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Venho de um lugar
Onde sempre se vê
Uma caravana passar
Vão cortar sua orelha
Pra mostrar pra você
Como é bárbaro o nosso lar
Sopram ventos do Leste
O Sol vem do Oeste
Seu camelo quer descansar
Pode vir e pular
No tapete voar
Noite árabe vai chegar
A noite da Arábia
E o dia também
É sempre tão quente
Que faz com que a gente se sinta tão bem
Tem um belo luar
E orgias de mais
Quem se distrair pode ate cair
Ficar para trás
Eu tive que colocar a letra completa de “A Noite da Arábia” pra introduzir essa crítica. Ela diz tudo sobre “Aladdin” e sobre o que o expectador virá a ver durante o filme. Os clássicos Disney, principalmente na década de 90, sempre procuraram explorar, em cada um dos seus filmes, uma cultura, país ou época diferente. Essa busca incessante por tramas e ambientes variados criou um leque de possibilidades e de universos à se explorar muito grande para o estúdio. Só na década de 90 passamos pela China antiga, a França camponesa do século XVIII, pela Grécia antiga, pela savana africana e muito mais. É claro que “Aladdin”, que chegou aos cinemas em 92, não seria diferente. Com uma trama que se passa nas arábias, em um reino fictício chamado Agrabah, acompanhamos uma das histórias mais mágicas e com mais “elementos místicos” da Disney. Além de toda a caracterização do reino, como detalhes de arquitetura, decoração e figurino típicos do oriente médio, elementos típicos das histórias das Mil e Uma Noites estão presentes na trama, como o tapete voador, a lâmpada mágica, o Gênio e a Caverna dos Tesouros.
O filme conta a história de Aladdin, um ladrão que acidentalmente se apaixona pela princesa Jasmine, filha do sultão do reino em que vive. Porém, enganado pelo conselheiro do reino, Jafar, uma espécie de feiticeiro árabe, Aladdin acaba na lendária Caverna dos Tesouros, à procura de uma misteriosa lâmpada mágica que abriga um gênio com o poder de realizar três desejos para quem o libertar. Porém Aladdin não sabe que Jafar quer o poder do gênio para si. Por trás dessa trama, somos apresentados a Jasmine, uma das mais belas princesas Disney e com uma personalidade fortíssima, que sofre por viver presa em seu palácio e ter que escolher um marido às pressas por ordem de seu pai. Ao terminar preso na caverna e em posse da lâmpada mágica, Aladdin recebe a chance de realizar três desejos. É aí que a trama fica interessante, já que o astuto ladrão, com a ajuda do Gênio, decide se passar por príncipe e conquistar a princesa Jasmine.
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Sério, essa foi a melhor sinopse que consegui produzir sobre “Aladdin”. Afinal, é um filme com uma trama cheia de reviravoltas e muito corrida. Aliás, considero esse o único ponto fraco do longa. Não pela trama ser acelerada e um tanto quanto detalhada, mas sim pela edição. Pode ser impressão minha, mas em vários momentos do filme me pego irritado com cortes brutos e transições corridas. É diferente da edição primorosa vista em Mulan, O Rei Leão ou até mesmo A Bela e a Fera, que veio antes de “Aladdin”, por exemplo. Sinceramente, prefiro pensar que eles deram menos atenção à edição para focar na edição de som. Convenhamos, “Aladdin” é um show de sons. Desde cenas mais simples, como as do mercado da cidade, até as mais complexas e grandiosas como a fuga da Caverna dos Tesouros (que usa de forma belíssima a computação gráfica, tecnologia inovadora na época) ou mesmo o clímax, todas possuem sons detalhados de pratarias, animais, fogo, vento, areia e vozes. Não é a toa que o filme concorreu ao Oscar de Melhor Som e Melhores Efeitos Sonoros!
Ainda falando de sons, impossível não falar bem da trilha sonora do filme, não é? As músicas, escritas pelo já famoso compositor da Disney, Alan Menken são, em sua maioria, marcantes e gostosas de se ouvir. Das seis canções que aparecem no filme, 3 foram escritas por Howard Ashman, que infelizmente faleceu durante a produção do filme e teve seu trabalho concluído por Tim Rice, que compôs o restante das músicas do filme ao lado de Menken. Entre as músicas do filme destaco a já citada no início dessa crítica, “Noites da Arábia”, que serve como introdução para a história do filme e a linda “Um mundo Ideal”, tema romântico de Aladdin e Jasmine, em uma das cenas mais românticas e apaixonantes da Disney. Só acho “Correr Pra Viver”, cantada por Aladdin em sua primeira cena, uma música fraquíssima e com uma musicalidade nada forte.
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Trailer original de cinema de 1992:
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Versão semelhante dublada em português:
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Porém cito a canção “Amigo Insuperável”, cantada pelo Gênio, como a melhor do longa. Além de divertidíssima, seu número musical é cheio de referências à cultura pop mundial da época do lançamento do filme. Claro que muita coisa só os adultos entendem, mas quem disse que a cena perde a graça por isso? As caras e bocas e imitações que o Gênio faz são impagáveis e nos fazem dar boas risadas a todo tempo. Para quem não sabe, o dublador do Gênio na versão original do filme é Robin Williams, que foi elogiadíssimo por sua interpretação vocal nesse filme exatamente por essas imitações de celebridades e pessoas famosas. O Gênio imita Arnold Schwarzenegger, Ed Sullivan, Robert De Niro e Jack Nicholsonm, entre outros. Claro que muito dessas sacadas à celebridades americanas foi perdida na versão dublada do filme, porém nem por isso a qualidade de dublagem se tornou inferior. O substituto de Robin Williams no Brasil, Márcio Simões, fez um trabalho excelente e conseguiu interpretar um Gênio tão engraçado quanto o do ator americano.
