O que vem à sua mente quando pensa em Walt Disney? Talvez seja história de Walt nos Bastidores de Mary Poppins (2013), talvez sejam suas animações que encantam diversas gerações, ou até mesmo os Parques e também sua personalidade.
Muitos sempre viram Walt como um homem à frente de seu tempo e, com o correr dos anos, isso foi se fazendo cada vez mais verdadeiro, desde a forma de imaginar uma sociedade, como em suas animações. Ele também foi visto como machista devido a algumas atitudes dentro de sua empresa, foi visto como o maior empreendedor e também como o melhor líder.
Ao longo de sua vida, Walt Disney foi visto por diversas pessoas e de diversas maneiras, por isso, nesse especial contaremos sua história de como ele criou esse império que não só influencia este site, mas como milhares de pessoas. Nessa primeira parte, abordaremos a partir do começo do Walt Disney Studios, um pouco antes da criação de Mickey Mouse.
Tudo começa em 1926, quando o contrato de Walt com Charles Mintz — produtor americano que levou os curtas de Oswald para Universal Pictures — não estava indo muito bem devido aos preços pedidos por Walt e, ainda por cima, Disney estava enfrentando uma outra negociação com os David, família da atriz que participava dos curtas de Alice, em que ele queria reduzir os custos pagando exatamente o preço de acordo com o tempo que a menina ficava no estúdio, o que na época resultava em vinte e cinco dólares.
No meio de todas essas negociações monetárias, Walt e Roy estavam felizes por finalmente mudarem seu estúdio de lugar. Um local na Hyperion Avenue que tinha aproximadamente cento e cinquenta metros quadrados, era o espaço que eles precisavam
Em uma de suas conversas com seu irmão, Walt disse “Roy, quando nos mudarmos para Hyperion, vou mandar fazer um grande anúncio de neon escrito Walt Disney Studios,” e Roy, sem discordar de seu irmão aceitou e então, a partir de 1925, o que antigamente era The Disney Brothers Cartoon Studios, passou a ser o Walt Disney Studios.
A partir desse momento, os irmãos Disney passaram por altos e baixos por conta do contrato de Oswald com Mintz, mas logo depois de Walt passar o dia discutindo com Mintz sobre as questões criativas, com o contrato chegando ao fim e sabendo que perderia seu personagem, ele sabia que precisava inventar um novo personagem e declarou que nunca mais trabalharia para ninguém.
Então, durante a volta de Nova York — após descobrir do golpe que Mintz havia planejado em Walt de tirar vários de seus animadores para continuar criando episódios de Oswald —, Walt sabia que teria que começar do zero. Sendo assim, começou a rabiscar, desenhar, inventar histórias, pois precisava de um personagem que fizesse tanto sucesso quanto Oswald. Foram muitos papéis descartados até que ele conseguiu chegar a uma boa história e assim, quando estava com tudo planejado, mostrou para sua esposa, Lílian.
Ela dizia não conseguir prestar atenção à história, pois o nome a incomodava demais. Mortimer Mouse, era o nome escolhido por Walt para o camundongo, mas sua esposa considerava aquele nome muito feminino, muito feio e foi então que ela sugeriu o nome que transformaria toda a história da animação, Mickey. A partir desse momento, era o momento de focar as energias nos três curtas remanescentes de Oswald e na nova história do mais novo personagem.
A primeira história de Mickey Mouse foi Plane Crazy (1928), no qual, inspirado no voo solo de Charles Lindbergh sobre o oceano Atlântico em 1927, o personagem constrói um avião para impressionar uma rata. A produção desse curta foi bem pressionada, pois Walt, além de esconder dos outros animadores, aqueles que se voltaram contra ele por conta de Mintz, também queria o material o mais rápido possível para poder encontrar um distribuidor para poder salvar sua empresa.
Porém, infelizmente não foi o suficiente, porque mesmo terminado a tempo, não conseguiu que ninguém o produzisse. E como não estamos falando de qualquer pessoa, portanto, Walt Disney continuou seguindo em frente, aprendeu com tudo aquilo que adquiriu de suas experiências e não parou de criar histórias sobre o Mickey até que,em um estalo, ele resolveu criar algo realista, deixar de lado os desenhos mudos e inserir som em seus curtas.
