Desde sua estreia, a série Demolidor vem conquistando cada vez mais admiradores e agradando críticos. Garantiu uma segunda temporada e uma grande torcida para que o personagem apareça em Capitão América – Guerra Civil. Será?
Se ainda não assistiu, sugiro que pare por aqui, pois o texto a seguir contém spoilers. A primeira temporada completa está disponível online na rede Netflix e, se precisar de motivos para assistir, não deixe de ler nossa matéria: Demolidor – Primeiras Impressões. Boa maratona, Camundongo!
“Não busco penitência pelo que fiz. Peço perdão, pelo que vou fazer.”
Matthew Murdock
Into The Ring, como todo episódio piloto, dita o tom do seriado apresentando personagens e tramas principais. Começa nos mostrando o acidente que dá origem à deficiência visual e habilidades aguçadas de Matthew Murdock quando ainda criança. Ao evitar que um homem seja atropelado, ele tem seus olhos queimados por uma substância tóxica. A origem é contada de maneira breve através de flashback e logo somos trazidos para o bairro Hell’s Kitchen dos dias atuais, onde Matthew já é adulto, formado em Direito e está em busca de um novo escritório para alugar com seu amigo e sócio Foggy Nelson.
Embora a compreensão da história não dependa de leitura de quadrinhos ou conhecimento prévio de outros filmes, ela está, sim, inserida cronologicamente no Universo Marvel. Se passa após Os Vingadores (2012), Nova Iorque está destruída devido ao combate entre o grupo de heróis e os alienígenas atraídos por Loki. Após o “Incidente”, como ficou conhecida a batalha, o bairro Hell’s Kitchen está sendo refeito. O caos e as inúmeras construções da área permitem que corruptos super faturem obras e criminosos como Madame Gao, Nobu, Leland e os irmãos Ranskahov se unam para traficar drogas e pessoas. O líder do grupo não é apresentado e todos evitam dizer seu nome. Conhecemos apenas seu porta-voz, James Wesley.
A trama central do episódio gira em torno de Karen Page, funcionária da principal empresa envolvida na reconstrução de Hell’s Kitchen, a Union Allied. Karen é acusada de matar seu colega de trabalho e várias provas a incriminam. Mas, como ainda não possuem clientes e Matthew acredita na inocência da garota, ele e Foggy aceitam defendê-la de forma pro bono. Durante a investigação, Matt descobre que Karen têm provas que provam o desvio de dinheiro feito pela construtora e por isso está sendo perseguida. A garota entrega suas provas a Murdock após ele, disfarçado com uma máscara, salvá-la.
Terminamos o episódio com Karen se unindo a Matthew e Nelson em seu escritório, a química do trio principal é nítida. Como em quase toda história Marvel, o humor está presente, mas de maneira sutil. É utilizado principalmente quando Matt precisa fingir ser um cego comum em seu cotidiano e não quebra o clima sombrio que envolve a série. Por último, vemos Murdock de vigia na calada da noite, ele escuta um menino pedir socorro e parte para o resgate.
“Não depende de como cai. Mas de como se levanta.”
Matt e Jack Murdock
Cut Man se passa horas depois da última cena de Into The Ring. Murdock é encontrado vestindo seu traje de vigilante e coberto de machucados em uma caçamba de lixo pela enfermeira Claire Temple. Enquanto trata os ferimentos de Matt sem saber sua real identidade, Claire explica que ouviu relatos sobre um homem mascarado que sai a noite salvando pessoas e percebemos que Matt tem mantido sua vida dupla há algum tempo.
Apesar do conflito maior ser sobre Matthew, Claire e o resgate do menino sequestrado no final do primeiro episódio, o principal propósito desse episódio é aprofundar o relacionamento de Murdock e seu pai, Jack Murdock. E assim o faz, novamente, através de flashbacks.
No passado, Jack foi um grande boxeador conhecido como Jack, o Batalhador. Ele e Matt viviam sozinhos, sobrevivendo dos lucros das lutas que Jack ganhava ou aceitava perder. O garoto verdadeiramente admirava o pai e acompanhava cada luta.
Jack esteve ao lado do filho durante todo o processo de adaptação após acidente, o ensinou a não desistir e a sempre se levantar quando algo ruim acontece. A vida do menino muda quando Jack, em uma tentativa de deixá-lo orgulhoso, engana grandes apostadores e vence a luta que combinou perder. Matt assiste ao pai lutar e quando a luta termina, Jack é assassinado.
