiro, vão prestar depoimento mas em nada ajudam. Então, Alice come um pedaço de cogumelo mágico e torna-se gigante novamente, aterrorizando a todos, inclusive a Rainha.

Mas com o passar do efeito do cogumelo, ela volta ao seu tamanho normal e a majestade ordena que cortem a cabeça da menina. A perseguição à Alice começa e ela foge passando por vários cenários do País das Maravilhas. No auge da confusão, ela se vê do outro lado da portinha por qual entrou no início da história e descobre que tudo não passa de um sonho. Então, finalmente acorda, logo na hora do chá.

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Alice no País das Maravilhas é um caso peculiar do Walt Disney Animation Studios. O longa parece ter caído no conjunto de filmes que são amados ou odiados, poucos o colocam no meio termo. E se comparado à maioria das outras animações do estúdio ele não segue a fórmula mágica do sucesso, com princesas e grandes canções.

O filme é o delírio de uma menina insatisfeita com a realidade que através de um sonho consegue viver uma grande aventura. Talvez sua simplicidade seja incompreendida, mas a garotinha é o símbolo de uma mente curiosa e inventiva. Alice é um pouco Walt Disney e um pouco todos nós…

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Escrito por Paulo

Mouseketeer desde que me entendo por gente! Finalmente realizei meu maior sonho de Camundongo e visitei todos os parques da Disney no mundo!