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Biblioteca da Fera | Resenha do livro A Rainha das Neves

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Não há fã da Disney que não conheça a letra de “Livre Estou” de cor. Frozen: Uma Aventura Congelante chegou às salas de cinema em 2013 e se tornou um fenômeno da noite para o dia.

Como quase em todo filme Disney, o roteiro do filme foi inspirado em um conto de fadas clássico, A Rainha das Neves, escrito pelo dinamarquês Hans Christian Andersen. O que poucos sabem, porém, é que a história de Andersen, publicada pela primeira vez no dia 21 de Dezembro de 1844, é composta na verdade de sete contos.

São eles: Que trata de um espelho e de seus fragmentos; Um menino e uma menina; O jardim da mulher que sabia magia; O príncipe e a princesa; A pequena ladra; A mulher da Lapônia e a mulher da Finlândia; e O que aconteceu no palácio da Rainha das Neves e o que se passou depois.

Em resumo, o conto de fadas conta a história de duas crianças, um menino e uma menina, que se amam como irmãos, mas que são separados quando a Rainha das Neves leva o garoto para seu reino. A garota terá que reunir toda a sua coragem e partir em uma jornada em meio à muita neve para salvar seu amigo.

Falaremos com muito mais detalhes sobre os contos a seguir, para podermos compará-los com a aventura de Anna, Elsa e Kristoff. Por isso, para evitar spoilers, corra e leia a história de Hans antes de continuar lendo a matéria. Nada substitui a leitura integral do conto original!

Os direitos de A Rainha das Neves já estão em domínio público, por isso, é muito fácil encontrar boas versões da história gratuitamente online. Essa história não poderia combinar mais com o nosso frio de Julho. Se enfie embaixo de cobertas, prepare seu chocolate quente e não deixe de dizer o que achou nos comentários. Prontos?

Que trata de um espelho e de seus fragmentos

O primeiro conto é bem curtinho e possui uma trama conhecida para quem assistiu aos episódios temáticos do seriado Once Upon a Time (2011-hoje). Fala sobre um grande feiticeiro, em forma de ogro, que construiu um espelho mágico, o qual só mostraria o pior das coisas e pessoas. Ele correu o mundo com sua invenção até ter a ideia de levá-la aos céus, para que os anjos pudessem se ver distorcidos.

Enquanto voava ao alto, o espelho caiu e se espatifou no chão. Seu milhares de fragmentos, alguns pequenos como grãos de areia, outros grandes como vidraças, se espalharam sobre a Terra. As pessoas cujo os olhos foram acertados por um caco, passaram a ver tudo com amargura. E aqueles, ainda menos afortunados, que tiveram o coração acertado por um estilhaço, passaram a ter um coração de gelo.

Um menino e uma menina

Nossa aventura agora se passa em uma cidade grande, onde duas crianças, vizinhas uma da outra, formavam uma grande amizade. Se gostavam como irmãos e seus nomes eram Kay e Gerda. Em uma noite de inverno, o garoto vê um floco de neve se transformar em uma bela feiticeira de gelo.

Ela acena para ele e, no verão seguinte, o coração e olhos de Kay são acertados por fragmentos do espelho. Logo, o doce menino passa a tratar todos com grosseria e violência, só via defeitos nas brincadeiras que antes o divertia com Gerda. Durante um dos dias de inverno, Kay se perde enquanto brinca de trenó e, quando percebe, está no reino da Rainha das Neves.

A rainha beija Kay duas vezes, pois três o matariam. Uma vez para torná-lo insensível ao frio, e outra para que se esquecesse de Gerda e sua vida na cidade. A descrição da rainha muito nos lembra a feiticeira do filme As Crônicas de Nárnia: O Leão, A Feiticeira e O Guarda-Roupa (2005), com sua postura elegante e vestimentas feitas de peles. Além disso, ambas tratam seus hóspedes, Edmundo e Kay, muito bem, inicialmente.

Em roteiros iniciais de Frozen, Elsa realmente foi pensada como sendo a Rainha, sendo também a vilã do filme. Na versão final, porém, as duas nada têm em comum além do fato de viverem isoladas em um castelo de gelo. Só nos resta imaginar como seria um filme no qual a vilã é também a protagonista.

