Clássicos na Crítica | Nem que a Vaca Tussa

Nem que a Vaca Tussa é o quadragésimo quinto filme do Walt Disney Animation Studios, lançado em 2004 e considerado por muitos o pior filme da Disney e a razão do desandamento dos filmes em animação tradicional. Ao contrário do que muitos pensam, ele não é bobinho se você analisá-lo a fundo e encaixá-lo no contexto no qual foi criado.

A história do filme é a seguinte: depois de todo o rebanho da fazenda Dixon ter sido roubado pelo Alameda Slim e os irmãos Willy, Maggie — uma vaca grande de cabeça dura e animada — teve que ser transferida da fazenda, porque seu dono não tinha como sustentar a terra e o animal. Então, ela vai para a Pedacinho do Céu, uma fazenda em que todos os animais vivem em harmonia e lá ela conhece as vacas Calloway e Grace.

No mesmo dia, o xerife da cidade, Sam Brown, vai à fazenda montado em seu cavalo, Buck para entregar a terceira notificação do banco que, se a dona da fazenda, Pearl Gesner, não pagar a dívida, sua terra irá a leilão. Nesse ponto, começa o primeiro desafio do filme que é a tentativa de sanar a dívida. Chateada com o que aconteceu, Pearl entra para dentro de casa e a novata Maggie tem uma ideia.

Maggie, Grace e a senhora Calloway vão para a cidade em busca de Buck para que ele adie a data da notificação de três dias para que dê tempo de elas conseguirem um dinheiro na feira agropecuária que premia os animais mais bem-cuidados e que Maggie conhecia bem, pois ela era uma vaca premiada.

Ao conhecer a cidade, elas se assustam devido ao barulho, e se metem numa situação engraçadas com dançarinas de bar e quando, finalmente, encontram com Buck, ele se recusa a fazer aquele favor, devida à sua personalidade de cavalo — se é que vocês me entendem. Ao notarem que as ideias de salvar a fazenda estavam se esgotando, as três vacas veem Rico, um famoso “herói”, pegando mais um bandido e recebendo a grana do xerife.

Eis que, então, após ouvir que o xerife daria 750 dólares — valor necessário para recuperar a fazenda — para quem capturasse o Alameda Slim, Maggie sugere a ideia de pegarem o vilão e usarem o dinheiro para pagar a dívida. Claramente, a senhora Calloway se opões à ideia, porém, elas acabam indo em direção a uma boiada ao serem amarradas em uma carroça.

Quando chegam lá, elas presenciam Alameda Slim e os Willies hipnotizando cinco mil cabeças de gado — em cenas semelhantes ao desfile dos elefantes em Dumbo (1941) —, incluindo Maggie e a senhora Calloway, mas Grace consegue segurá-las para que não entrassem no feitiço do tiroleio. Após perceberem o que aconteceu, elas seguem na sua busca pelo Slim.

No entanto, nesse meio tempo, Rico e Buck — cavalo que foi trocando pelo Rico após ficar agitado perto das vacas — também estão atrás do vilão. Afinal, quem é Alameda Slim? De dia ele é o famoso latifundiário Yodel, comprador nos leilões das fazendas e de noite ele é o rei do tiroleio. Tudo isso devido a um rancor que, após trabalhar nos ranchos mais chiques, os latifundiários não reconheceram seu trabalho, então, ele resolve se vingar comprando cada pedaço de terra

Nesse momento, quando ele explica sua situação de raiva, percebe que um pedacinho de terra estava escondido no mapa graças a um de seus sobrinhos que se sentava sempre no mesmo lugar. E eis que essa pedaço era a fazendo Pedacinho do Céu — que foi colocada para leilão —, mesmo que pequena, seu desejo de possuir aquela terra é inegável.

Enquanto isso, as vacas começam a seguir as pegadas de Buck, mas por conta de uma chuva, elas acabam perdendo as pegadas e tentam sobreviver à tempestade, lutando para achar um pedaço de terra que esteja acima do nível d’água. Maggie e senhora Calloway discutem e cada uma resolve tomar seu caminho, assim que a água abaixar.

No dia seguinte, elas conhecem Jack, o coelho da sorte que também foi expulso de sua fazenda e que sabe onde o vilão está, e isso motiva as vacas a voltarem a buscar pelo Slim. Senhora Calloway, por sua vez, se opões à ideia de novo, mas Maggie a convence quando diz que após conseguirem o dinheiro, ela irá embora da Pedacinho do Céu.

