Pixar Animation Studios. Um estúdio de renome e geralmente associado à qualidade e originalidade. Ao longo de vinte anos, fomos levados a conhecer e explorar diversos mundos e inúmeras possibilidades, desde brinquedos ganhando vida na ausência de humanos até emoções se perdendo na mente de uma garotinha.
Então, é estranho notar a ausência dessas duas tão importantes marcas em sua mais recente produção, O Bom Dinossauro. A premissa é simples: o asteroide responsável por extinguir os dinossauros errou a Terra, e como consequência, os humanos nunca a dominaram ou evoluíram. A criatividade da trama começa e termina em uma única frase.
Depois do prólogo, somos apresentados a Arlo e à sua família, porém, ao contrário de outros protagonistas, como Sulley ou Carl Fredricksen, falta carisma ao bom dinossauro. Por ser o caçula e o menor dos irmãos, Arlo é medroso ao extremo — isso o torna irritante e difícil de se afeiçoar e simpatizar — e seu medo inicia uma enorme reação em cadeia, culminando na morte de seu pai.
Spot, por outro lado, é o grande — e talvez o único — do longa-metragem. Embora seu comportamento canino seja cientificamente incorreto, é muito fácil se deixar levar por seu charme e personalidade atrevida. E, felizmente, sua presença acaba transformando a jornada de Arlo em algo mais prazeroso de se acompanhar.
O principal problema da animação, no entanto, não reside nos personagens, e sim, no roteiro. Meg LeFauve, roteirista de Divertida Mente (2015), entrega um trabalho preguiçoso, vazio e fragmentado. Ao invés de contar uma história única, a trama parece ter sido dividida em capítulos sem muita conexão entre si.
Por exemplo, temos o capítulo de apresentação da família; o da introdução do Spot; o do acidente no rio; e assim por diante. A divisão fica mais perceptível a partir dos encontros de Arlo com outros dinossauros, onde surge algum conflito, o qual é resolvido e ele segue sua viagem, sem haver um impacto significativo em seu desenvolvimento.
Há também claras referências aos filmes do Walt Disney Animation Studios, entre elas as mais notáveis são O Rei Leão (1994), Lilo & Stitch (2002) e Irmão Urso (2003). Embora não exista problema na reutilização de ideias, afinal a primeira das obras citadas se inspira em “Hamlet” de Shakespeare, não houve um cuidado para oferecer uma nova visão para elas.
Detona Ralph (2012), na verdade, se baseia em um princípio idêntico ao de Toy Story (1995), no qual objetos inanimados ganham vida quando humanos não estão por perto. Todavia, nesse caso, as semelhanças quase não se notam porque as diferenças são muito maiores, tanto em questão de cenários e personagens quanto em arcos narrativos e reviravoltas.
Com O Bom Dinossauro, isso não ocorre. Quem assistiu aos clássicos da Disney, com certeza, saberá prever o desfecho da história após quinze minutos. LeFauve segue a cartilha de forma idêntica, logo, se torna cansativo observar Arlo cometer os mesmos erros e enfrentar os mesmos problemas para deixar a sua marca no mundo.
Apesar da indecisão da roteirista quanto ao gênero, intercalando uma cena de comédia entre as mais dramáticas, há dois momentos comoventes. O primeiro deles é bem conhecido, pois foi usado em excesso na campanha de divulgação, com Arlo e Spot brincando com os vaga-lumes e, em seguida, a “conversa” sobre família e a saudade dos pais de ambos.
Facilmente, essa breve troca de olhares e gestos entre os dois figuraria em uma lista de melhores cenas do estúdio, porque é algo genuíno, onde os sentimentos dos personagens falam mais alto, sem a necessidade de diálogos expositivos ou de exageros. Aqui, os personagens conduzem a história e não o contrário.
Talvez, por esse motivo, o segundo momento seja tão incoerente. Durante cem minutos, vemos Arlo e Spot criando laços e construindo uma amizade aos poucos, para, no final, eles serem separados. Nesses vinte anos, vimos o estúdio ressaltando a importância da amizade, equiparando-a à da família, no entanto, dessa vez, ignoraram essa questão.
Incluir uma família de humanos foi uma forçada reviravolta com o intuito de levar os espectadores às lágrimas. Pelo histórico e lógica do estúdio, Spot deveria permanecer com Arlo e sua família, além de humanos sempre adotarem cachorros. Ou seja, não havia razão para essa surpresa, com a exceção de transmitir a mensagem de manter semelhantes reunidos.
Quanto ao aspecto visual, o estúdio inovou e apresentou cenários deslumbrantes, mas teria sido melhor remanejar um pouco dos esforços gastos em criar montanhas e rios realísticos para corrigir os erros e aparar as arestas do roteiro. O Bom Dinossauro, por fim, divertirá crianças e alguns adultos, contudo, está longe do nível de qualidade e originalidade dos seus antecessores.