Para Walt não bastava uma trilha sonora, tinha que ser algo a mais, tinha que ser como, segundo um dos animadores que estava trabalhando para ele “como se o barulho estivesse vindo direto das coisas que o personagem fazia“.
Foi um algo trabalhoso, combinar o som e imagens, a velocidade do filme com o som, mas depois de muito trabalho, Steamboat Willie (1928), o primeiro curta animado sonorizado que seriam como conhecemos os desenhos animados atualmente, em que suas ações possuem efeitos sonoros, além da trilha sonora que também o acompanha — teve sua estreia no dia 18 de Novembro de 1928, no cinema Colony.
O sucesso do público foi tanto que uma das críticas da Variety foi “Não foi o primeiro desenho animado a ser sincronizado com efeitos sonoros, mas foi o primeiro a atrai atenção favorável.”. Mickey Mouse estava caindo no gosto das pessoas, foi distribuído por toda uma rede de cinemas chamada Stanley-Fabian-Warner e os direitos estrangeiros da série do camundongo foram vendidos. A partir desse momento, Walt e Roy começaram a faturar, mas mesmo assim precisavam de mais dinheiro para o estúdio e assim, mais trabalho.
Steamboat Willie:
Mickey estava faturando um bom dinheiro para os irmãos, no entanto, devido à situação que tinha acontecido com Oswald, Walt começou a ficar receoso sobre sua dependência com o personagem e, então, começou a pensar em uma nova alternativa para continuar fazendo animações, exibindo-as e, claro, faturando.
Em 1929, em uma das viagens a Nova Iorque, Carl Stalling, compositor que conheceu em Kansas e que o ajudou com as músicas dos curtas antecessores a Steamboat Willie (1928), sugeriu que a nova série animada fosse uma novidade musical, que os desenhos fossem animados em função da música, e como primeira animação, ele sugeriu que esqueletos dançassem ao som da “Marcha dos Anões“, de Edward Crieg.
Com a aprovação do Walt, o curta The Skeleton Dance (1929) foi produzido, mas novamente, encontraram dificuldades na hora de distribuir, pois os distribuidores acharam a dança dos esqueletos repulsiva. Walt acreditava que, apesar de ser algo diferente, seria uma animação que o público iria adorar. Sem contar que Pat Powers — pessoa para quem vendeu o sistema de som usado por Walt para criar os sons de seus curtas e a quem o ajudava a distribuir os curtas — havia pensado em uma série de doze curtas. Apesar de tudo, quando conseguiram exibir o curta no Carthay, houve boa aceitação do público, tanto que aumentaram o período de exibição e até o empresário do cinema Roxy, de Nova Iorque chamou o curta como “sem exceção, uma das coisas mais inteligentes que já vi, e como você sabe, o público se divertiu a cada momento do filme.”
Naquele mesmo ano, além de faturar muito com as animações de Silly Symphonies e de Mickey, Walt estava preenchendo sua equipe que, em 1929 produziu trinta e seis novos desenhos animados. Nesse período, com o crescimento de sua popularidade, Walt estava focado em fazer Mickey Mouse o personagem mais conhecido e, para isso, ele queria passar por cima Félix, o que não levou muito tempo para isso acontecer, pois como seu criador não tinha a mesma visão que Walt, rapidamente seu personagem caiu no esquecimento e foi então que Mickey tinha a grande chance de ganhar o mundo.
The Skeleton Dance:
Em 1930, o que empurrou mesmo a popularidade do Camundongo foi o Clube do Mickey Mouse, um projeto criado pelo gerente de um cinema no subúrbio de Los Angeles, no qual levava as crianças ao seu cinema para, além de assistir aos desenhos, tocar em uma banda improvisada fantasiadas de Mickey Mouse. Após Walt ter sido convidado para participar de uma dessas tardes, ficou impressionado com a recepção das crianças e, com a ajuda desse gerente, fez o clube crescer. Músicas foram ensaiadas, atividades foram criadas em volta de trazer toda essa essência do Mickey para as crianças. Foi uma troca justa, os clubes ajudaram a popularização do personagem e o Camundongo foi responsável por impulsionar tudo isso.
