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Divertida Mente | Tristeza e seu papel fundamental para nosso amadurecimento

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Todos nós, em algum momento de nossas vidas, nos perguntamos o que se passa dentro da cabeça alheia. E é com essa pergunta que adentramos ao universo de Divertida Mente, uma animação ambientada na mente de Riley Andersen. Alegria, Tristeza, Raiva, Nojinho e Medo são as emoções que comandam as atitudes e pensamentos de Riley, e influenciam as suas lembranças – representadas como esferas coloridas e, em alguns casos, brilhantes, as chamadas memórias-bases.

Muitos comentários e críticas internet afora tratam aquelas cinco emoções como personagens, como indivíduos próprios. A realidade é que elas não passam de pedaços da mente de Riley. Não há livre arbítrio, não há vontade própria. Apenas reflexos a estímulos externos. Não gostar de qualquer uma delas, significa não gostar de uma parte de Riley, e por extensão, de uma parte de nós mesmos, visto que também somos compostos por elas.

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E a grande maioria desse ódio se dirige exclusivamente à Tristeza – uma das melhores personagens já criadas pelo Pixar Animation Studios, diga-se de passagem -, justamente por ser ela a responsável por colocar a trama em movimento, ao tocar em algumas das memórias de Riley, as quais eram alegres antes. Alguns, inclusive, chegaram a acusá-la de ser uma tentativa de estereotipar pessoas acima do peso como tristes.

Façamos um pequeno retrospecto da vida da garota. Riley, durante seus onze anos, morou na mesma casa e na mesma cidade. Ela tinha vários amigos e até uma melhor amiga, Meg. Amava hóquei. Seus pais eram atenciosos, carinhosos e brincalhões e nunca deixaram nada lhe faltar. Em resumo, ela era feliz (Alegria era sua emoção mais forte nesse período). Não havia como estragar. Até que estragou.

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De um momento para o outro, Riley precisou se despedir de tudo aquilo que conhecia para dizer olá a um mundo completamente estranho. E aqui, começa o problema. A primeira decepção é a casa nova, totalmente diferente do que ela havia imaginado, com direito a um rato morto. Entretanto, ela não se deixa abater por isso e, então, convida os pais para uma partida de hóquei improvisada na sala de estar.

Por mais que relutasse, a realidade continuava a bater à porta. O telefone de seu pai toca e ele precisa deixá-la para ir trabalhar. Os móveis já deveriam ter chegado também, mas houve problemas na mudança. E sequer uma pizza consegue salvar o dia da tragédia. É quando, finalmente, Riley começa a perceber que está em um mundo completamente incomum e inexplorado. E começa a ficar triste por isso. A fotografia faz um contraste interessante nesse sentido, enquanto Minnesota é retratada em tons coloridos e vivos, São Francisco aparece sob cores acinzentadas e sem brilho.

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O processo, porém, é interrompido, porque Riley se sente na obrigação de ser feliz por seus pais, de continuar a ser aquela garotinha brincalhona. Essa luta interna de Riley para aceitar que está triste é a chave para desencadear uma série de acontecimentos, a qual poderia ter sido evitada se a menina tivesse maturidade e liberdade suficientes para se permitir sentir a tristeza, chorar, e perceber que um novo dia iria nascer e tudo iria melhorar.

Nesse espaço de tempo, Tristeza apenas fazia o seu trabalho. Quem já passou por uma mudança abrupta e contrária à sua vontade, seja no sentido literal ou figurativo, ou quem já perdeu alguém próximo sabe o que isso significa. Aquelas memórias antes tão alegres se tornam tristes e a simples lembrança delas pode nos entristecer, mas não significa que elas nos deixarão sempre assim. Ao se privar disso, Riley começa a ficar apática, simbolizada através da ausência da Alegria e da Tristeza na sala de comando.

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Aquelas memórias-base, que mencionamos lá no início desse texto, são essenciais para definir quem é a Riley. É a partir dela que são criadas – e mantidas – as ilhas da personalidade. Com o início do período de apatia, as ilhas desmoronam. Riley perde interesse no hóquei e nas palhaçadas e se afasta dos seus amigos e de sua família. Vale ressaltar que a culpa não é da Tristeza, da Alegria ou da Riley. Não existem culpados ou vilões. Podemos entender que a garota (Alegria e Tristeza) está perdida dentro de si mesma, sem saber o que fazer.

