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A Outra Ponta do Lápis | Ollie Johnston

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Na edição passada de A Outra Ponta do Lápis, conhecemos um pouco mais sobre o animador veterano Frank Thomas. Por isso, não poderia escolher outro artista, que não seu melhor amigo, como assunto da última coluna do ano: Ollie Johnston. Não ache estranho se sentir como se já tivesse lido esse texto, a vida e carreira de Johnston e Thomas sempre andaram lado a lado e, as vezes, parecem uma só.

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“Você não deve animar desenhos, deve animar sentimentos.”

Ollie Johnston

Oliver Johnston Jr. nasceu no dia 13 de Outubro de 1912, em Palo Alto, Califórnia. Ele cresceu no meio acadêmico pois seu pai era professor da Universidade de Stanford. Johnston começou a animar quando ainda era criança, porém, assim como Frank Thomas, Ollie achava que não sabia desenhar.

Ele praticou e trabalhou muito sua técnica para obter um resultado satisfatório. infelizmente, outro fator dificultava o desenvolvimento da arte de Johnston: sua saúde. Quando criança, ele estava constantemente doente, e, ao longo do tempo, desenvolveu uma paralisia que afetava principalmente sua mão, fazendo-a tremer. Sua condição não somente o impedia de desenhar tanto quanto queria, mas também de praticar sua segunda grande paixão: os esportes.

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Ollie cresceu e, assim como a maioria dos artistas, principalmente naquela época, não foi incentivado a seguir carreira artística. Ele, então, começou o curso de jornalismo em Stanford. Mas não abandonou sua arte, ou seu amor pelos esportes, participava da revista humorística da Universidade onde desenhava caricaturas de jogadores. Lá, Ollie conheceu seu futuro eterno amigo, Frank Thomas.

Desde que os dois se conheceram, se tornaram inseparáveis. Começaram a estudar artes juntos e logo se mudaram para Los Angeles para trabalhar. Na verdade, Frank se mudou primeiro e começou a atender o Chouinard Art Institute. Quando Ollie o visitou e viu seu trabalho, se apaixonou e decidiu abandonar a faculdade que frequentava e se unir ao amigo.

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“Se não tivesse conhecido Frank, acho que teria me formado em Stanford e ido trabalhar para a United Press como um repórter, ou conseguido um emprego qualquer como artista em algum lugar.”

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Don Graham era professor dos dois e, em 1935, sugeriu que os dois tentassem o processo seletivo para começar a trabalhar no recém-aberto estúdio Disney. Ollie nunca quis ser animador, pretendia ser ilustrador. Seus sentimentos mudaram quando ele aprendeu mais sobre a arte de animar e percebeu a força, e os sentimentos, que desenhos em movimentos podem transmitir.

A carreira de Johnston nos estúdios Disney começou como arte finalista de curtas-metragens. Sua função era “limpar” os desenhos de animadores mais experientes. Ele passou a verdadeiramente conhecer e aprender o estilo Disney quando foi escolhido como assistente por Fred Moore. Moore era um animador veterano que esbanjava paixão por animação e gostava de ensinar através de exemplos.

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“Vinte e três de Março de 1926, foi um dia muito importante. O dia no qual me tornei assistente de Fred Moore. Nenhuma outra pessoa na história dos estúdios teve tanta influência sobre o estilo Disney quanto Fred. Ele realmente definiu o que era animação e a levou para outro patamar.”

Ollie Johnston

Os dois, Ollie e Fred, trabalharam juntos em Branca de Neve e os Sete Anões (1937) e eram responsáveis por supervisionar os Sete Anões. Moore teve a difícil tarefa de garantir que os sete homenzinhos tivessem personalidades diferentes e visualmente bem representadas.

Após o término da produção do filme, Fred decidiu que Johnston estava pronto para se tornar um animador e, assim, Ollie foi escalado para animar outro curta, estrelado por Mickey Mouse, Brave Little Tailor (1938). Walt Disney gostou do resultado e o colocou para trabalhar em Pinóquio (1940) com dois colegas de equipe especiais: seu mentor, Fred Moore; e seu amigo, Frank Thomas.

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É importante lembrar que na época de Ollie era comum animadores serem divididos para trabalhar em sequências, ou cenas. Por isso, vários personagens foram animados por mais de um animador. Como exemplo temos o próprio Pinóquio, a maioria de suas cenas foi animada por Milt Kahl. No entanto, uma das cenas mais icônicas do personagem, na qual ele mente para a Fada Azul e vemos seu nariz crescendo, foi animada por Ollie.

Após Pinóquio (1940), o animador trabalhou em diversos outros curtas e longas do estúdio, como: Fantasia (1940); Bambi (1942); Cinderela (1950); Alice no País das Maravilhas (1951); Peter Pan (1953); A Dama e o Vagabundo (1955); A Bela Adormecida (1959); 101 Dálmatas (1961); A Espada Era a Lei (1963); Mogli – O Menino Lobo (1967); Mary Poppins (1964); Aristogatas (1970); Robin Hood (1973); As Aventuras do Ursinho Pooh (1977); Bernardo e Bianca (1977); e O Cão e a Raposa (1981). Ufa, quanta coisa! E sequer mencionei todas!

Fantasia – The Pastoral Symphony:

https://youtu.be/kpTy5s6qqeY

O clássico Fantasia (1940) foi um ótimo projeto na carreira de Ollie. Primeiramente, porque ele finalmente pode animar uma das coisas que mais gostava de desenhar: mulheres. Em segundo lugar, porque foi durante a produção do clássico que ele começou a namorar sua futura esposa, Marie Worthy, uma das coloristas do estúdio.

