Galavant: “Por que não saímos para jantar hoje à noite? Em algum lugar à luz de velas.”
Richard: “Então, em qualquer lugar.”
Sem as músicas compostas por Alan Menken e Glenn Slater, Galavant, com certeza, perderia boa parte do encanto e graça, senão todo. A parceria deles, também responsáveis por Nem que a Vaca Tussa (2004) e Enrolados (2010), é imprescindível para a série funcionar perfeitamente e se destacar de forma positiva dentre as demais comédias televisivas. E Aw, Hell, the King e Bewitched, Bothered, and Belittled corroboram esse argumento.
Cada música é única e divertida. Até mesmo as mais fracas colaboram para desenvolver os arcos narrativos em algum nível. O fato da equipe de roteiristas transformarem toda a cantoria em motivo de piada é enriquecedor. Quando Galavant e Richard chegam ao reino do segundo e descobrem qual o motivo para o sumiço do castelo, o herói revira os olhos ao perceber os aldeões se preparando para cantar sem motivo.
De fato, não há quaisquer razões para os personagens cantarem de repente, e isso torna toda a situação ainda mais engraçada, porque é como se todo o elenco estivesse enfeitiçado e precisasse cantar para expor sentimentos ou explicar algo. “Build a New Tomorrow“, por exemplo, apresenta o novo contexto do antigo reino de Richard, o qual agora vive sob um regime de democracia, e faz críticas à nossa sociedade. Aliás, toda a trama critica nossa comunidade.
“If I Were a Jolly Blacksmith” chega na sequência e permite Richard dramatizar a perda de seus poderes de monarca e de perspectiva para o futuro. Sem saber qual o seu propósito na vida, o rei procura por um novo trabalho, passando inclusive pelo cargo já ocupado de bêbado da aldeia, e acaba decidindo se tornar o escudeiro de Galavant. Para acompanhá-los na aventura e completar o trio, conhecemos Roberta (Clare Foster), uma amiga de infância de Richard.
Em uma atmosfera semelhante à de “Kiss the Girl“, canção de A Pequena Sereia (1989), com direito a Galavant se comportando como Sebastião e criando o clima com os instrumentos, “Serenade” faz parte do plano de Galavant para aproximar Richard e Roberta. A guerreira, embora com poucos diálogos, mostrou uma química interessante com o atrapalhado rei — a cena na qual ele se lembra dela, em meio à batalha, é hilária. E convenhamos, Richard merece alguém para amá-lo de verdade.
Já em Hortênsia, Isabella conhece Wormwood (Robert Lindsay), um maligno planejador de casamentos. Através de “The Happiest Day of Your Life“, descobrimos o seu plano nefasto de controlar a princesa usando uma tiara encantada e dominar o reino. A música é empolgante e, de certo modo, replica o estilo de “Under the Sea“, outra composição do longa-metragem estrelado por Ariel, logo, é impossível não se deixar contagiar pelo ritmo.
Isabella, no entanto, parece estar perdendo o brilho conquistado na primeira temporada. Isolada de Sid e Galavant, a princesa definha a olhos vistos e precisa estar cercada de outros personagens para se tornar interessante. Agora, com a fuga de Chefe e Gwynne — depois de outro dueto cômico e sensacional, dessa vez envolvendo o desconforto da serviçal com a melhora de vida —, os roteiristas precisarão ser sagazes para não deixar sua trama cansativa.
Gareth e Madalena, quem diria, ganharam novas camadas e facetas com essa dupla de episódios. O antigo guarda-costas mostra sinais de arrependimento e remorso por ter traído o melhor amigo e assumido o comando de Valência. Apesar da adorável canção de ninar de Sid, a história dos pesadelos não teve uma conclusão satisfatória. Ainda há espaço para a mesma ser melhor desenvolvida e Galavant tende apenas a ganhar com o aprofundamento dos coadjuvantes.
A princípio, a visita de Madalena ao jantar das rainhas malvadas soava desconexa e sem propósito, quase uma simples desculpa para humilharem e exibirem o quão cruéis as pessoas podem ser com as outras apenas por diversão. No entanto, o desfecho é comovente e ganha ainda mais força com a belíssima letra de “What Am I Feeling” e a forte interpretação de Mallory Jansen. Afastar a perversidade e mostrar o sofrimento da rainha a torna mais complexa e crível.
Outro ponto positivo da trama foi criar novos laços afetivos entre Madalena e Gareth, os quais demonstram quanto os roteiristas conhecem os personagens e sabem como explorá-los, mesmo com a alteração das dinâmicas entre eles. Depois de disporem as peças sobre o tabuleiro em uma ótima estreia, os movimentos começam a ser feitos e o jogo fica cada vez mais atraente. Galavant galopa rumo a uma temporada melhor do que a primeira!