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Camundongo Entrevista | Bate-papo com Tiago Barbosa, o Simba do musical O Rei Leão

Do Vidigal para o mundo! Eleito como o melhor intérprete do Simba no mundo inteiro por Julie Taymor, a artista responsável pela adaptação do clássico animado O Rei Leão (1994) para os palcos, o carioca Tiago Barbosa conquistou o coração do público com a sua performance na montagem brasileira do musical, cuja estreia aconteceu em 2013. Agora, o seu talento e carisma o levaram para Espanha, para reprisar o protagonista na versão encenada no Teatro Lope de Vega, a qual está em cartaz desde 2011 e esgota ingressos de nove sessões semanais com até dois meses de antecedência. Para mais informações, acesse: www.elreyleon.es.

Afeito a desafios e envolvido com música e teatro desde muito jovem, o cantor e ator foi convidado a participar da produção espanhola na condição de ser o quarto cover. Porém, poucos anos depois de sua chegada a Madrid, Tiago já ocupa o posto principal do espetáculo. Em nosso bate-papo, o artista conversa sobre a sua relação com o Universo Disney; como foi  fazer a sua transição de carreira; o impacto causado pelo musical em sua vida; a sua trajetória como Simba; e, claro, o seu processo de adaptação a um novo idioma e das diferenças entre as duas versões.

Tiago Barbosa em cena na versão espanhola de O Rei Leão. (Foto: Nelson Pará).
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Vamos começar pelo passado. Antes de seu envolvimento com O Rei Leão, você já se interessava pelo Universo Disney? Algum filme favorito? E música?

Eu de verdade, diferente de toda criança da minha época, nunca tive uma imersão ao mundo dos desenhos da Disney. Não que estivesse fora de acesso. Mas eu e meus irmãos adorávamos brincar com outras coisas, rolimã, correr no morro, brincar de contos de terror à noite, tudo isso depois de ir à escola. Nos juntávamos com nossos amigos da comunidade, éramos todos da mesma faixa etária, para brincar e isso era fantástico. Nos dias que aparentemente estávamos livres, como sábado e domingo, estávamos envolvidos com alguma atividade da igreja, que ficava longe de nossa casa. E era muito divertido a nossa ida até lá – falo isso com um sorriso bobo no rosto, porque, de verdade, meus irmãos aprontavam muito. Apertávamos a campainha da casa dos outros e saíamos correndo, cantávamos, riamos, enfim, até hoje quando me perguntam sobre alguns clássicos da Disney, eu de verdade não os vi. Assim como fui ver A Bela e Fera já grande, O Rei Leão chegou num momento mágico, que foi minha primeira ida ao cinema. Eu minha mãe, irmãos e amigos. Sentados na poltrona daquele lugar grande, com uma tela que parecia que iria me engolir. Eu chorava do início ao fim. Assim foi meu primeiro filme assistindo no cinema e com o Leão. Já a musica estava na veia desde os meus pais e a igreja. Meu pai é compositor e músico, minha mãe adorava cantar. Imagine uma dessas mulheres negras de uma igreja do Brooklyn, assim era ela.

Seu envolvimento com trabalhos musicais vem desde a infância, como nasceu o seu encanto pela música e pelo teatro?

Minha imersão de forma séria em estudar música veio aos doze anos, quando meu pai nos inscreveu numa orquestra sinfônica da comunidade. Estudávamos três vezes na semana e depois tínhamos os ensaios para as apresentações. Eu tocava clarinete, Diogo trompete, Rodrigo bombardino, e Rafael percussão e, depois, sax alto. O teatro veio bem depois, aos vinte.

Tiago Barbosa em cena de O Rei Leão no Brasil

Você deixou de lado as formações de Pedagogo e Fonoaudiólogo para viver unicamente dos palcos. O que te motivou e como foi fazer essa mudança?

