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Eras da Disney | A Era de Prata

Olá, Camundongos! Bem-vindos de volta ao especial Eras da Disney. Hoje, vamos continuar nossa viagem pela história do Walt Disney Animation Studios!

Após um hiato de oito anos sem o lançamento de um longa-metragem tradicional, viria, então, em 1950, um dos maiores clássicos do Walt Disney Animation Studios: Cinderela. A história da gata borralheira foi um sucesso de público e crítica e reanimou a força produtiva do estúdio.

O espírito do filme relembra o que foi feito em Branca de Neve e os Sete Anões (1937) com um toque de glamour atemporal, e o visual é do mesmo cuidado tido na realização de Pinóquio (1940). Tais semelhanças fazem com que o filme seja facilmente reconhecido como uma obra Disney, o que foi extremamente positivo após anos de lançamentos inconsistentes.

O longa manteve-se fiel à história original, mas, ao adicionar humor e a bela animação, acabou por aproximar a personagem principal mais à Disney do que ao autor francês Charles Perrault, cuja versão do conto fora escolhida para ser adaptada pelo estúdio. Ao lembrar-se de Cinderela, a cena de sua transformação antes de ir ao baile é uma das primeiras memórias no imaginário popular graças ao seu grande impacto mantido vivo ao longo dos anos.

Após Cinderela, viria um filme que já estava nos planos de Disney antes mesmo de Branca de Neve e os Sete Anões. As aventuras de Alice no País das Maravilhas (1951) já haviam sido exploradas por Walt Disney há muitos anos em curtas ainda em preto e branco. Então, adaptar os livros de Lewis Caroll já era um passo esperado em algum ponto de sua carreira. Entretanto, captar a genialidade literária de Caroll foi difícil e o filme acabou sofrendo com isso.

A história parece não ser bem amarrada e há poucos momentos brilhantes, estes realizados por conta do trabalho excelente dos animadores. Apesar de não se tornar um sucesso estrondoso, Alice no País das Maravilhas fora lançado apenas um ano após Cinderela, o que cumpriu o propósito de manter os estúdios funcionando e na mente do público como uma força criativa.

Diferentemente de Alice no País das Maravilhas, Peter Pan (1953) foi um estouro. O filme pôde mostrar como os animadores agora dominavam sua técnica ao misturar personagens realistas com outros mais caricatos. Personalidades cativantes, como os Meninos Perdidos, e o vilão memorável, Capitão Gancho, fizeram com que o filme se conectasse de forma mais harmoniosa com o público.

A narrativa flui sem grandes tropeços, mas o que merece atenção são as belíssimas cenas de voo. O passeio de Peter, junto de Wendy e seus irmãos, por Londres é tão bem executado que permite a total imersão do espectador no universo do filme.

Passados três grandes lançamentos com eventuais inovações, era hora do estúdio transformar mais uma vez a história da animação. Em 1955, o grande lançamento seria feito de maneira inédita. A Dama e o Vagabundo é, então, lançado em CinemaScope [1], um novo formato de tela mais alongado, que permitia ao filme crescer aos olhos do público.

Apesar do visual deslumbrante, o novo formato de tela tornou-se uma dificuldade para os animadores. Anteriormente, era mais simples para que um único personagem ocupasse a tela completamente, mas com o CinemaScope, havia muito mais espaço a ser preenchido. Com isso, a composição da cena precisaria ser mais elaborada e contar com mais elementos.

Com todo esse cuidado extra, os animadores conseguiram realizar um filme mais bem acabado e que surpreendeu o público devido a sua beleza nunca antes vista. Outro aspecto inédito de A Dama e o Vagabundo foi sua localização temporal. Apenas um filme até então se passava em um tempo próximo ao do seu lançamento: Dumbo (1941). Entretanto, A Dama e o Vagabundo não contava com uma atmosfera de fantasia.

O filme se passa em uma cidade dos Estados Unidos em uma época que se distanciaria, no máximo, duas décadas do lançamento do filme. Além de canções memoráveis, o longa deixou marcado na história do cinema uma de suas cenas: o jantar romântico nos fundos do restaurante. Unindo-se a Cinderela, A Dama e o Vagabundo tornou-se um dos lançamentos mais fortes do estúdio na década de 1950 e consequentemente da Era de Prata.

A promessa para o próximo filme, A Bela Adormecida, era a união de Branca de Neve e os Sete Anões com Cinderela, somada a uma qualidade estética nunca antes vista. Entretanto, o resultado não foi o esperado. Para a produção de seu próximo longa, Disney trouxe como inspiração tapeçarias medievais e pinturas renascentistas. O visual do filme deveria saltar aos olhos e não seriam poupadas as técnicas mais elaboradas de animação.

