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Disney na Guerra | O polêmico período dos filmes-pacote e curtas de propaganda

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O período compreendido entre Bambi (1942) e Cinderela (1950), no qual ocorria a Segunda Guerra Mundial, desperta muita curiosidades nos admiradores da Disney, pois foi nesse intervalo de oito anos que diversos “filmes-pacote” foram lançados pelo estúdio do Camundongo mais famoso do mundo.

Para entender o que se passou nesse período, é necessário recapitular um pouco da História da Segunda Guerra Mundial. A guerra eclodiu em 1939, quando Adolf Hitler, líder do partido nazista alemão, decretou invasão à Polônia.

Pato Donald armado em uma das propagandas da Segunda Guerra Mundial.

Do lado do Eixo, estavam Itália, Alemanha e Japão e, do lado dos Aliados, Inglaterra, França e Rússia. Com o ataque japonês à base estadunidense de Pearl Harbor no Havaí, em 1941, o presidente Roosevelt declarou apoio aos aliados e os Estados Unidos entraram na guerra.

Como a Segunda Guerra impactou a Disney?

A Segunda Guerra em si já impactava os Estúdios Disney, visto que o mercado europeu não estava dando retorno financeiro. Com a entrada dos estadunidenses na disputa, diversos animadores foram convocados pelas forças armadas e parte do estúdio foi ocupada como alojamento para uma base antiaérea.

Anúncio de A Vitória Pela Força Aérea (1943).

Nesse cenário, ainda, o governo encomendou a produção de diversos curta-metragens de animação que serviriam como treinamento e propaganda para os recrutas. Personagens clássicos como Pato Donald, Pateta, Os Três Porquinhos e os Sete Anões estrelaram alguns curtas de propaganda na guerra

O mais famoso desses curtas é Der Fuehrer’s Face (1943), no qual Donald sonha que é um operário do regime nazista, o que se torna um verdadeiro pesadelo. O filme A Vitória Pela Força Aérea (Victory Through Air Power), de 1943, mescla animação e atores, mostrando a importância da aviação para a guerra.

Der Fuehrer’s Face:

A Política da Boa Vizinhança

Por conta do conflito, o governo dos Estados Unidos precisava estreitar relações com os governos latino-americanos. O objetivo era dissipar a influência europeia sobre esses países e assegurar a soberania estadunidense no continente.

Com a Política da Boa Vizinhança, como ficou conhecida essa política de aproximação, Walt Disney foi encarregado de viajar para o Peru, Chile, Argentina e Brasil. O resultado foram quatro curtas agrupados e intercalados com registros da viagem de Walt e seu grupo. Esse filme de cerca de quarenta minutos recebeu o título de Alô, Amigos (1943).

Curta The Thrifty Pig (1941), estrelado pelos Três Porquinhos.

No filme, Pateta é representado como um gaúcho dos pampas argentinos, Pedro é um aviãozinho que viaja pelo Chile, Donald é um turista visitando o Lago Titicaca, no Peru, e, por fim, o pato se encontra com ninguém menos que José Carioca, um carioca malandro que lhe apresenta o Rio de Janeiro.

O filme termina com os dois dançando em uma casa de show na Urca, bairro carioca nobre na década de 1940. Um dos pontos altos da animação é a canção “Aquarela do Brasil”, de Ari Barroso. Walt teria ficado encantado ao ouvir a canção em uma parada em Belém, a caminho do Rio de Janeiro, e ela foi inserida no filme na voz de Aloysio de Oliveira.

Alguns dos curtas produzidos por Walt Disney durante a guerra.

O filme foi lançado no Brasil em 1942, antes de ser lançado nos Estados Unidos em 1943. No Brasil, Walt conheceu Ari Barroso, Gilberto Souto, Braguinha, responsável pela adaptação e direção das dublagens desde Branca de Neve e os Sete Anões (1937), Aloysio de Oliveira, dentre outros.

Dois anos depois, chega aos cinemas Você Já Foi à Bahia? (1945), apresentando um novo personagem: o pássaro mexicano Panchito. Ao lado de Donald e Zé Carioca, eles formam um trio chamado Los Tres Caballeros (Os Três Cavalheiros). Esse filme também foi resultado da política da Boa Vizinhança e foi produzido de forma colaborativa com artistas brasileiros e mexicanos.

Alô, Amigos (1943): o primeiro filme-pacote.

O longa contou com a participação de Aurora Miranda, irmã de Carmem Miranda, no segmento Os Quindins de Yayá, no qual Donald se apaixona pela brasileira. Outras artistas latinas deram as caras, como Carmem Molina e Dora Luz.

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Recentemente, tanto Panchito quanto Zé Carioca começaram a aparecer de vez em quando no pavilhão do México, no EPCOT. Os dois pássaros acompanham Donald para um meet-and-greet. O pavilhão também conta com uma atração super simpática dos três caballeros. Quem estiver com viagem marcada pra o Walt Disney World não pode perder essa aventura!

Trailer original de Alô, Amigos:

Tanto Amigos quanto Bahia? foram feitos de modo colaborativo entre Walt Disney, seus artistas e profissionais brasileiros e mexicanos. Clarence Nash, a voz original do Pato Donald, repetiu o seu trabalho nas versões brasileira e mexicana, assim como José de Oliveira, o intérprete do Zé Carioca.

