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Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível | Crítica de Fã para Fã

É sempre uma manhã ensolarada quando Christopher Robin vem para brincar.

Winnie the Pooh

ESSA CRÍTICA NÃO CONTÉM SPOILERS! Um comentário extremamente comum em relação a quaisquer obras audiovisuais estreladas pelos personagens do Bosque dos Cem Acres é sobre serem infantis ou bobas demais. Isso, no entanto, é inegável, pois se tratam de adaptações das histórias de ninar criadas por A. A. Milne e E. H. Shepard, mas está longe de ser um defeito ou de diminuir o valor de suas mensagens.

De fato, as aventuras do Pooh sempre foram narrativas simples, sem grandes vilões ou reviravoltas. E, talvez, o motivo pelo qual o personagem seja tão popular é a leveza de seus contos. Desde 1966, o ursinho bobo protagonizou uma infinidade de curtas e longas-metragens do Universo Disney, alguns para o cinema e outros para home vídeo, além de séries televisivas, jogos, livros… Rendendo uma fortuna aos cofres do Mickey.

Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível, a mais recente produção do Walt Disney Studios, não tenta fugir desse conceito, felizmente. O diretor Marc Foster e a equipe criativa dessa aventura optaram por ir em um caminho oposto ao de muitos projetos atuais do estúdio. Essa releitura não busca reinventar os tão conhecidos personagens, tampouco apresentar uma versão mais sombria e misteriosa.

A proposta da trama é honrar os clássicos animados e contar um novo capítulo da vida de Christopher Robin, no qual, agora mais velho, precisa se reencontrar em meio ao mar de preocupações e problemas da idade adulta. E ao mesmo tempo, o filme serve como um recado a quem se considera maduro demais para apreciar esse tipo de conteúdo oferecido pelo ursinho guloso e seus amigos.

Porque, apesar de Pooh estar sempre faminto, Tigrão dar seus super luper hiper liper pulos, Leitão se assustar com tudo e Ió fazer os seus comentários depreciativos, o que deve entreter as crianças assim como ocorre nas animações, a grande lição de moral é direcionada ao público mais velho. Em sua essência, essa versão é voltada para quem cresceu com as peripécias desses personagens e agora precisa lidar com a vida adulta.

O roteiro é bastante coerente ao que propõe. Dessa forma, a previsibilidade e a falta de surpresas acabam servindo como um trunfo dentro da história, a fim de evidenciar a mensagem pretendida. Não há um vilão definido – embora o chefe de Robin aja como tal em um pequeno nível. O protagonista é o seu próprio antagonista, afinal todo o problema da trama surge de suas decisões e de seus conflitos internos.

Um dos destaques da aventura, aliás, é a cena de abertura. A equipe de edição realizou um trabalho soberbo ao imitar um livro ilustrado para mostrar desde a última ida de Robin ao Bosque até a sua fase adulta, e todos os acontecimentos que fizeram aquele menino cheio de imaginação se tornar alguém tão distante e tão ocupado, a ponto de não ter tempo para si mesmo nem para a família.

Quando Pooh ressurge, com a sua camisetinha vermelha, depois de trinta anos, para pedir a ajuda de seu antigo amigo, Robin começa a reavaliar a sua vida e tudo o que o levou até aquele ponto. Enquanto ele vai se redescobrindo e refletindo, somos também levados a questionar as nossas escolhas, se estamos valorizando o que realmente tem importância, onde estamos investindo o nosso tempo…

Vale ressaltarmos, portanto, a belíssima fotografia utilizada no longa. Conforme o personagem vai se afastando da infância, o cinza e o tempo enevoado vão se tornando predominantes em sua vida. As cores vão retornando, aos poucos, a cada reflexão e reencontro. A turma do Bosque é utilizada como uma metáfora do que vamos perdendo ao longo do amadurecimento, enquanto o balão vermelho e a maleta de papéis importantes simbolizam a transição do estado de espírito do protagonista

Permeado por uma mescla de tristeza e de alegria, Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível encontra um equilíbrio, tanto de sentimentos, sem nunca exagerar em qualquer um dos dois, quanto entre os personagens. O foco da narrativa é a relação de Robin e Pooh – os diálogos filosóficos entre os dois são um espetáculo à parte –, porém os demais habitantes do idílico bosque e os outros humanos não ficam ofuscados ou esquecidos. Todos têm a sua chance de brilhar.

Não há como ficar sem elogiar a atuação de Ewan McGregor como o protagonista. O ator constrói um personagem cheio de nuances, que, em muitos momentos, chega a ser antipático em razão de sua obsessão com o emprego, sem nunca deixar de ser crível ou realista. McGregor tem a oportunidade de brilhar quando o personagem começa a abraçar a sua criança interior. Hayley Atwell e a novata Bronte Carmichael também se destacam em seus papéis.

Todavia, quem rouba todas as atenções são os animais falantes. O uso de pelúcias reais com computação gráfica trouxe um resultado final muito interessante, e o visual sujo e surrado de cada um deles deixa claro o quanto eles foram esquecidos pelo tempo após um infância de muitas brincadeiras. A trilha sonora, com direito a algumas canções novas, ajuda a ressaltar o clima de nostalgia presente na película.

Logo, podemos definir Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível como um ponto fora da curva, um longa-metragem indo na contramão dos demais. Quase todos os dias, novas readaptações, sequências de filmes antigos e atualizações são anunciadas pelos grandes estúdios. A maioria falha ao ignorar por completo ou por replicar em excesso a obra original, em uma visão muito simplória do que o público deseja.

Foster e sua equipe, no entanto, souberam se afastar das animações na medida certa e dosar as referências e homenagens na criação de um longa-metragem único, o qual respeita o passado, dialoga com o presente e espera o futuro de braços abertos. Com alguns paralelos com Mary Poppins (1964), essa aventura é um alento por contrariar uma sociedade que apenas dá valor a quem está ocupado o tempo inteiro e mostrar que, às vezes, fazer nada pode ser, sim, a melhor coisa a se fazer.

Escrito por Lucas

Um grande aficionado por cinema, séries, livros e, claro, pelo Universo Disney. Estão entre os seus clássicos favoritos: "O Rei Leão", " A Bela e a Fera", " Planeta do Tesouro", "A Família do Futuro" e "Operação Big Hero".