Isso foi só o começo, a partir desses clubes, fizeram parte também de sua popularização as histórias em quadrinhos publicadas em jornais e as quais foram sucesso instantâneo na sua estreia, bonecos de Mickey, livro de histórias, um merchandising completo. Em 1930, quando tentavam distribuir Springtime, uma outra Silly Symphony, Pat Powers se mostrou mais traiçoeiro para Walt e Roy do que Charles Mintz.
Após Walt receber uma queixa que o novo curta não estava tão agradável devido à sua disputa com Powers, ele recebeu uma carta de menosprezo de Powers, além de não pagar o dinheiro que devia aos irmãos Disney, ele convenceu Ub Iwerks, animador com quem Walt trabalhou desde o começo, a sair da empresa e firmar contrato com outra pessoa e até mesmo abrir seu próprio estúdio, e ainda, após sair da empresa ameaçou processar os Disney por conta dos direitos autorais de Mickey.
Além disso, na mesma época em que Iwerks saiu, Stalling também pediu as contas, pois queria os royalties de uma música que criou, mas Walt não achava certo, pois ainda não tinha uma atitude totalmente cooperativa e isso fez com que o compositor também saísse da empresa, recebendo apenas um cheque feito pelo contador.
Depois disso, Walt e Roy focaram em se distanciar da distribuição com Pat Powers, focar somente em distribuir com a Columbia e também nos esforços para popularizar ainda mais Mickey Mouse. No início dos anos 1930, o Camundongo era adorado não apenas nos Estados Unidos, como também em países europeus. Muitos tentam explicar o porquê de seu sucesso, o porquê das pessoas gostarem de um camundongo gordinho e feliz, tanto que, para historiadores culturais, essa época é considerada a Era de Mickey Mouse devido à forma como o personagem enfrentava as rupturas e agonias, e como também era remédio para elas.
Durante os anos seguintes, o Walt Disney Studios era visto como pioneiro em tudo aquilo relacionado à animação. Novas formas de avaliar, de interpretar, de criar, tudo era feito lá dentro. O público demandava dessa perfeição, tudo tinha que sair redondo, perfeito, limpo e inteligente. Walt acreditava no potencial de todos seus animadores e os mesmos acreditavam em si e no próprio potencial, por isso, cada detalhe presente na animação final era o resultado do melhor esforço de cada um.
Essa dedicação também passou a ser cobrada para criação de novos personagens, eles deveriam ser desenhos com os quais as pessoas pudessem se relacionar, tinha que ter corpo e alma. Como Walt disse uma vez “Você tem que retratar não apenas que essa coisa está se movendo, mas que, na verdade está viva e pensa.” E era isso que ganhava o público, ter um personagem com profundidade emocional e psicologia. Por isso, quando foi exibida, em 1934, pela primeira vez o curta de Pluto, chamado Playful Pluto, no qual o cachorro luta com um papel de pegar moscas, todos no estúdio deliraram, pois conseguiam ver que a cabeça do animal estava realmente funcionando para resolver a situação, ali existia profundidade emocional.
Suas animações, segundo Walt Disney, eram uma caricatura da vida, ou seja, não eram uma imitação da vida como ela é, mas até onde você consegue enxergá-la. Se antes ele criava universos paralelos, naquela época ele criava, da forma mais realista possível, o impossível. Contudo, novamente, Walt Disney não se contentava apenas com isso, não se contentava em ter inteligência, delicadeza, perfeccionismo e som nos seus desenhos sem ter as cores. Por ser um homem ao seu tempo, ele simplesmente não esperava que a tecnologia o acompanhasse, por isso, passou a inventar diferentes maneiras que pudessem trazer cor aos seus desenhos animados.
Suas preces foram atendidas quando, em 1932, a companhia dedicada ao filme colorido Technicolor anunciou um processo de três cores. Após algumas discussões com Roy para convencê-lo a criar curtas coloridos, mesmo sendo muito mais caros, Walt decidiu transformar Flowers and Trees (1932), curta já em produção em preto e branco, em colorido. Com o apoio da Technicolor, o departamento de pintura fez as alterações que deveriam ser feitas para que pudessem pintar em cores. Walt estava extasiado. Convidou um amigo para assistir e ele o recomendou exibir para outras pessoas influentes de Hollywood. O resultado foi grande, o curta foi programado para ser exibido no Grauman’s Chinese, junto com a estreia de um filme da MGM, que garantiria o sucesso.