Eu sempre na vida fui estrategista e nunca gostei muito de surpresas. Quando eu era criança, tinha o sonho de ser cantor ou médico. Conversei com meu pai e ele disse que eu não seria músico. Então, fui prestar vestibular para medicina. Passei até a última etapa, mas não entrei. Foi, então, que surgiu a vontade de fazer Pedagogia. Porque sempre amei a educação e via nela a grande ferramenta para a mudança. Me formei, fiz uma pós em Gestão e, com o dinheiro do meu trabalho, depois de já ter minha independência e estar fora da casa dos meus pais, fui fazer Fonoaudiologia, porque eu ministrava classes de canto no Rio de Janeiro. Porém, já também ganhava meu dinheiro como backing vocal… Enfim, foi uma corrida doida. Até que a surpresa aconteceu: o Nós do Morro na minha vida – que bagunçou o menino que era todo ‘programadinho’. A vida me fez lindas surpresas desde então.

Como surgiu a oportunidade de trabalhar na versão brasileira do musical de O Rei Leão? E na espanhola?

No Brasil, foi o Gutti Fraga (Diretor do Grupo Nós do Morro) quem me falou sobre a audição que iria ocorrer no Rio de Janeiro e lá fui eu fazer, na época sem preparo nenhum. Eu sabia cantar, ler partitura, mas não tinha ideia da dimensão desse trabalho. Fiz o teste, passei para a segunda fase em São Paulo e, ao chegar lá, comecei a entender do que se tratava de uma forma um pouco mais aprofundada. Só me dei conta do todo quando iniciamos o processo dos ensaios, as cobranças, a Julie e todo o contorno. Para a Espanha, já se havido acabado o Leão no Brasil há dois anos. Eu já estava envolvido em outras obras. E num dia, dentro camarim, resolvi olhar minha caixa de lixeira e havia, ali, um e-mail que fazia dois dias que havia sido enviado. Era uma carta da Disney me convidando para esse projeto .

Sua performance de “Endless Night”/”Noite Sem Fim” durante a audição levou Julie Taymor às lágrimas. O que significa para você ser considerado o melhor intérprete do Simba no mundo?

Foi incrível ser coroado dessa forma! Levando em consideração a quantidade de atores incríveis que já deram vida a esse personagem. Depois desse veredito, eu recebi milhares de mensagens e e-mails do mundo inteiro, de fãs, admiradores do espetáculo e até mesmo, atores e produtores. Difícil mesmo é manter essa qualidade e o brilho nos olhos depois de tantos shows. Essa é a grande batalha do ator de teatro musical. Eu sou feliz por ter sido chamado, pela grande idealizadora, com esse título de o melhor do mundo, mas levo tudo isso com muita leveza e respeito aos demais colegas.

Tiago Barbosa no musical Mudança de Hábito. (Foto: Marcos Mesquita)

O Rei Leão é um grande marco da cultura popular e seus personagens são muito queridos. Qual foi a sua reação ao assumir o papel de Simba? Houve algum medo ou pressão?

Houve um medo do público! Quando eu comecei a receber milhares de mensagens no Facebook de fãs relatando suas experiências com o filme, sobre suas relações pessoais com pais e até mesmo da galera que já havia visto esse musical na Broadway mais de quatro vezes. Aí, foi a hora de parar de ler. Concentrar no meu trabalho e acreditar nos meus diretores americanos, que estavam me conduzindo. A pressão era muito grande! Tinha gente que me esperava no período dos ensaios fora do teatro para conversar… Era muito louco, no bom sentido, ver tudo isso. O Rei Leão de fato marcou uma geração! E eu me sinto honrado por ter dado a vida a esse personagem no Brasil.

Em quais aspectos trabalhar nesse musical impactou a sua vida, tanto pessoal quanto profissionalmente?

Não somente a minha vida mudou, mas como a da minha família também! Minha mãe era vendedora de pipas. E consegui dar para ela uma melhor condição. Eu me tornei mais chato comigo mesmo, mais perfeccionista e cresci muito como profissional

Quais são os maiores desafios em interpretar esse personagem no teatro? Como foi o seu processo de preparo?