O jardim da mulher que sabia magia

Enquanto isso, todos na cidade começaram a achar que Kay havia morrido, provavelmente afogado no rio. Gerda até mesmo tenta oferecer ao rio seus sapatos em troca do amigo. Ela jogou o par de sapatos vermelhos nas águas, mas elas não o aceitaram, pois sabiam que Kay estava vivo.

Sem saber onde mais procurar ou o que fazer, ela sobe em um barco e parte em busca do amigo. A pobre menina tem medo da aventura, mas a correnteza não dá chance para desistir. Gerda com certeza é nossa Anna, destemida e otimista.

A garota pede por socorro ao passar em frente a uma casa e uma bondosa senhora a ajuda. Mal sabe Gerda, mas aquela, na verdade, é uma feiticeira que há muito tempo desejava uma menina para lhe fazer companhia. Ao pentear os cabelos da menina, faz com que ela se esqueça de Kay. O tempo passa, e Gerda se distrai com o belo jardim da bruxa que a acolheu.

Curiosamente, não há roseiras lá. Ela foram destruídas para que a garotinha nunca pudesse se lembrar de sua vida passada e seus amigos, já que rosas eram as flores que tinham entre suas casa. De volta ao jardim, Gerda chora. Quando suas lágrimas tocam o solo, uma roseira nasce e ela se lembra de sua missão. Ao melhor estilo Alice no País das Maravilhas (1951), começa a perguntar para as flores se sabem o paradeiro de seu amigo. O jardim responde com canções que, para a menina, não fazem o menor sentido.

O príncipe e a princesa

Já é outono quando Gerda deixa os jardins da bruxa e continua sua busca na floresta. Cansada, ela encontra um corvo que, claro, é capaz de falar. Sendo assim, o pássaro diz ter visto alguém que poderia ser o menino que a garota procura, Kay estaria morando no castelo da princesa.

Qual princesa?”, você deve estar se perguntando. O corvo conta que em um castelo das redondezas mora uma princesa que sonha em se casar. Porém, seu noivo não deve ser alguém apenas belo, nobre ou metido, e sim, alguém inteligente, que saiba conversar de igual para igual com a princesa.

O corvo e sua noiva levam Gerda até o castelo. A garotinha entra no palácio e se deslumbra com sua decoração, feita com cetim e cristais. Por um instante, vê a nuca de um garoto que dorme e acredita ter encontrado Kay. Para sua decepção, é apenas o belo príncipe.

Ela conta ao casal real toda a sua história. Os dois se compadecem e a ajudam da melhor forma que podem: oferecendo, para Gerda, cama, comida, roupas quentes e uma bela carruagem para continuar sua busca.

A pequena ladra

Alguns contos dessa história parecem soltos, sem real propósito que não seja proporcionar à garota encontros conveniente com criaturas ou pessoas que a possam equipar ou dar mais informações, e esse não é diferente.

Gerda é surpreendida por um grupo de ladrões que a confundem com a princesa, já que viaja em uma bela e brilhante carruagem. Ela é levada ao palácio dos ladrões, onde uma garotinha do grupo a toma como companhia e pede que ela conte sua história.

Os pombos que ali estão, e tudo ouvem, logo dizem saber onde Kay está. Dizem que o garoto está com a Rainha das Neves, em seu palácio no Pólo Norte. A pequena ladra se comove e decide libertar Gerda.

Ela também lhe dá comida e roupas quente para poder continuar sua busca. A garota, porém, não continuará sua jornada só. Ela irá montada em Sven – quer dizer, em uma rena falante que claramente foi a inspiração para o melhor amigo de Kristoff.

A mulher da Lapônia e a mulher da Finlândia;

“Eu não seria capaz de a dotar de um poder mais forte que aquele que ela já possui. Não estás a ver tão grandiosa que ela é? Não vês que os animais e as pessoas são forçados a servi-la e que, tendo partido descalça, atravessou venturosamente o grande mundo? Não é de nós que poderá receber o seu poder; ele está no seu coração e vem-lhe do facto de ser uma criança inocente. Se não for capaz de chegar até ao palácio da Rainha das Neves e de tirar de Kay os dois fragmentos de vidro, não será de nós que lhe poderá vir auxílio.”