Tudo ocorreu como se esperava. O curta foi um sucesso, ganhou um prêmio da Academia de Cinema, resultou em uma avalanche de encomendas e reservas para exibição, e um dono de cinema disse que o desenho “era a criação de um gênio que estabelece um novo marco no desenvolvimento cinematográfico“. Esse foi o estopim para o fim dos desenhos em preto em branco. Walt não via mais a mesma vida que encontrava nos desenhos em preto e branco. Então, embora custasse muito mais para o estúdio, ele estava disposto a fazer o que fosse.
Flowers and Trees:
https://youtu.be/VTuIb7BIFqk
Tão disposto a ponto de negociar com a Technicolor para ter direito exclusivo de usar o processo. A empresa aceitou, pois não estava com qualquer estúdio, e sim, com os dos Irmãos Disney, o que resultaria em grande exposição do processo de cores. Além disso, a empresa deu um empréstimo para que a Disney arcasse com toda a mudança para o processo de colorização e ainda, Walt concordou em fazer treze desenhos Silly Symphonies em troca do uso exclusivo do processo de três cores por dois anos, o que lhe daria uma vantagem significativa aos concorrentes.
O próximo grande projeto de Silly Symphony, dentro esse acordo de exclusividade com a Technicolor, foi o curta dos Três Porquinhos, que foi um dos mais extraordinários curtas já produzidos pelo estúdio. Walt acreditava que a história tivera personagens bem escritos e desenvolvidos e queria passar isso para as telas. Para esse curta, ele usou o talento de uma equipe menor de animadores, quatro para ser mais exata, Norm Fergunson, Dick Lundy, Art Babbitt e Freddie Moore.
Claro que todo trabalho bem executado tem seu devido resultado e com os Três Porquinhos não podia ser diferente. O público e a crítica consideraram essa Silly Symphony como a melhor coisa que Walt já fez, a música “Quem Tem Medo do Lobo Mau” cativou e encantou as pessoas, foi uma melodia que grudou na cabeça das pessoas e também foi mais um curta agraciado pela Academia. Assim como Steamboat Willie (1928), Os Três Porquinhos trouxeram para a empresa muito mais que valor líquido, mas também reconhecimento no mundo do cinema.
De acordo com Walt, “a principal coisa sobre ‘Os Três Porquinhos’ foi um certo reconhecimento da indústria do cinema de que essas coisas podiam ser mais que um rato saltitando em volta ou algo assim“. O segredo das histórias da Disney que conhecemos hoje surgiu nesse curta que foi, além dos personagens com personalidades bem produzidas, as canções. Mesmo depois de assistirem ao curta, as pessoas ficavam cantarolando ao longo do dia.
The Three Little Pigs:
https://youtu.be/9kT2Kt8TVPU
Com aproximadamente duzentos empregados dentro dos estúdios da Disney, Walt estava a todo vapor, mas não deixou de lado Mickey Mouse. O Camundongo tinha sido um pouco ofuscado pelos porquinhos, mas Disney estava determinado a mudar isso quando contratou uma companhia chamada Kamen-Blair a fim de ajudá-lo com as peças publicitárias para promover o famoso camundongo e também a distribuição dos curtas. Então, a empresa Disney, nesse momento tinha duas divisões, a Walt Disney Enterprises, que cuidava da parte comercial, como o merchandising do Mickey, do Clube do Mickey Mouse e da distribuição dos filmes; e a Walt Disney Productions, cuidando das produções dos filmes.
Por conta de Kamen, dono da empresa que estava com a Walt Disney Enterprises, Mickey Mouse estava por todos os lados, desde caixas de cereais, até jóias da Cartier. No entanto, todo exibicionismo com Mickey estava criando limites para a criação das histórias, pois ele passou a ser um personagem intocável para certas situações, então o estúdio da Disney começou a pensar em um novo astro para acompanhá-lo.
A ideia era ser, segundo a biografia de Walt Disney por Neal Gabler, “um personagem que pudesse gerar piadas que Mickey agora não podia e um personagem imune às expectativas de civilidade que sobrecarregavam Mickey“, ou mais resumidamente, um anti-Mickey. Diferentemente do processo comum, para a criação deste personagem foi encontrado primeiro a voz e depois o desenho foi feito.