Eu cheguei com muito medo e desarmado. Com 59 kg, sem técnicas, não tinha visto o espetáculo. Não sabia nem quem era o grande Fred Silvera, monstro do teatro musical. O Rei Leão é uma obra que todos conhecem. Todos sabem dessa história. Todo jovem que não tem pai deseja ter um Mufasa. Quem não sabe cantar “Hakuna Matata“? Não tinha como não ficar tenso. Eu tinha medo de estar aquém do esperado. Julie, em um dia de ensaio, me disse: “Seja você, seu sorriso, conte sua história para nós!” Depois desse ensaio, tudo mudou. Fui com tudo e com muita sede de aprender.

Tiago Barbosa canta “Noite Sem Fim

Conte-nos um pouco sobre a sua transição do Simba brasileiro para o espanhol. Quais são as dificuldades de atuar em outro idioma?

Cheguei à Espanha com muita sede, mas já havia estudado um pouco a característica dessa companhia, que estava há seis anos em cartaz e com uma rotina um pouco diferente da do Brasil. Eu cheguei aqui para ser cover, não protagonista. Mesmo com todo mundo sabendo do legado que eu tenho na grande Disney, o processo foi árduo. Muitos ensaios, até porque, eu, de verdade, tenho hoje outra percepção do que é show. Tive que aprender essa nova língua e dominá-la para que eu, então, pudesse ser o protagonista. E as dificuldades surgiram justamente por conta do idioma. O personagem aqui era também construído diferente. Mas o lance era falar o espanhol, sem sotaque brasileiro e sem estar parecendo forçado.

Existe um trabalho minucioso de adaptação do musical para cada país. Do que você mais gosta em cada uma dessas duas versões?

No Brasil, eu achava incrível, a cena do “Ela Vai Me Comer“, com todo aquele ritmo carnavalesco e com uma pitada de capoeira. Assim como “A Morte de Mufasa“. Aqui, eu acho super bacana o momento em que Timão e Pumba dançam e cantam para distrair as hienas. Eles são muito bons. E também o Zazu, que é considerado o melhor do mundo. No Simba do Brasil, a make era com mais brilho, mais reluzente, mais juvenil. Assim como a roupa era mais curta. Aqui na Espanha, ele é mais adulto. Eles tentam preservar meu tom de pele, sobretudo no rosto.

No próximo ano, teremos uma readaptação de O Rei Leão nas telonas. Se você tivesse a chance de participar do longa, qual personagem gostaria de ser? Por quê?

O Simba. Depois de tanto tampo no teatro seria um super desafio ir para as telona. Adoro desafios!

Tiago Barbosa no musical Cinderella (Foto: Marcos Mesquita)

De algum modo, você se identifica com a personalidade do Simba? Existe algo em comum entre o personagem e o ator?

Sim, nos encontramos em algumas partes. O amor dele com o pai seria uma delas.

A Disney possui muitos musicais marcantes em seu catálogo. De qual outro espetáculo, você tem interesse em fazer parte do elenco?

Aladdin e Frozen.

Quais são os seus conselhos para quem deseja seguir uma carreira na música e/ou teatro ou para quem deseja fazer uma transição de carreira?

Estude o mercado. Estude para ser o melhor, o imprescindível. Esqueça essa coisa horrível de ficar pedindo conselhos para qualquer um. Existe muita gente ruim e invejosa. Cuidado para que seu desejo vaidoso não seja confundido com um grande sonho. Sonho é aquilo que motiva a sua alma e o coração palpita, arrepia… Por outro lado, cuidado para não ficar sonhando de mais e ficar vendo a banda passar. Existem momentos que temos que colocar os sonhos dentro de uma caixinha e ir vivendo a realidade, até que haja um caminho e uma direção para dar asas aos sonhos!

Escrito por Lucas

Um grande aficionado por cinema, séries, livros e, claro, pelo Universo Disney. Estão entre os seus clássicos favoritos: "O Rei Leão", " A Bela e a Fera", " Planeta do Tesouro", "A Família do Futuro" e "Operação Big Hero".