A cena da luta no corredor:
No tempo presente, Matthew interroga um dos sequestradores do menino perdido e descobre seu esconderijo. A cena final, quando vai resgatá-lo, é de tirar o fôlego. Através do uso de plano sequência (filmagem de ação contínua, sem cortes) a cena passa a sensação de realidade que será um dos maiores diferenciais da série.
Murdock não é um super herói como Capitão América ou Thor, suas habilidades e sentidos, apesar de impressionantes, não funcionam como super poderes. Durante a luta ele cambaleia, perde o ar, recebe golpes tanto quanto os revida. Ele sangra. Nunca sabemos se irá sair vitorioso ou não. Acima, reveja a cena que para muitos espectadores foi como a série os conquistou:
“Tenho andado preocupado com questões de moralidade ultimamente. De certo e errado. De bom e mau. Às vezes, a separação entre elas é uma linha nítida. Às vezes é borrada.”
Matthew Murdock
Rabbit In A Snowstorm dá ênfase ao lado investigativo da série, mais uma característica que a destaca de outras obras de super heróis. A trama principal se inicia quando Wesley procura os dois advogados e pede que defendam John Healy, acusado de assassinar um dos chefes do crime organizado de Hell’s Kitchen, Prohazka. Para o público, a culpa de Healy está clara desde a primeira cena, onde o vemos cometer o crime e ficamos surpresos quando Matt, mesmo sabendo da culpa de Healy, aceita o caso. Ele espera que através da investigação consiga mais informações sobre quem está a frente dos crimes da cidade. Durante a investigação vemos Murdock usar seus sentidos para investigar tanto quanto os usa para lutar. A partir dos batimentos cardíacos das pessoas que ele consegue ouvir sabe se mentem ou não, além de perseguir pessoas e carros seguindo apenas seu som e cheiro.
Enquanto Nelson e Murdock enfrentam os tribunais, Karen Page segue pistas por conta própria com o objetivo de descobrir como expor as armações da Union Allied. Ela pede a ajuda de Ben Urich, um famoso jornalista investigativo que passa por problemas em sua vida profissional e pessoal. Em outros tempos, Urich ajudou a desvendar crimes e grandes esquemas de corrupção. Mas agora, tudo que seu editor pede são pauta frias que vendam mais jornais. Apesar de detestar escrever matérias irrelevantes, Ben parece não ter meios de escapar já que precisa do emprego para bancar o tratamento de sua esposa que segue internada no hospital. O jornalista aconselha Karen a parar de investigar por conta própria pois assim está arriscando a própria vida.
A cena do julgamento de Healey, além de mostrar Nelson e Murdock trabalhando juntos, demonstra claramente a batalha interior constante na qual Matt vive causada por seu catolicismo. Ele está sempre tentando decidir o que é certo e errado. O que deve ou não fazer. Esse conflito se torna explícito quando Matt, ao perceber que não será capaz de punir Haley através do sistem judiciário, decide seguir o decoro em corte e inocentar seu cliente. No entanto, assim que a noite cai, Matt veste sua máscara e persegue Haley para fazer justiça com as próprias mãos. Após ser pressionado e agredido, Healy finalmente confessa o nome de quem coordena todo o esquema, Wilson Fisk.
O fim do episódio é muito intrigante, principalmente para fãs que já sabem que Fisk irá se tornar o grande vilão, Rei do Crime. Esperamos que ele seja bruto e grosseiro. No entanto, na primeira vez que o encontramos ele está em uma galeria de arte, admirando um grande quadro branco e conversando com a bela curadora, Vanessa. Um homem comum.
Claire Temple: “O que você vê de verdade?”
Matthew Murdock: “Um mundo em chamas.”
Em In The Blood, não temos uma trama principal, três conflitos correm em paralelo e no fim são interligados. Os irmãos Ranskahov são pressionados por Wesley para aceitar a ajuda de Fisk a dar fim no homem mascarado, voltando a entregar a droga produzia por Madame Gao eficientemente. Os irmãos rejeitam a ajuda com medo de estarem sendo tirados do esquema e decidem agir por conta própria. Eles sequestram Claire após descobrir seu envolvimento com o vigilante e a levam para seu esconderijo onde a torturam tentando descobrir a real identidade do vigilante. Matthew aparece bem a tempo de salvá-la.
