Quando estamos, em uma sala de cinema ou mesmo em uma sala de televisão, assistindo a algum longa-metragem de animação, estamos visualizando o resultado de muitos anos de trabalho árduo. Enquanto uma produção com atores demora cerca de doze ou vinte e quatro meses para ser finalizada, uma obra animada leva, pelo menos, o dobro de tempo para ser desenvolvida – em média, são quatro ou cinco anos de produção.
A equipe criativa precisa, literalmente, criar um mundo do zero, usando a imaginação e referências da realidade. Personagens, cenários, objetos, roupas, animais, elementos da natureza. Tudo precisa ser pensado e criado pelos artistas envolvidos no projeto. E no caso de Os Incríveis 2, apesar de se tratar de uma continuação, os animadores não tiveram uma carga de trabalho menor. Para cada uma das cenas, é necessário haver a colaboração de muitos departamentos.
O primeiro – e mais essencial – ponto dessa longa jornada é o roteiro. A partir dele, os artistas de história elaboram os storyboards, os quais são cruciais para os cineastas visualizarem como a trama irá se desenrolar. É uma representação simplificada da cena final. O Pixar Animation Studios criou quase cinquenta e três mil storyboards para a segunda aventura da Família Pêra. Desses quadros, quatrocentos e dez foram feitos apenas para a cena de abertura, na qual os personagens tentam impedir o Escavador de roubar um banco.
“Todos os nossos filmes começam no departamento de história (…) É um modo de trabalho relativamente rápido, através de desenhos, música e vozes temporárias, efeitos sonoros. Também serve como um guia enquanto [o filme] vai sendo produzido,” explica o supervisor de história Ted Mathot ao Oh My Disney. O processo de criar os storyboards ajuda a equipe a desenvolver o ritmo da animação e adiantar algumas cenas, pois nem sempre o roteiro está finalizado quando a produção começa.
Isso também permite aos artistas fazerem os devidos ajustes, a fim de melhorar certos pontos da trama. Por exemplo, a cena de Helena tentando parar o sequestro de um trem cheio de passageiros era, a princípio, uma sequência totalmente focada na heroína, mas a equipe sentiu que faltava algo a mais, tanto para expandir a visão de mundo quanto ampliar a história. A solução encontrada foi colocar a personagem para interagir com a polícia local e receber uma ligação de casa.
“Porque esse é um filme dos Incríveis, nós tivemos de balancear o lado mundano com o super. Nós percebemos que [Helena] era super todo o tempo, então, nós tínhamos de colocar algo do cotidiano ali. [O diretor] Brad [Bird] teve a ideia de inserir uma ligação telefônica feita pelo Flecha, e é a coisa mais inócua de todas. Vamos colocar isso no pior momento possível, quando Helena está dirigindo a cento e sessenta quilômetros por hora no meio do tráfego pesado,” comenta Mathot.
Com os storyboards finalizados e a narrativa quase se completando, embora muitas cenas ainda possam sofrer mudanças durante a produção, o departamento de arte e os designers de produção entram em ação para conceber o estilo do filme, logo, o próximo estágio é a criação das artes conceituais. Normalmente, essas artes são expostas em uma parede, permitindo vislumbrar o tom do filme de uma única vez. Como a estreia de Os Incríveis 2 foi antecipada em um ano, essa etapa não foi finalizada.
No entanto, isso não impediu os artistas de criarem algumas ilustrações para dar uma noção da evolução e progressão visual da continuação. As artes conceituais ajudam em um planejamento mais detalhado de cada uma das cenas e servem de referência para os animadores saberem o que precisa ser criado nelas. Elas atuam como uma espécia de manual de quais cores devem ser utilizadas e de qual design deve ser empregado para os personagens, os ambientes e afins.
Dando continuidade, a parada seguinte é reunir os artistas técnicos para construir os cenários e criar os personagens. O departamento de layout analisa as informações oferecidas pelos artistas de história e designers de produção e descobre a melhor maneira de traduzi-las para as telas. Inicialmente, a equipe desenha formas básicas e, depois, pinta ou aplica texturas e padrões a essas figuras, com o intuito de torná-las tão realísticas quanto possível dentro do contexto da produção.
Uma câmera virtual, de acordo com o Slash Film, é inserida dentro da cena para dar aos animadores uma visão de como ela deve ser construída. Então, os personagens são posicionados de modo grosseiro, e seus movimentos devem combinar com o ângulo de câmera escolhido. Ao realizarem esse processo, o diretor, o editor e os animadores conseguem definir qual a melhor composição, tempo e intenções de cada uma das cenas.