As versões em Português foram supervisionadas por Gilberto Souto e Aloysio de Oliveira e contaram com vozes incríveis, como o próprio Ary Barroso narrando o curta do pinguim em Você Já Foi à Bahia?.

A política da Boa Vizinhança continuou com Você já Foi à Bahia? (1945).

Aloysio se tornou amigo pessoal de Disney e participaria de diversas dublagens de filmes posteriores como Cinderela (1950), Peter Pan (1953), além de adaptar as canções de Mogli – O Menino Lobo (1967) e outros clássicos.

A Disney Após a Guerra

A guerra acabou em 1945, mas seu impacto duraria até o final dos anos 1940. Disney produziria mais quatro filmes-pacotes antes do sucesso retumbante de Cinderela, em 1950. Esses filmes eram mais baratos e rápidos de serem produzidos do que os longa-metragens comuns, porque sua produção conseguia ser fracionada sem grandes planejamentos.

Apesar do fim da guerra, o estúdio ainda produzia filmes-pacote, como Música, Maestro! (1946).

Música, Maestro! (1946) e Tempo de Melodia (1948) agrupam diversos curtas musicados, alguns bem conhecidos como Pecos BillPedro e o Lobo; e Willie, a Baleia Cantora. As músicas dos dois filmes são lindíssimas e os curtas variam entre histórias do folclore estadunidense, fábulas e até temas mais abstratos.

Como é Bom se Divertir (1947) reúne dois curtas: Bongo e Mickey e o Pé de Feijão, sendo o segundo o mais famoso dos dois. As Aventuras de Ichabod e o Sr. Sapo (1949) também se divide em duas histórias, o conto inglês Wind in the Willows e a lenda estadunidense do Cavaleiro sem Cabeça, em The Legend of Sleepy Hollow. A história de Ichabod é bem lembrada pelos fãs, por fazer parte de uma coletânea Disney lançada em VHS na década de 1990.

Tempo de Melodia (1948) apresentava o segmento A Culpa é do Samba.

Ao longo dos anos, esses curtas foram relançados separadamente. Somente com os relançamentos em VHS e DVD foi que eles voltaram a ser agrupados conforme o lançamento original. Alguns filmes inclusive tiveram seus títulos alterados no Brasil.

Ichabod e o Sr Sapo era chamado de Dois Sujeitos Fabulosos, por exemplo. Com os relançamentos em Home Vídeo, a maioria teve o título modificado e o áudio em português regravado para garantir unidade da narrativa do início ao fim na versão nacional.

Como é Bom se Divertir (1947) ficou famoso devido ao curta Mickey e o Pé de Feijão.

Pouca gente sabe a fundo sobre esse período da Segunda Guerra que aproximou Walt Disney da nossa cultura. A década de 1940 marcou uma relação muito forte entre a América Latina e Walt Disney com a produção dos filmes e a criação dos personagens como Panchito, Zé Carioca e o pássaro Aracuan.

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O pós-guerra trouxe esses filmes “menores” que deram pouco lucro e o estúdio só efetivamente retomou o brilho de outrora na década de 1950. Todos esses filmes, no entanto, guardam um charme típico do período em que foram feitos e esse charme dificilmente será apagado. São filmes que respiram história e nos permitem entender um pouco mais a trajetória do Universo Disney.

As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo (1949) encerrou o período de filmes-pacote.

E a polêmica de A Canção do Sul?

Anualmente, milhares de turistas no Walt Disney World se encantam com a atração Splash Mountain, mas poucos sabem que seus personagens vêm de um filme Disney de 1946: A Canção do Sul, o qual mescla atores e animação e conta a vida do pequeno Johnny, que vai morar com a avó após a separação dos pais.

Lá, ele conhece Tio Remus, um empregado da fazenda que através de histórias lúdicas e mágicas, abrilhanta os dias do menino. Várias canções se tornaram clássicos como “Zippa-dee-doo-dah” e “Everybody has a Laughing Place”. James Baskett foi o primeiro ator negro a receber um Oscar honorário por sua interpretação como o Tio Remus.

O polêmico A Canção do Sul (1946) é motivo de “vergonha” para a Disney.

O filme hoje é uma espécie de “vergonha” para a Disney, por ter sido acusado de racismo. Parte da crítica vem do fato de ele se passar no Sul dos Estados Unidos após a guerra de secessão e mostrar uma série de ex-escravos (como o próprio Remus), vivendo felizes e alegres na fazenda de seus antigos senhores. Muitas petições online pedem pelo lançamento do filme em DVD e Blu-ray, mas a Disney dificilmente vai liberá-lo para o público outra vez.

E você? Qual a sua opinião sobre o filme A Canção do Sul? Acredita que, assim como … E o Vento Levou (1939), é um filme datado mas que merece ser distribuído e aclamado? Ou acha que ele é efetivamente ofensivo e não deve dar as caras tão cedo? Não deixe de comentar!

Escrito por Humberto Lima

Disney Lover desde quando pode se lembrar. Já sonhou em nadar no fundo do mar, explorar um castelo encantado, viajar de tapete mágico e pintar com todas as cores do vento. Entusiasta das dublagens, do cinema Hollywoodiano e das grandes animações, sejam elas antigas ou não.

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