Gerda continua sua jornada, e chega na casa e uma mulher da Lapônia. Ela ajuda a garota a se aquecer e ao ver onde a menina deseja ir, indica a casa de outra moça, uma finlandesa que poderá ajudá-la melhor.

Já na casa da mulher da Finlândia, a rena conta a história da garotinha e pergunta se a moça não poderia fazer uma poção para ajudá-la a ser forte e derrotar a rainha. Ela, então, diz que a menina já possui todo o poder que precisa, em seu coração. Por ser uma criança, de alma pura, deve conseguir tirar os fragmentos de vidro do coração e olhos de Kay, libertando-o do encantamento da feiticeira.

É interessante perceber como a religião está presente no conto, ao contrário do que acontece na animação – ou em qualquer outro desenho Disney com exceção de O Corcunda de Notre Dame (1996). Além da presença de demônios e anjos no início, os personagens rezam o Pai Nosso todo o instante para se sentirem seguros.

Durante essa história, temos também a chance de ver como a nacionalidade de Hans o influenciou. Aos descrever paisagens, para eles tão corriqueiras por ser de um país nórdico, nos leva ao que parece ser um mundo encantado, feito de gelo e aurora boreal, tão diferente de nosso Brasil tropical.

O que Aconteceu no Palácio da Rainha das Neves e o que se passou depois

O palácio da Rainha, assim como o de Elsa, era frio e vazio. Ela vive em solidão, sentada em seu trono de gelo sobre um lago congelado, Kay lhe faz companhia. Ele não se lembra de sua vida passada e está quase congelando de frio, literalmente. A feiticeira lhe dá cacos de gelo para se distrair, diz que se ele conseguir formar a palavra ‘eternidade’, será livre outra vez. É claro que o garoto não consegue.

Para a sorte de Kay, a rainha parte em sua jornada de levar neve aos países mais quentes e deixa-o sozinho. É, então, que Gerda o encontra e quebra o feitiço. Ela abraça o amigo e, ao chorar por perceber sua condição, suas lágrimas expulsam o fragmento de espelho que partia seu coração.

“Permaneceram durante muito tempo sentados, dando as mãos. Tinham crescido e, apesar disso, continuavam a ser crianças, crianças nos seus corações. Era Verão. O Verão quente e abençoado.”

O menino chora, e o caco em seus olhos, que distorcia sua percepção, sai. A cada beijo de Gerda em suas bochechas e mãos, seu corpo se aquecia mais e mais. Juntos, eles formam ‘eternidade’ no gelo, se dão as mãos e partem de volta para sua cidade, onde nada parece ter mudado e toda sua aventura não parece mais do que apenas um sonhos distante.

Ler contos antigos sempre leva nossos corações ao belo mundo da nostalgia, onde mesmo as histórias mais são lidas sob um filtro de magia e parecem ainda mais encantadoras. A Rainha das Neves é mágico assim.

Talvez o único detalhe decepcionante seja o fato de a rainha não ter grande papel na trama, não sabemos nada sobre seu passado ou o porquê de manter Kay consigo. De fato, ela nem ao menos se mostra uma real vilã, já que em momento algum se revela um obstáculo para Gerda.

Nesse pontos, Frozen ganha pontos extras. Porém, apesar de gostar da mensagem principal que Anna e Elsa nos trazem, na qual o amor fraternal é o mais forte de todos, acho que o conto original também teria rendido uma boa aventura.

Confesso que não conhecia o conto e fiquei surpresa ao me deparar com uma história dessa época, na qual a menina parte em uma aventura para salvar um menino.

Quero agora saber a opinião de vocês, Camundongos! Gostaram do conto original? Eu fiquei encantada e mal posso esperar para ler todos os outros que inspiraram as animações que tanto amamos!

Escrito por Caroline

Designer Gráfico, Disney freak, viciada em café, quer ser roteirista e princesa quando crescer. Têm mais livros do que deveria e leu mais vezes “Orgulho e Preconceito” do que têm coragem de admitir.

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