Mesmo com todo o planejamento extraordinário, Disney, ao mesmo tempo, arquitetava outro projeto ainda mais grandioso, a Disneyland. Sendo assim, muito de seu tempo era gasto na construção de seu primeiro parque, fazendo com que a produção cinematográfica fosse por vezes negligenciada. No fim das contas, o filme mostrou-se repleto de belas paisagens mas com personagens perdidos dentro de tal magnitude. Mesmo com ótimas sequências de ação e uma das vilãs mais memoráveis da Disney, Malévola, o desejo do filme de alcançar a aura clássica como a de Cinderela fracassou.

Então, em 1961, com 101 Dálmatas, novamente o estúdio inova na forma de produzir com o uso da câmera Xerox. Tal câmera transferia o desenho feito à mão pelo animador diretamente para a célula de filme, de modo que a pintura feita individualmente em cada célula não fosse mais necessária. Tal tecnologia facilitaria o trabalho dos animadores e ainda diminuiria significantemente o custo da produção.

A câmera Xerox mostrou ser extremamente eficaz neste projeto, pois seria uma tarefa muito demorada pintar cada filhote nas células e, como havia cenas com dúzias deles se movendo na tela, tudo tornou-se mais simples. Sendo assim, a pintura individual foi necessária apenas para retoques e em casos mais delicados. Com menos preocupações no setor de animação, o estúdio pode, então, focar na narrativa e no desenvolvimento dos personagens, de modo que pôde-se construir personalidades individuais para alguns filhotes.

O brilhantismo dos personagens também é visto em Cruella, desenhada pelo mesmo artista de Malévola, Marc Davis. A personagem consegue misturar humor à maldade e conquistar o público em uma relação de amor e ódio. Em 101 Dálmatas, surgiu um novo estilo de animação, mais despojado, que recuperou em parte a segurança do estúdio em suas obras.

No início, a mudança de visual não agradara a Disney, mas o público recebeu bem o filme tornando-o um sucesso de bilheteria na época. Após 101 Dálmatas, o ritmo do estúdio mudaria. A nova meta de produção seria de um lançamento a cada três anos, uma vez que a equipe já não era mais a mesma desde o auge, nos tempos de Pinóquio (1940) e Fantasia (1940).

Dois anos se passaram e, em 1963, chegou às telas A Espada era a Lei, que contava a história do jovem Rei Arthur. O filme não obteve o sucesso esperado, pois como aconteceu com Alice no País das Maravilhas, a essência do original literário não fora captada com êxito. Apesar da animação consistente, o filme falha ao trazer personagens fracos como Merlin, que ao invés de mago poderoso é apresentado como um velho confuso. Entretanto, as adaptações literárias não terminariam neste filme, pois em seguida o público conheceria a história do menino lobo.

Mogli – O Menino Lobo, lançado em 1967, também tomou liberdade quanto ao seu texto original, escrito por Rudyard Kipling. Entretanto, as mudanças foram bem-executadas e agradaram no resultado final. Além da bela animação, o filme contou com um elenco de estrelas da época, que ajudou a moldar os personagens e dar vida ao filme. A dublagem não era um elemento tão valorizado nos longas anteriores, de modo que as personalidades dos personagens não se moldavam conforme seu intérprete.

Já em Mogli – O Menino Lobo, muitas características dos atores foram incorporadas nos personagens dando maior estilo e os tornando únicos. O filme, um grande sucesso, seria então a despedida de Walt Disney. Em 1966, Disney fora diagnosticado com câncer de pulmão e poucas semanas depois faleceria em um hospital localizado na rua oposta ao estúdio.

Com a morte de Disney chegaria ao fim a Era de Prata, uma época de inovações e recomeços. Tal período não resultou em uma segunda Era de Ouro, mas foi possível ver que ainda existia no estúdio o brilho de seu auge, recuperado aos poucos após a Era da Guerra.

O estúdio aprendera muito com os erros e, com a liderança de Walt Disney, pôde realizar grandes obras. Agora, o que preocupava a todos era como seguir em frente sem a mão do mestre a guiá-los.

Camundongos, a terceira parte do nosso especial Eras da Disney fica por aqui. Na semana que vem, vamos conhecer a Era de Bronze e Era Sombria!

Notas do Autor:

[1] O CinemaScope foi o formato pioneiro de widescreen criado, em 1953, por Spyros P. Skouras, presidente da 20th Century Fox. Essa nova tecnologia permitia a largura do filme dobrar de tamanho, passando da proporção clássica 1.37:1 para 2.66:1.

Escrito por Paulo

Mouseketeer desde que me entendo por gente! Finalmente realizei meu maior sonho de Camundongo e visitei todos os parques da Disney no mundo!

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