A única conclusão lógica para a garota: se ela era feliz na cidade anterior, então, ela deve voltar para lá e continuar a ser feliz. Infelizmente, não era essa a resposta certa. Mudanças e transições podem ser fáceis para uns, porém, para uma criança, cujo o mundo perfeito em que vivia fora destruído com um sopro, não é uma adaptação fácil. A cena em que Riley chora no primeiro dia de aula ilustra bem essa dificuldade. Não é preciso recriar aquilo que existia, e sim, entender e aceitar o novo.

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Vivemos em uma época na qual é proibido ser triste. É necessário estar sorrindo o tempo todo e em todas as fotos do Instagram. É obrigatório compartilhar sua alegria a todo tempo no Facebook. É preciso passar aquela fachada meticulosamente construída de que tudo é perfeito. Tudo precisa parecer um comercial de margarina e, se sua vida não é assim, você é um perdedor e não é digno. Não só é extremamente perigoso como nada saudável pensar dessa forma.

Dor e derrota fazem parte de nós. Não é errado se sentir triste. É natural a vida ter altos e baixos. E essa obsessão por uma imagem de perfeição e de vitória só nos torna incapazes de lidar com essa imprevisibilidade. Apenas podemos alcançar uma maturidade emocional quando aceitamos a Tristeza como parte fundamental daquilo que somos. Exemplo disso é o momento em que a emoção escuta o desabafo de Bing Bong, e então, ele pode seguir em frente.

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O crescimento de Riley acontece quando ela abraça a tristeza que sentia e começa a entender que precisa haver um equilíbrio entre as emoções. Ninguém é feliz ou infeliz todo o tempo. As emoções humanas são extremamente complexas. E existe muito a se aprender com a Tristeza, pois ela nos faz enxergar aquilo que muitas vezes a Alegria não nos permitia ver. Walt Disney costumava dizer que “para cada risada, deve haver uma lágrima.

Pra cada bem, existe o mal e isso faz o mundo andar. Tristeza e Alegria andam juntas. E o diretor Pete Docter faz um trabalho excelente ao representar a Alegria como a única emoção com cabelos e olhos de cores diferentes do tom de pele, simbolizando a importância da tristeza para que também sejamos alegres. Esse cuidado visual não está presente apenas nos personagens. Neurônios, massa cefálica, o processo de organização e recuperação de memórias de longo prazo, e imaginação são retratados de forma colorida e divertida.

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Há uma gama imensa de mensagens e interpretações em Divertida Mente – o simbolismo das lágrimas em forma de doces, os quais são utilizados pelos pais para cessar o choro das crianças; o esquecimento do amigo imaginário para que haja o amadurecimento; possíveis sinais de depressão. Citando uma vez mais Walt Disney: “animação pode explicar tudo que a mente humana possa conceber.” Aqui, temos um exemplar perfeito dessa afirmação.

No entanto, se há algo concreto, é que estamos diante do primeiro longa-metragem real do Pixar Animation Studios. Não existem monstros assustadores, robôs, brinquedos, carros, ou animais falantes. Não há casas voadoras, magia ou super-poderes. É uma história totalmente humana, contada de modo lúdico, e ainda assim o estúdio conseguiu produzir uma de suas melhores obras até o momento. Riley é uma representação de cada um de nós. Poderia ser qualquer um de nós naquela história. Somos todos Riley, somos todos Tristeza.

C rescer pode ser uma jornada turbulenta, e com Riley não é diferente. Ela é retirada de sua vida no meio-oeste americano quando seu pai arruma um novo emprego em São Francisco. Como todos nós, Riley é guiada pelas emoções – Alegria, Medo, Raiva, Nojinho e Tristeza. As emoções vivem no centro de controle dentro da mente de Riley, onde a ajudam com conselhos em sua vida cotidiana. Conforme Riley e suas emoções se esforçam para se adaptar à nova vida em São Francisco, começa uma agitação no centro de controle. Embora Alegria, a principal e mais importante emoção de Riley, tente se manter positiva, as emoções entram em conflito sobre qual a melhor maneira de viver em uma nova cidade, casa e escola.

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Escrito por Lucas

Um grande aficionado por cinema, séries, livros e, claro, pelo Universo Disney. Estão entre os seus clássicos favoritos: "O Rei Leão", " A Bela e a Fera", " Planeta do Tesouro", "A Família do Futuro" e "Operação Big Hero".