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Filmes para crianças: Animações são voltadas apenas para o público infantil?

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“As pessoas acham que fazemos filmes para crianças. Não. Só funciona se fizermos um filme que nós mesmos gostaríamos de ver.”

Edwin Catmull

Um homem mata por engano a mãe de um jovem garoto e, para se redimir, terá que tomar conta da criança. Mas há um porém, ele precisa admitir seu crime para aquele que deixou órfão, na esperança de ser perdoado e quebrar a maldição que o castiga. Tudo isso enquanto foge de um persistente caçador. Você assistiria a esse filme? E se eu dissesse que é o resumo de um desenho animado?

A sinopse acima foi baseada no roteiro da animação Irmão Urso, lançada em 2003, pelos estúdios Disney. Se você é um Camundongo adulto, experimente perguntar aos colegas de trabalho, e parentes, se eles assistiram ao filme. Há grandes chances de nem ao menos terem dado uma chance para a história, já que foi contada em forma de musical e animação.

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Quando somos criança, nos cercam de desenhos com belas lições de moral, na esperança de que no tornemos adultos melhores. Ou que pelo menos paremos de fazer bagunça por alguns minutos e deixemos os adultos descansarem.

Os anos passam e, aos poucos, as crianças que antes passavam dias inteiros assistindo aos clássicos A Pequena Sereia (1989), A Bela e a Fera (1991), Aladdin (1992) ou O Rei Leão (1994) crescem. E se tornam adultos que procuram encontrar seu lugar nesse mundo confuso.

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E, de uma hora para outra, passamos a ouvir frases como “Você já passou da idade de gostar de desenho”; ou “Nossa, você ainda gosta disso?”; ou ainda “Desenho? No cinema? Ah, mas eu não tenho nenhuma criança para levar!”; e a melhor, “Ah não, ‘filminho’ de princesa não!”.

Cada vez que assisto a grandes animações, fico mais perplexa com tais declarações. Como, exatamente, um filme de ficção científica, como Atlantis: O Reino Perdido (2001), ou a adaptação de um clássico literário, como O Corcunda de Notre Dame (1996) são apenas para crianças?

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“Você está morto se focar apenas nas crianças. E, de qualquer forma, adultos são apenas crianças crescidas.”

Walt Disney

Acredito que para alguém classificar animações como produtos voltados somente para o público infantil, falta-lhe informações, conhecimento sobre a mídia. As pessoas veem crianças com bonecos de personagens animados populares e não percebem que há, em uma mesma história, mensagens distintas para diferentes tipos de audiência.

Já aqueles que assistem às animações e permanecem com tal visão, são, para mim, pessoas limitadas. É preciso possuir sensibilidade, ser capaz de ver além das cores vibrantes e caracterização fofa dos personagens, ler nas entrelinhas.

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Divertida Mente (2015), por exemplo, traz como tema, de maneira sutil, a depressão. Ensina-nos que precisamos buscar ajuda e que é bom e normal sentirmos tristeza em determinados momentos. Toda essa trama é contada por personagens carismáticos e, à primeira vista, infantis.

Pocahontas (1995), conta uma história real que se passa no período das grandes navegações, com as devidas licenças poéticas. E tem como plano de fundo a intolerância entre diferentes culturas, culpadas de tantas morte.

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O que dizer de Mulan (1998), a história de uma épica guerra, vencida pela inteligência de uma simples camponesa? Ou A Bela e a Fera (1991), que nos ensina a ver a beleza interior? Ou Ratatouille (2007), que nos diz que nosso único limite para o sucesso é nossa alma e força de vontade? Todas mensagens válidas para a vida adulta de todos nós.

A ideia de filmes Disney serem apenas infantis é tão disseminada erroneamente, que ser comparada a uma princesa se tornou algo pejorativo, sinônimo de “mimada”. E, no entanto, não há um desenho que reforce esse estereótipo.

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“Quando alguém deixa de ser criança? Podemos afirmar que uma criança alguma hora é eliminada de um adulto? Acredito que o tipo certo de entretenimento pode atrair todas as pessoas, jovens ou velhas.”

Walt Disney

Pelo contrário, as princesas famosas de nossa infância lutam por seus objetivos, são justas, não julgam outros e se sacrificam por aqueles que amam. Ser chamada de princesa, seja você criança ou mulher, deveria ser considerado um dos maiores elogios.

Há também aqueles que acreditam que todos os desenhos precisam ser engraçados de forma escrachada, e ignoram a mensagem da história. Saem das salas de cinema após assistirem a obras de arte como Wall-E (2008) afirmando “Nossa, que filme ruim. Eles nem falam nada.”

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Utilizei exemplos dos estúdios Disney, mas a verdade é que o campo da animação é imenso. Não podemos esquecer, por exemplo, das obras orientais, cheias de metáforas e temas densos. Ou os desenhos feitos já visando o público adulto, com críticas políticas, sociais e humor ácido, como Family Guy (1999 – atual).

Não penso de maneira alguma que todos deveriam gostar de desenhos. Sei que o mundo animado não agrada a todos os paladares, assim como alguns espectadores não suportam terror ou musicais. O que acredito ser prejudicial são aqueles que nem ao menos dão uma chance à mídia, devido aos seus conceitos pré-estabelecidos, e caçoam daqueles que são fãs da arte.

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Se você faz parte do grupo daqueles que não conseguem gostar de animações, seja mais tolerante com aqueles que escolhem viajar para terras distantes da imaginação. A ficção é utilizada para explicar a realidade, e, muitas vezes, tais filmes dão esperança ao espectador, renovam suas forças. Uma obra vista no momento certo pode mudar a sua vida.

Agora, se você aprecia animações, pegue na mão daqueles que não conhecem esse mundo mágico e os leve até lá. Eles dirão “Ah, mas eu já assisti quando era criança e não gostei”. Ignore-os e os aconselhe a dar outra chance, pois podem se surpreender. É preciso ser mais velho para entender todas as tramas de uma história e, às vezes, você se sente como se estivesse assistindo a um filme totalmente novo.

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“Contos de fada são mais do que reais. Não porque dizem que dragões existem, mas porque contam que eles podem ser derrotados.”

Neil Gaiman

Não podemos esquecer que desenhos são feitos por adultos. Expressam desejos, sonhos e ideais de adultos. Em nada são diferentes de filmes de super-heróis ou dramas premiados. Aliás, se me perguntarem, diria que alguns são ainda mais complexos. Afinal, eles te mostram a realidade, te fazem refletir e, de algum modo, você sai do cinema se sentindo otimista.

A discussão é longa, e abrange outros temas como o preconceito com contos de fadas e o que motiva os estúdios a torná-los sombrios na tentativa de atrair um público mais velho. Como fã, poderia continuar argumentando por milhares de linhas. No entanto, gostaria de saber a sua opinião. Não deixem de comentar, Camundongos! Já tiveram que justificar o fato de gostarem de filmes Disney para alguém? Ou acham que realmente essas obras são produtos feitos apenas para crianças?

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Escrito por Caroline

Designer Gráfico, Disney freak, viciada em café, quer ser roteirista e princesa quando crescer. Têm mais livros do que deveria e leu mais vezes “Orgulho e Preconceito” do que têm coragem de admitir.