O personagem criado através da voz de um entregador de leite, foi Pato Donald, egoísta e irritado. Sua primeira aparição aconteceu em 1934 no curta The Wise Little Hen. Apesar de não ter tido tanto sucesso assim, o curta seguinte, Orphan’s Benefit (1934), no qual ele aparece junto ao Mickey, foi gradativamente ganhando o público pelo simples fato das pessoas não concordarem com suas ações, o que por sua vez, não resultou em críticas negativas. Os garotos no cinema vaiavam Donald, o que começou a mostrar como sua personalidade irritada e egoísta fazia algumas pessoas identificarem outras pessoas nele, enquanto Mickey, passava a ser mais educado, mais polido.
The Wise Little Hen
Pato Donald foi a primeira estrela da Disney a crescer e fazer sucesso dentro dessa estética, dessa realidade caricaturada. Em 1935, o personagem teve seus traços mais arredondados para ficar mais esteticamente bonito e expressivo. No mesmo ano, ele ganhou sua série de livros e depois ganhou sua própria série de desenhos animados. Com tudo isso, Walt e seus personagens foram ganhando cada vez mais admiradores, mais seguidores, mais adoradores de suas histórias e canções.
Walt Disney disse uma vez que gostaria de ser lembrado como contador de histórias e, apesar de, naquele ano, não estar mais se envolvendo diretamente com a animação no sentido de fazê-las, ele exigia a excelência de todos, pois afinal além de ser o nome dele que estava sendo carregado, ele passou a criar um legado para sua empresa. E este limite estava pronto para ser mudado, mais uma vez.
A vontade de Walt Disney em criar um longa-metragem surgiu por volta de 1932, quando Roy estava vendo se os direitos de Alice no País das Maravilhas estava disponível, pois diziam que era domínio público. Ao mesmo tempo, a editora Simon & Schuster tentava convencer Walt de produzir um longa de um romance de Felix Salten chamado Bambi: Uma Vida na Floresta, sobre o ciclo de vida de um veado. Enquanto Walt estava hesitando em fazer, apareciam também diversas sugestões de filmes e também a pressão de uma artista em fazer um filme misturando atores com animação de Alice, porém a Paramount foi mais rápida e começou a produzir um sobre a mesma história em 1933.
A decisão de Walt quanto à produção de um longa-metragem, foi na mesma semana de estreia do curta The Three Little Pigs, em que mandou registrar o nome Snow White e justificou a escolha por conta do material estético que acreditava que pudesse fazer algo excêntrico com os sete anões, além de ser uma história conhecida e ter assistido à versão cinematográfica do conto em Kansas. Para a construção do longa, Walt pegou elementos de diversas versões de Branca de Neve, da que ele lembrava que tinha assistido, de Jessie Braham White e, assim, foi construindo toda história.
Para todos que contava sobre o projeto do longa-metragem e sobre a história, as pessoas ficavam emocionados com tamanha a profundidade e o novo olhar que Walt havia dado à história da jovem com os lábios rubros como a rosa. Quando apresentou a ideia, em 1934 para os animadores, após três horas encenando todos os personagens e falas, a equipe ficou animada e estava ansiosa para passar ao papel e, futuramente para a tela, tudo aquilo que eles tinham visto Walt interpretar.
Quando começaram a produção, Walt dividiu o longa-metragem em blocos, assim como fazia com os desenhos, para dar mais atenção aos blocos especiais e depois a algum momento menos importante. Da mesma forma, enquanto o departamento de enredo criava os diálogos, o departamento de música já estava começando a pensar na criação das canções. À medida que o filme ia ganhando desenvoltura, os olhares começavam a se expandir. Walt ia crescendo junto ao filme.
Walt Disney decidiu que não apressaria e faria tudo o que fosse possível para melhorar toda cena que tinha possibilidade de ser melhorada. Se tivesse que desrespeitar o cronograma, que assim fosse. O filme ficaria pronto dentro do tempo que fosse preciso. Walt começou a desenvolver uma tireoide devido ao estresse e pela falta de descanso que estava tendo por conta do filme,. Por isso, ele e Roy viajaram com suas esposas e, ao chegar à Europa, perceberam seu reconhecimento e voltaram prontos para terminar o longa.