Na Mina do Eco, onde Slim e os Willies estão, chega o senhor Weasley para comprar as cinco mil cabeças de gado. No mesmo momento, as vacas, Jack e Buck chegam ao local, mas Junior, búfalo do Alameda Slim, permite somente a entrada das vacas ,e então, após entrarem, começam a planejar como irão capturar o vilão sem serem hipnotizadas pelo tiroleio.

Durante o momento de pegar o vilão e levá-lo para a justiça, elas descobrem que o Rico trabalhava para o Slim, encobrindo suas pistas. Buck, que tinha virado o corcel de Rico, se decepciona ao descobrir a verdadeira identidade de seu herói e ajuda as vacas escaparem do trem no qual estavam presas.

Quando perceberam que o Slim já havia ido comprar a Pedaço do Céu, as vacas se sentem desmotivadas e dessa vez, a senhora Calloway é quem ajuda Buck, Grace, Maggie e Jack a dirigirem o trem até a fazenda.

Ao chegarem na fazenda com um trem desgovernado, todos os animais começam a atacar o Alameda Slim até revelarem aos humanos sua verdadeira identidade. O vilão é preso e as vacas ficam com a fazenda, incluindo Maggie, que é convidada a ficar na Pedaço do Céu.

A história não é ruim. Não é um conto de fadas, mas tem todos os elementos Disney  — motivação, superação e correr atrás dos seus objetivos — e traz uma mensagem bem bacana sobre a mudança de um lugar e não desistir de seus objetivos, independente de quem ou o que você seja. Agora, vamos inserir o filme no contexto.

O filme começou a ser produzido em 2001, o ano em que foi marcado nos Estados Unidos pelo atentado de 11 de Setembro. Logo, vocês tem influências diretas, como a canção “Vai o Sol Outra Vez Brilhar?” que, de acordo com Alan Menken, foi exatamente inspirada nesse momento. Será que depois de tempos difíceis ainda teremos algo bom?

Então, o filme em si tem esse elemento da volta às origens dos Estados Unidos e leva em conta a questão de superação após um momento ruim. Porém, assim como A Nova Onda do Imperador (2000), Nem que a Vaca Tussa (2004) passou por uma mudança de história. A ideia original era que Jack, o coelho, seria o protagonista, que lutaria contra o Alameda Slim e os Willies, que eram uma gangue de ladrões fantasmagóricos que armaram para roubar rebanhos de gado.

O nome seria Sweatin Bullets (Suando Frio, em tradução livre), mas devido a questões de classificação indicativa — seria um filme para maiores de 13 anos, graças às possíveis cenas com sangue —, eles mudaram a história e imagino que também foi feito para refletir o momento que a sociedade estadunidense estava passando.

Bom, pra mim, existem vários pontos relevantes e ultra positivos no filme. Um deles é a música. A trilha sonora, feita por Alan Menken, foi o último trabalho dele entre o período de Renascença (1989-1999) e Renascimento (2009-hoje). Pelas notas e harmonia das músicas, você percebe que foram compostas por ele.

O estilo é aquele country bem americano, com vários tons de bandolim e as letras são imersas nesse universo do interior e sertão. São melodias gostosas e que encaixam perfeitamente com cada momento do filme.

E claro, o outro ponto relevante e positivo é a dublagem brasileira que é sensacional. Para alguns o filme pode até ser ruim, mas é inegável que a dublagem é impecável. Na minha opinião, superior a Frozen: Uma Aventura Congelante (2013). Cláudia Rodrigues interpreta Maggie; Fernanda Montenegro, a senhora Calloway; e Isabela Garcia, a jovem Grace.

Foi um trio que deu certo. Suas personalidades são bem refletidas nas personagens, existe o equilíbrio perfeito entre a comédia, a sabedoria e os desafios. Nada foi perdido no quesito de dublagem, tudo foi bem adaptado para o espaço, ou seja, você tem o sotaque de interior, mas não é aquela coisa forçada e debochada, mas sim o sotaque “de raiz”.

Bom, eu acho que valeria a pena todos assistirem novamente ao longa pensando nesses pontos levantados na crítica. Vale a pena dar uma nova chance ao filme. Eu entendo que muitos críticos o insultem falando que ele está perto de O Caldeirão Mágico (1985) no quesito de desastre, mas se olharmos mais profundamente, Nem que a Vaca Tussa (2004) possui sua beleza e sua história, que, como tudo na Disney, possuem sua magia.