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A Outra Ponta do Lápis | Alan Menken

Glen Keane deu origem a heroínas memoráveis e Andreas Dejà nos fez amar vilões. Sem dúvida, o trabalho dos animadores, somado às vozes de atores talentosos, é parte fundamental das histórias que tanto assistimos.

No entanto, há outro elemento essencial para que nossos desenhos favoritos permaneçam em nossa memórias: a trilha sonora. E nenhum profissional criou tantas melodias marcantes e foi tão versátil como aquele do qual falaremos hoje: Alan Menken.

Pense em sua trilha Disney favorita. Pensou? Bem, eu tenho quase certeza que ela será mencionada na coluna de hoje. Por isso, não esqueça de colocar fones de ouvidos e dar play nos videos, vamos relembrar esses clássicos juntos!

Antes, porém, iremos voltar no tempo e conhecer a história de Menken. Ele nasceu no dia 22 de julho de 1949, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Sua paixão por musicais não surgiu do nada. Na verdade, sua mãe, Judy, era dançarina.

E seu pai, Norman, apesar de trabalhar como dentista, tocava piano constantemente. Durante a infância, Alan e sua irmãs, Faye e Leah, sentavam na sala para ouvir o pai tocar. E adivinha só qual o estilo favorito de Norman? Trilhas de musicais da Broadway, claro, como A Noviça Rebelde e My Fair Lady.

Logo, o pequeno Alan descobriu que queria ser compositor e começou a praticar música tocando piano, o que não era uma tarefa fácil já que tinha déficit de atenção e era hiperativo. Estudar partituras era quase impossível.

Documentário sobre Alan Menken – Parte #01:

https://youtu.be/TTj6oR4kMC0

“Eu mostrei interesse por piano muito cedo, mas odiava praticar. Por isso, quando meus pais saiam da sala eu inventava minha própria versão da obra. Foi assim que comecei a compor.”

Alan Menken

Por isso, com o tempo, ele parou de tentar aprender perfeitamente pequenos trechos de músicas e começou a perceber a melodia como um todo e tocar e improvisar de ouvido. Quando seus professores perceberam sua facilidade, o incentivaram a compor suas próprias peças além de estudar de maneira tradicional.

Quando se tornou adolescente, Menken seguiu o caminho da maioria dos jovens e começou a ouvir The Beatles, The Stones e Bob Dylan. Ainda no ensino médio, Alan não sabia qual caminho seguir. Como alguém poderia viver compondo músicas? Ficou tão preocupado, sem saber o que fazer, que chegou a ter uma úlcera.

Documentário sobre Alan Menken – Parte #02:

https://youtu.be/oKoEP0HWenw

Ele não achava que poderia fugir do que parecia ser seu destino: se tornar um dentista. Todos os homens da família Menken seguiram essa profissão. Seu pai era dentista. O pai de seu pai era dentista. Seu tio era dentista.

Decidiu, então, cursar a New York University’s College of Arts and Sciences, onde fez algumas matérias em diferentes áreas como Medicina, Antropologia e Filosofia. No fim, se graduou em Musicologia. Durante a faculdade, não parou de compor musicais e por vezes matava aula para isso.

Já no fim do curso, ele escreveu uma peça que misturava balé e rock para a companhia de balé The Downtown Ballet Company. A obra se chamava Children of the World. Graças a esse trabalho ele conheceu uma bailarina chamada Janis Roswick, com quem se casou em 1972 e permanece junto até hoje.

Após formado, ele continuou tocando para companhias de balé, compondo e apresentando sua músicas em bares. Foi nessa época que ele conheceu outro grande artista, a quem devemos letras belíssimas, Howard Ashman. Os dois se tornaram uma dupla perfeita.

“Músicas são um vocabulário muito familiar para as pessoas e eu sempre acreditei que você deve ser capaz de entender não apenas o sentimento, mas o conteúdo da música apenas ouvindo a melodia, sem a letra.”

Alan Menken

Menken começou a trabalhar na companhia de teatro da qual Ashman era diretor de arte, a WPA Theater. A empresa planejava e produzia peças que eram pequenas demais para grandes teatros como os da Broadway. Os dois amigos criaram juntos uma peça com apenas nove atores, que viria se tornar o primeiro grande sucesso de Menken: Little Shop of Horrors.

