“… Even the most desperate life is, oh, so wonderful.”
Mary Alice Young (8×23 – Finishing The Hat)
No último sábado, 13 de Maio de 2017, a exibição do episódio final de Desperate Housewives (2004-2012) completou cinco anos. Criada por Marc Cherry, a série conquistou um lugar no coração do público e recebeu diversos elogios e prêmios durante as suas oito temporadas no ar, sendo, inclusive, uma das produções de maior audiência da ABC no período de transmissão.
Foram oito anos repletos de emoções, de muito humor, de muito drama. Foram oito anos aprendendo a amar os diversos personagens, desde as protagonistas até os coadjuvantes. E para homenagear essa grande série, preparamos essa Listas 2000 com alguns motivos para assistir pela primeira vez ou pela segunda e se apaixonar por esse grande marco televisivo.
Tudo começa com o misterioso suicídio de Mary Alice Young (Brenda Strong). No entanto, Mary Alice levava, aparentemente, uma vida tão perfeita quanto as de seus vizinhos em Wisteria Lane. Então, qual teria sido o motivo para tamanho ato de desespero? Com essa pergunta, a trama da série começa a se desenrolar e, aos poucos, percebemos que a dona de casa não era a única guardando segredos naquela rua. Toda temporada apresenta um mistério diferente, cuja solução nem sempre é óbvia, criando um clima intrigante durante os episódios.
Como toda boa série de drama, Desperate Housewives possui a sua cota de cenas impactantes e cheias de emoção, a ponto de nos fazer derramar algumas – ou muitas – lágrimas. Embora a série trabalhe com uma versão meio exagerada e lúdica da realidade, na qual a maioria dos personagens possui passados obscuros ou segredos cabulosos, é possível se identificar com muitas das histórias, pois se assemelham com a vida real. Cherry, disse certa vez, ter se inspirado em experiências próprias ou de amigos próximos para escrever os roteiros.
Há quem goste, há quem não goste. Porém, a vida tem as suas doses de romance e seria inverosímel não existir também na ficção. Ao longo das temporadas, acompanhamos diversos casais para os quais torcemos a favor e outros para os quais torcemos contra. A equipe criativa nos brindou com romances para os mais variados gostos, desde aqueles tórridos e provocantes até aqueles mais calmos e estabilizados. É simplesmente impossível assistir aos episódios e não se envolver com a história de algum dos casais apresentados.
Mistério, drama e romance. O seriado das donas de casas desesperadas é uma clara mistura de gêneros narrativos. E nessa combinação, claro, não poderia faltar humor. Em meio à procura por respostas ou ao dramas vividos pelos personagens, os roteiristas sempre encontram algumas brechas para inserir cenas cômicas, funcionando como um alívio para as histórias. Alguns desses momentos até chegam a ser mais engraçados do que de muitas séries exclusivamente de humor. Não é raro começar um episódio rindo e terminar chorando, ou vice-versa.
Além de trabalhar com tantos estilos e fugir do padrão narrativo, essa produção da ABC ainda nos brindou com temas muito importantes e relevantes, os quais precisam ser debatidos e, em alguns casos, combatidos. Homofobia, pedofilia, sadomasoquismo, adultério, alcoolismo, vício em sexo, adoção, violência contra crianças e adolescentes, suicídio e violência doméstica são apenas alguns dos muitos exemplos de assuntos abordados pelos roteiristas durante os episódios.
Para complicar ainda mais a vida dos roteiristas, os episódios trazem uma belíssima lição de moral. Depois de sua morte, Mary Alice passa a narrar todos os capítulos e, ao final de cada um deles, revela uma mensagem para os espectadores refletirem a respeito. O mais interessante disso tudo é que o ensinamento da narradora está relacionado com todas as situações vividas pelos personagens naquele episódio, uma ótima e interessante maneira de amarrar os arcos e lidar com tantos gêneros diferentes em um único capítulo. E quem ganha com isso é o público.
Diferente de outras produções televisivas, Desperate Housewives não utilizou canções para embalar as cenas, com raríssimas exceções, a exemplo do último episódio da série. O importante trabalho de nos envolver e dar o clima certo para cada momento ficou para a trilha sonora instrumental. O compositor Steve Jablonsky fez um trabalho primoroso e cheio de nuances, tornando as cenas ainda mais inesquecíveis. E para completar, a música de abertura foi composta por Danny Elfman e é incrível.
E para todos esses motivos serem bem-sucedidos, era preciso um elenco fantástico, a começar pelos personagens secundários, como os membros das famílias das protagonistas, os moradores da vizinhança, e uma imensa lista de outros personagens. Porém, vale destacar alguns desses, como a Sra. McCluskey (Kathryn Joosten), a vizinha rabugenta e adorável; Ida Greenberg (Pat Crawford Brown), uma senhora de bom coração – sempre bêbada e à procura de seu gato, Toby; o engraçadíssimo casal Bob (Tuc Watkins) e Lee (Kevin Rahm); e a memorável Martha Huber (Christine Estabrook), a maior fofoqueira de todos os tempos.
Bree Van de Kamp (Marcia Cross), Lynette Scavo (Felicity Huffman), Susan Mayer (Teri Hatcher), Gabrielle Solis (Eva Longoria) e Edie Britt (Nicollette Sheridan) se tornaram companheiras do grande público e, com o jeito único de cada uma delas, essas donas de casa conseguiram transformar as vidas de inúmeras pessoas. Elas nos ensinam a força da amizade e da família, a ser fortes e persistentes para conquistar nossos sonhos e proteger quem amamos. Os talentos de suas intérpretes – a maioria em uma idade acima do tolerável pela indústria – moldou e mudou o futuro da televisão, abrindo portas para muitas outras mulheres mais velhas ganharem destaque na televisão.
Qual a graça de se assistir a algo tão bom, mas com tão poucos episódios? Com todo o seu carisma e formula dinâmica, Desperate Housewives poderia ter durado por muitas outras temporadas, mas oito foram suficientes. Marc Cherry soube escolher o momento exato para encerrar a trajetória das donas de casas e acabar com o desespero delas. A história foi finalizada de um modo perfeito, sem pontas soltas de modo muito fiel à proposta do programa e sem perder a originalidade. São exatos cento e oitenta episódios para degustarmos ao lado desses personagens sensacionais e extremamente reais. É o tipo de série que, ao final, te deixa querendo mais, muito mais.
Infelizmente, a série encerrou a sua trajetória na televisão, porém, a sua importância e o seu impacto na cultura continuam a ser sentidos, servindo de influência e inspiração para muitas outras obras. Com sete vitórias no Emmy e três Globos de Ouro, o seriado tem um lugar garantido na memória afetiva do público. E você, Camundongo, já assistiu ao programa? Pretende dar uma chance? Não deixe de comentar e até a próxima!