Walt passou a intercalar a supervisão dos curtas e do longa-metragem e, para que tudo ficasse perfeito, ele mandava todo os animadores envolvidos no longa-metragem irem assistir de duas a três aulas por semana de análises de ação e apresentações recentes de filmes com atores, além de analisarem pequenos pedaços dos filmes em que a animação era passada de todos os jeitos. As aulas eram gravadas e depois passadas para o resto do estúdio. Walt notou uma evolução significativa na equipe mais jovem que contratara para ajudar na produção do longa-metragem.
Para ele, essas melhorias só fariam com que Branca de Neve chegasse à tão desejada perfeição. Após todo esse treinamento para os animadores, Walt definiu que animariam na seguinte ordem: primeiro as cena cômicas, depois as assustadoras e, por fim, as cenas tristes. Segundo ele, a animação iria se aprimorando durante o processo. Os talentos e personalidades de cada animador também foram de grande influência, pois por exemplo, o animador que era mais bravo, mais enfezado, foi quem animou Zangado, e o que era mais feliz, animou o anão Feliz.
A magia estava apenas começando. Na verdade, a magia emanava pelos animadores. Todos eles faziam aquilo por gosto, ele não tinham que fazer, eles simplesmente queriam fazer e isso era motivação para qualquer um ali dentro. Dentro do longa-metragem, Walt dava suas contribuições conceituais, detalhes sobre como os dos galhos pareceriam vivos na floresta, quem choraria quando visse a personagem em coma e outros.
No verão de 1936, se deu o início da animação final do longa-metragem. Durante esse processo, os nomes dos anões tinham sido definidos, depois de um trabalho que envolveu o comportamento de alguns comediantes e os nomes que chegaram a esses personagens, está ligado diretamente com elementos de sua personalidade, tanto que, no caso e Dunga, Walt o menciona como “um ser humano com intelecto e maneirismos de cachorro“. E em 08 de janeiro de 1937, ele divulgou os nomes aprovados para o longa.
No ano da estreia, foram feitos os ajustes finos. Os diálogos foram gravados antes mesmo das cenas serem animadas, e isso também vale para as canções que tiveram suas gravações em Janeiro do ano anterior. Além das vozes, as cores passaram a ser um assunto delicado para Walt, pois não queria algo parecido aos desenhos animados, queria buscar algo mais profundo, suave, modelado. Eles estavam correndo contra o relógio, algumas cenas tiveram que ser aceleradas, outras cortadas.
Em 14 de Setembro, quando exibiu o filme para alguns executivos, muitos ficaram entusiasmados e outros elogiaram pela coragem e afirmaram que ele ganharia muito dinheiro. Mesmo com muitos falando isso, Walt estava cansado do filme, chegou a dizer para um jornalista que estava tão cansado de assistir ao longa que só enxergava os pontos que poderiam ser melhorados. E no meio desse processo, tinha toda a questão da divulgação e distribuição.
A ideia de Walt não era promovê-lo por ser algo novo, mas por ser algo interessante e que o longa-metragem conseguisse caminhar sozinho. Todos os esforços necessários haviam sido feitos para divulgar Branca de Neve e os Sete Anões, até que chegou o grande dia, 21 de Dezembro de 1937, no Carthay Circle. Como muitos previam, o filme foi um sucesso, a cena em que Branca estava deitada na lápide fez homens e mulheres chorarem. Ao final, a plateia estava extasiada, o sucesso foi incrível, nem os animadores acreditavam naquilo.
A crítica explodiu, só falavam de Branca de Neve e de Walt Disney. Toda sua equipe superou mais um obstáculo e fez história no mercado cinematográfico. A partir desse momento, Walt sabia que não poderia simplesmente voltar com Mickey e Pato Donald, ele tinha novas aventuras para seguir, ele tinha que seguir em frente, achar novos obstáculos, criar novos marcos na história.
O que era conhecido como um simples desenho animado, tinha se acabado ali. Bom, por enquanto, terminamos por aqui a primeira parte do especial sobre Walt Disney. Conte para nós nos comentários o que vocês acharam e o que esperam das próximas partes!