A peça, baseada no filme clássico de Roger Corman, estreou em 1982 e foi elogiada pela crítica, recebendo várias propostas de produtoras cinematográficas. Ela ficou cinco anos em cartaz e logo se tornou um filme. Essa foi a estreia dos dois em Hollywood.

Alan escreveu outras peças mas nenhuma obteve o mesmo sucesso de Little Shop. Para piorar, seu maior companheiro, Ashman, descobriu que havia contraído HIV e era soropositivo. Eles já não trabalhavam juntos há algum tempo quando Howard o ligou e convidou para trabalhar em uma animação Disney. Menken aceitou, claro, pois era uma nova chance de criar com o amigo.

O projeto se chamava A Pequena Sereia (1989), seria a primeira princesa Disney depois de tantos anos, desde 1950, com Cinderela. O filme foi um tremendo sucesso e garantiu a volta dos musicais Disney nas telas dos cinemas. Seu trabalho lhe rendeu seus dois primeiros Oscar®, de muitos que ainda viriam, por melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original com “Under the Sea“.

Under the Sea“:

Após A Pequena Sereia (1989), a Disney lançou um musical de sucesso atrás do outro. Em 1991, Menken criou as melodias da obra Disney que mais se assemelha a um musical clássico da Broadway: A Bela e a Fera. A animação foi indicada para o Oscar® de Melhor Trilha Sonora e três vezes para Melhor Canção Original. Alan, claro, levou as duas estatuetas pra casa.

O trabalho foi especialmente duro para Ashman, que já estava bastante doente e mantinha sua doença em segredo. No entanto, isso não o impediu de criar músicas fantásticas como o número de abertura, “Belle”, ou de escrever versos lindos para a música tema de todo o filme, “Beauty and the Beast”. Infelizmente, ele não chegou a assistir à obra finalizada.

A Bela e a Fera no Oscar®:

https://youtu.be/2aGUNPKMYY0

O filme era tão perfeito para os palcos, que logo foi adaptado por Menken e ganhou Nova Iorque. Com suas canções clássicas, e algumas originais compostas por Alan e Howard — como “If I Can’t Love Her” — a peça ficou anos em cartaz e foi indicada para diversos Tony®, o Oscar® dos musicais.

Após o falecimento de Ashman, Menken se uniu a Tim Rice (O Rei Leão) para compor a trilha de Aladdin (1992). A animação nos conquistou com suas músicas divertidas e sua balada mais famosa, “A Whole New World”. Menken mais uma vez recebeu dois Oscar® por seu trabalho.

Aladdin (1992) repetiu o feito de A Bela e a Fera (1991) e foi levado aos palcos da Broadway. Foi um sucesso imediato de público! A adaptação não deve em nada ao original e vale a pena ser assistido. Recentemente o musical fez sua estreia em Londres. Se quiser saber mais sobre a peça, vale a pena conferir nossa matéria especial.

Então, veio a missão de compor para uma obra que carregava grandes expectativas dos estúdios Disney, Pocahontas (1995). Dessa vez, Menken não precisaria apenas divertir ou criar o clima para o casal principal se apaixonar, e sim, recriar todo um período histórico pela visão de dois mundos distintos. E mais uma vez ele recebeu dois Oscar®. Já perdeu as contas, não é?

A Whole New World“:

Infelizmente, durante o processo de produção de um filme, algumas idéias e cenas são descartadas. E foi isso o que aconteceu com a canção “If I Never Knew You”. A cena, na qual John Smith e Pocahontas fazem um dueto, foi escrita e totalmente animada, mas descartada por ser uma cena muito adulta.

O próprio Alan sentiu que a cena quebrava o ritmo do filme em uma exibição teste e apontou o problema. Era a única cena na qual os dois personagens declaravam seu amor abertamente e por isso Menken manteve a melodia presente durante todo o filme. Vale a pena escutar, a letra é lindíssima.

If I Never Knew You“:

A próxima indicação ao Oscar® de Menken veio com a trilha sonora de O Corcunda de Notre Dame (1996). Nesse caso, não existe meio termo. Há aqueles que achem o filme muito sério e entediante. No entanto, na outra ponta da balança, temos fãs que se arrepiam ao ouvir a trilha, e com razão. As músicas misturam potentes órgão de igrejas e gigantes sinos com cânticos em latim.

A obra ainda não chegou aos palcos da Broadway, mas já ganhou uma versão adaptada por Menken para os teatros. Toda a trilha está disponível online e, acredite, você não quer deixar de ouvir. De nada.