Mahyar Abousaeedi, supervisor de layout no longa-metragem, comenta o propósito dessa fase da produção: “O nosso objetivo com o layout é traduzir cinematograficamente esses incríveis storyboards (…) Os quadros estão carregados com toneladas de informações, mas, quando você adentra em um espaço, podem existir diversos pontos cegos. Esses são alguns dos quebra-cabeças que nós estamos tentando desvendar conforme damos vida a esses personagens.”
Em alguns casos específicos, a equipe precisa trabalhar com especialistas de outras áreas – um coordenador de acrobacias auxiliou os artistas de layout a decifrar as logísticas do momento do resgate do trem – ou refazer uma única cena seis ou sete vezes para obter o melhor visual possível. Uma das dificuldades enfrentadas foi a criação da Elastimoto, o novo veículo da Mulher-Elástica, o qual deveria ser veloz e servir como uma extensão da super-heroína.
Finalizada a etapa do layout, o departamento de animação entra para criar a ilusão de vida. Assim, os animadores posicionam os personagens de acordo com o resultado final esperado. Para conseguir um movimento genuíno, eles estudam vídeos deles mesmos ou dos atores vocais. Nesse processo, o qual pode durar de seis a oito semanas para uma única cena, as expressões faciais e os movimentos corporais de cada um dos personagens são finalizados.
Kureha Yokoo, uma das animadoras de Os Incríveis 2, diz que o método de criação e animação da sequência, o qual envolveu examinar centenas de desenhos, modelos e muita pesquisa, foi o mais cíclico na história do estúdio do Luxo Jr. “Porque muito da linha de produção estava acontecendo de forma simultânea, o processo foi realmente colaborativo e não linear, o que foi incrível… Arte, história, layout, animação. Tudo precisava ser resolvido ao mesmo tempo,” observa Yokoo.
Logo após a fase de animação, o longa-metragem entra no último estágio da produção: iluminação e efeitos visuais. Nessa etapa, a equipe cria as fontes de luz virtuais para iluminar os personagens e os cenários, sendo posicionadas para ressaltar os locais aos quais os cineastas querem que o público preste atenção. Também são adicionados elementos como poeira, fumaça, fagulhas, explosões e água. Porém, deve haver um equilíbrio na inclusão desses efeitos, pois a equipe não deseja roubar o foco da plateia.
Sendo assim, os artistas empregam softwares que imitam a física do mundo real, mas em alguns momentos, eles precisam ignorar certas leis em função de fazer uma cena mais atrativa visualmente ou para se encaixar melhor no estilo da história. Depois de aplicar a iluminação e os efeitos, as imagens são renderizadas em alta resolução. Cada quadro dessa aventura possui mais de dois milhões de pixels e, para cada segundo, são necessários vinte e quatro quadros.
“Geralmente, para a simulação de efeitos, dependemos da animação. (…) Por conta do nosso cronograma apertado, aconteceram muitas sobreposições. Muitas vezes, fazíamos as simulações [dos efeitos] e a animação mudava. Nós colaboramos muito mais do que normalmente fazemos,” esclarece Amit Baadkar, diretor técnico de efeitos. “Essas simulações podem levar de alguns segundos até algumas horas, dependendo da escala, dos detalhes e da complexidade dos efeitos.“
Há muito trabalho e dedicação envolvidos na criação de um longa-metragem animado. Cada detalhe, mesmo o mais insignificante e que sequer será notado, precisa ser criado e pensado de forma a trazer uma experiência fantástica para o público. E para a nossa sorte, já podemos assistir ao resultado final desse esforço coletivo, porque Os Incríveis 2 se encontra em exibição, com toda a sua perfeição técnica, nos melhores cinemas nacionais – não deixe de ler a nossa Crítica de Fã para Fã dessa tão aguardada sequência!
Trailer dublado de Os Incríveis 2
A família de super-heróis favorita de todo mundo está de volta em Os Incríveis 2. Mas desta vez Helena (voz original de Holly Hunter) está em destaque, deixando Beto (voz original de Craig T. Nelson) em casa com Violeta (voz original de Sarah Vowell) e Flecha (voz original de Huck Milner) no heroísmo do dia-a-dia da vida ‘comum’. É uma transição difícil para todos, tornada mais difícil pelo fato de que a família ainda não conhece os superpoderes do bebê Zezé. Quando um novo vilão traça um plano brilhante e perigoso, a família e o amigo Gelado (voz original de Samuel L. Jackson) devem encontrar uma maneira de trabalhar juntos novamente – o que é mais fácil dizer do que fazer, mesmo quando todos são incríveis.