Por falar no Gênio, “Aladdin” está cheio de personagens engraçados. Desde Abu, macaquinho companheiro de Aladdin, até Iago, papagaio comparsa de Jafar em suas maldades. Todos eles roubam a cena em vários momentos engraçados e marcantes (o mau humor e as imitações de Iago faz dele um dos meus personagens favoritos). Acho esse um ponto positivo do filme: há uma quantidade muito grande de personagens na história, o que muitas vezes prejudica a trama de um filme pelo fato de não ser possível explorar todos os personagens de forma aceitável. Porém em “Aladdin” conhecemos e somos cativados por basicamente todos os personagens principais na trama. Até mesmo Rajah, tigre de estimação de Jasmine que pouco aparece na trama é apaixonante e o tapete mágico, que nem fala ou produz um som qualquer, consegue impor sua personalidade no filme.
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“Aladdin” é um filme que tinha tudo para entrar em uma atmosfera um pouco mais “obscura” do que é, como aconteceu com O Corcunda de Notre Dame. Como a própria música de abertura diz, a arábia é bárbara e quem se distrair pode cair e ficar para trás. A violência e o “sangue quente” árabe são retratados no filme sim, mas de forma discreta. Decapitações são sempre comentadas e utilizadas na trama como opções de castigo para os ladrões do reino. A própria princesa Jasmine quase tem a mão decepada em uma cena do filme! Porém toda essa violência é tratada de forma leve, ou os pais das crianças da época jamais permitiriam que seus filhos assistissem algo violento. A preocupação com isso é tão grande que até “Noites da Arábia” foi modificada quando o filme chegou ao VHS, pois uma organização árabe protestou contra o trecho “vão cortar sua orelha pra mostrar pra você como é bárbaro nosso lar” da música. No final o trecho foi substituído por “é uma imensidão, o calor e a exaustão, como é bárbaro nosso lar” e até hoje é essa versão que ouvimos no DVD lançado pelo estúdio em 2004.
Por falar em violência, considero Jafar um dos melhores vilões da Disney. Seu jeito manipulador de ser (assim como sua dublagem e trejeitos) me lembram muito meu vilão favorito, Scar, de O Rei Leão. Só acho Scar muito superior a ele, mas deixemos Scar para outro dia… Acho que acertaram ao criarem não um vilão, mas um vilão e um ajudante. Iago completa a maldade de Jafar de forma brilhante e isso só faz dele um vilão ainda mais legal de se assistir. Mas não é Jafar o personagem mais interessante do filme. Aladdin é, na minha opinião o destaque e é onde está a mensagem do longa. Desde o início da busca de Jafar pela lâmpada mágica sabemos que só um “diamante bruto” poderia entrar na Caverna dos Tesouros e pegar a lâmpada. E é óbvio para todo mundo que o tal “diamante bruto” é Aladdin.
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Aladdin é um personagem inocente e de uma personalidade bondosa até em excesso. Ele deixa de comer e passa fome para poder ceder seu meio pedaço de pão para um casal de crianças de rua. Sem falar que assim que descobre o sonho paradoxal do Gênio, Aladdin promete realizar tal sonho como seu terceiro desejo. Me diga: Se você tivesse três desejos, você realmente desistiria de um para poder ajudar o Gênio da lâmpada a se libertar? Eu tenho minhas dúvidas. Não é a toa que Aladdin é facilmente enganado e manipulado por Jafar durante parte do filme. Apesar disso, seu lado “ladrão de ser” se sobrepõe à sua personalidade ingênua e inocente. Aladdin possui uma lábia e um, digamos, “jogo de cintura” típico de ladrões e moradores de rua, que o ajuda a sair rápido de situações difíceis e ainda tirar proveito delas! O filme todo não passa de um uma sucessão de situações difíceis, dribladas de forma esperta por Aladdin. É assim na fuga dos guardas do reino, na saída da caverna usando os poderes do Gênio, ao voltar ao reino fingindo ser um príncipe e até no final, quando derrota Jafar. É a lábia de garoto de rua que o livra dessas dificuldades. No final, “Aladdin” se trata de um filme sobre um ladrão inocente e seus planos para se tornar alguém e deixar de ser apenas um “lalau” da rua. É sobre o processo de lapidação de um diamante bruto. Nós bem que poderíamos aprender com Aladdin a procurar o melhor de nós mesmos e lapidarmos o nosso próprio diamante bruto não? Afinal, existe todo um mundo lá fora. Cabe a nós decidir se vamos vê-lo como uma arábia brutal e bárbara ou como um mundo ideal cheio de encanto e beleza onde é possível apreciar de um tapete a voar…
Olha eu vou lhe mostrar
Como é belo este mundo
Já que nunca deixaram o seu coração mandar
Eu lhe ensino a ver todo encanto e beleza
Que há na natureza num tapete a voar!
Um mundo ideal
Um privilégio ver daqui
Ninguém pra nos dizer o que fazer
Até parece um sonho
Um mundo ideal
Um mundo que eu nunca vi
E agora eu posso ver e lhe dizer
Estou num mundo novo com você
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Fique de olho para os próximos especiais dos “Clássicos na Crítica“!
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