Out There” – Versão do Musical:

Em 1997, veio Hércules. O filme e suas músicas não chamaram tanto a atenção dos críticos como as obras anteriores, mas ele foi mais uma vez indicado ao Oscar®. Na minha opinião, a sacada de Menken para essa animação foi genial: utilizar gospel para contar uma história mitológica. Quem diria que combinaria tão bem! Ok, ok, na verdade a ideia foi dos diretores Ron Clements e John Musker. Mas o importante é que Alan acatou a sugestão e criou músicas como “Zero to Hero”. É impossível não se empolgar!

Ele então trabalhou em Nem que a Vaca Tussa (2004), uma animação que não se destacou muito apesar de possuir fãs, e só retornou para o mundo das princesas em 2007, com Encantada.

O filme, como todos devem saber, é uma homenagem e, de certo modo, uma sátira aos clássicos Disney. Menken teve a difícil tarefa de nos encantar no mundo real. É fácil fazer um siri ou musas gregas cantarem quando tudo é animado, mas como trazer a magia para a grande e bagunçada Nova Iorque, sem tornar tudo uma grande piada?

O filme manteve uma estrutura clássica, com dueto romântico e balada para o casal principal dançar e se apaixonar. Amy Adams foi uma princesa perfeita, com direito a canção enquanto limpa a casa e tudo. Menken foi indicado a três Oscar®, incluindo Melhor Canção mas mais uma vez, infelizmente, não levou. O número musical “That’s How You Know”, que se passa no Central Park, com certeza é o ponto alto do filme.

That’s How You Know”:

https://youtu.be/zlHo-LYE2lA

“Não há muita diferença entre compor para animações e para o teatro.”

Alan Menken

Seu último filme em terras encantadas foi Enrolados, em 2010. Ainda no Universo Disney, Menken trabalhou compondo para diversos filmes e peças, mas chamou a atenção a obra Newsies (1992), sobre a greve de entregadores de jornais de 1899. O filme foi um fracasso mas, recentemente, se tornou um sucesso na Broadway. Com Newsies, Alan recebeu seu primeiro Tony® por melhor Trilha Sonora.

Alan estreou no universo cinematográfico Marvel Studios em 2011, quando criou a música “Star Spangled Man” para Capitão América: O Primeiro Vingador. O quê? Não se lembra da canção? Dá uma olhadinha:

Star Spangled Man”:

https://youtu.be/DxRKwKJI_uI

Ele também se aventurou em séries de televisão e escreveu a trilha e canções de Galavant (2015-2016). O seriado teve duas temporadas mas foi recentemente cancelado pela rede ABC. O que acharam de um seriado todo musical, Camundongos?

Nossa próxima oportunidade de ouvir a obra de Menken será com o lançamento da readaptação de A Bela e a Fera (16 de Março de 20167. Já tivemos um gostinho do quanto iremos ficar arrepiados no cinema com o lançamento do trailer. Além das tradicionais canções, o compositor criou novas músicas para o filme. Mal posso esperar para ouvir!

Menken é o artista vivo com mais estatuetas da Academia, ele possui oito no total. Além de sete Globos de Ouro®, um Tony® e um Annie®. E o título de Disney Legend, a maior honra da casa. Ele absolutamente já se consagrou como um dos maiores compositores do cinema.

Ele não é um simples compositor, ele transforma suas trilhas em personagens essenciais do filme e se preocupa em contar uma boa história, acima de tudo. Como fã inquestionável que sou, sei que sua músicas são capazes de nos alegrar em um dia terrível, nos dar ânimo quando nada parece dar certo e nos encher de esperança. Tenho muito a lhe agradecer por me ajudar a sonhar e nunca crescer.

Disney Medley:

E então, Camundongo, acertei quando disse que sua trilha Disney favorita estaria nessa matéria? Qual a música de Menken que mais gosta?

Separei um curto documentário interessante, apenas dois videos, onde você pode ver o próprio Menken contando sua jornada e sua experiência com Howard Ashman. Definitivamente merece sua atenção — assista aos dois vídeos no início desta matéria.

Escrito por Caroline

Designer Gráfico, Disney freak, viciada em café, quer ser roteirista e princesa quando crescer. Têm mais livros do que deveria e leu mais vezes “Orgulho e Preconceito” do que têm coragem de admitir.

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