Enquanto isso, sem avisar a Matt ou Foggy, Karen entra em contato com Urich para novamente tentar convencê-lo a se unir à ela em sua investigação. Ele recusa sua oferta mais uma vez. Ela, no entanto, não se abala com as ameaças dos advogados da Union Allied ou com os alertas do jornalista e continua sua busca mostrando coragem e determinação. Karen Page é uma excelente personagem feminina, escrita para ter vida própria e não apenas ser usada como interesse amoroso ou alívio cômico.
Sobre Karen Page:
Nesse episódio começamos a conhecer Wilson Fisk não como vilão, mas como um homem introvertido e apaixonado, e aos poucos entendemos como sua mente funciona. Ele convida Vanessa para jantar e ao conversarem Fisk revela que se sente responsável por defender seu bairro, por livrar Hell’s Kitchen de maus elementos. Percebemos que Matthew e Wilson buscam a mesma coisa de duas maneiras muito diferentes: paz para o bairro onde nasceram. Eles são os dois lados de uma mesma moeda.
O encontro é interrompido quando um dos irmão russos, Anatoly, força sua entrada no restaurante à procura de Fisk e Vanessa descobre que está lidando com um homem perigoso. A última cena do episódio mostra a outra face de Fisk e nos lembra o porquê a série é classificada para maiores de 18 anos. Após ser envergonhado na frente da mulher que gosta, Fisk leva Anatoly até um lugar afastado e vemos pela primeira uma demonstração de sua força física. Wilson está totalmente descontrolado e transtornado, e acaba esmagando a cabeça de Anatoly com a porta do carro até não sobrar nada.
“Fiz coisas de que não me orgulho, Vanessa. Feri pessoas e ferirei mais. É impossível evitar pelo que estou tentando fazer. Mas não tenho prazer nisso. Na crueldade.”
Wilson Fisk
Agora que a série já nos apresentou seus personagens e tramas principais, World On Fire, deixa a história se desenrolar e vêm carregado de cenas de ação. Wilson se aproveita do conflito anterior e faz Vladimir acreditar que o assassinato de seu irmão foi causado pelo vigilante mascarado, ele espera que os dois se eliminem pois quer tirar os russos dos esquemas de distribuição de drogas.
No escritório de advocacia, Matthew, Nelson e Karen recebem uma nova cliente, a Sra. Cardenas. Ela implora a ajuda dos três para impedir que ela e seus vizinhos sejam despejados do prédio onde moram para que Armand Tully, seu senhorio, possa construir no lugar um condomínio de luxo. É a vez de Nelson mostrar suas habilidade no campo jurídico, ele e Karen seguem para o escritório de Landman & Zack, empresa representante de Tully e onde Matt e Foggy recusaram trabalhar.
Durante o episódio, dois relacionamentos amorosos são desenvolvidos paralelamente e podemos perceber uma nítida diferença entre eles. Enquanto Vanessa aceita dar uma segunda chance a Fisk e está disposta a aceitá-lo com seus defeitos e mistérios, Claire deixa claro que não irá se tornar cúmplice da maneira como Matt age, se arriscando e resolvendo problemas com a força.
No fim, Wilson manda explodir todos os esconderijos onde a gangue russa se esconde e explica a Vanessa que o fez porque estava se livrando do tipo de homens que sequestraram o menino do segundo episódio. Qual será a verdade? Teria ele matado os russos por dinheiro ou dever? A resposta não é dada ao público e me atrevo a dizer que nem o próprio Wilson Fisk saberia responder. O que acharam dos primeiros episódios, Camundongos? Alguma cena favorita?
Antes de finalizar essa parte da matéria, gostaria de apontar algo muito importante que a Netflix disponibilizou para seus usuários: a audiodescrição. Para quem não está familiarizado com o termo, audiodescrição é uma faixa extra de áudio na qual as ações e expressões dos personagens são narradas entre as falas, possibilitando o acesso de deficientes visuais à obra. Escolheram o seriado com o tema certo para lançar a novidade, não acham?
Se ficou curioso, basta ir ao site da Netflix e selecionar a opção de áudio “English – Audio Description”. Infelizmente, por enquanto, o recurso está disponível apenas em inglês. Espalhem a novidade para todos! Quanto mais pessoas souberem, maiores as chances do recurso alcançar alguém que realmente precisa.