Em Bambi (1942), Ollie foi responsável por animar uma das cenas mais adoráveis de todo o desenho: o momento no qual Bambi aprende a andar. Infelizmente, após a produção do longa, começou a Segunda Guerra Mundial.

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Vários animadores, como seu amigo Frank Thomas, se distanciaram temporariamente do estúdio para trabalhar em materiais para a guerra. No entanto, devido à sua paralisia, Johnston permaneceu no estúdio e trabalhou em obras como Você Já Foi à Bahia? (1944).

Após o término da Guerra, os estúdios Disney se concentraram em produzir coleções de curtas de diferentes temas, sendo um dos mais famosos Pedro e o Lobo (1946). O curta utiliza brilhantemente sons de instrumentos musicais para representar seus personagens. Apesar de ser uma obra assistida por quase todos, poucos sabem que se trata de uma produção Disney.

Pedro e o Lobo (Dublado):

Um dos personagens mais famosos animados por Ollie veio depois do animador ter dado vida às irmãs más de Cinderela e a curiosa Alice: o pirata Smee. Smee não é o herói de Peter Pan, e tampouco é o grande vilão. Mas mesmo sendo um personagem secundário, exigiu muito do animador. Johnston trabalhava com seus coração, levando sempre em consideração os sentimentos e pensamentos de seus personagens.

Mas como animar um personagem que parecia tão vazio? Um bobalhão apenas utilizado como alivio cômico? Bem, assista a Peter Pan (1953) novamente, e com mais atenção, e irá perceber que Ollie tentou ao máximo transparecer emoções através das expressões e gestos exagerados de Smee.

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“Sempre se pergunte o que o personagem está pensando, e porque está pensando daquele modo.”

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Ollie também foi responsável por transformar uma cadelinha em uma bela moça em A Dama e o Vagabundo (1955). Lady se movimenta com graça e delicadeza, é fácil esquecer que ela é um animal. Johnston transformou suas longas orelhas em belos cabelos e o resultado é lindo.

O animador teve a chance de trabalhar com seu melhor amigo novamente em A Bela Adormecida (1959). Aqueles que leram a coluna do mês passado devem se lembrar que Frank e Ollie animaram juntos as três fadas madrinhas de Aurora. A cumplicidade entre os dois animadores, somada ao grande estudo de personagem feito, faz Fauna, Flora e Primavera se relacionarem de modo crível e dinâmico.

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A maior diferença entre o modo de animar dos dois amigos é a forma como planejavam suas cenas. Frank era mais técnico e minucioso, planejava por horas seus desenhos e refazia seu trabalho diversas vezes. Ollie, por outro lado, seguia sua emoções. Ele acreditava que algumas emoções podem ser transmitidas através de movimentos sutis, como uma inclinada de cabeça ou movimento de olhos.

A Espada Era a Lei (1963) é um dos meus clássicos Disney favoritos, e isso se deve ao seu roteiro e humor inteligentes. Ollie animou a divertida coruja Arquimedes. É um desafio não rir quando o personagem começa a gargalhar. O trabalho de Ollie ficou excelente.

Arquimedes rindo:

“É surpreendente o efeito que dois personagens se tocando podem ter em um desenho animado. Se espera isso de filmes com atores ou em seu dia-a-dia real, mas ver dois desenhos feitos a lápis se tocando… Você não acharia que têm um grande impacto, mas tem.”

Ollie Johnston

Além de ser fã de esportes, Ollie adorava trens. Um de seus passatempos favoritos era montar trilhos e miniaturas de locomotivas. Os fãs de Walt Disney devem se lembrar que ele também possuía essa paixão, e dizem que ele a adquiriu de Ollie. Walt viu as construções no quintal de Johnston e se inspirou para fazer o mesmo.

A carreira de Ollie continuou até 1978, quando ele decidiu encerrar seu trabalho como animador. Sua decisão se deu devido à sua paralisia, que havia piorado, e seu descontentamento com a qualidade dos novos filmes dos estúdios. Após a morte de Walt Disney, em 1966, era como se a cola que unia todos tivesse acabado. O encantamento não era o mesmo.

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“Ollie fazia parte de uma geração incrível de artistas, era um dos reais pioneiros da nossa arte, um dos maiores participantes no desenvolvimento da animação na forma que conhecemos hoje.”

Roy E. Disney

No entanto, Ollie não se afastou do Universo Disney e de suas animações. Junto com seu amigo Frank Thomas ele escreveu o livro, já mencionado nessa coluna, The Illusion of Life. Sei que estou me repetindo, mas não posso deixar de recomendar essa obra-prima. O livro explica os princípios da arte de animar, seguidos até hoje, além de contar histórias de bastidores e ser recheado de ilustrações deslumbrantes.

Em 1989, Ollie recebeu o maior prêmio oferecido pela The Walt Disney Company, o Disney Legend. Prêmio esse mais do que merecido. Johnston passou o resto de sua vida promovendo o mundo da animação e auxiliando aprendizes sempre que possível. Ele inspirou gerações. O animador foi o último dos Nove Anciãos originais a nos deixar. Ele morreu de causas naturais em 14 de Abril de 2008, com noventa e cinco anos.

Disney Family Album:

https://youtu.be/5XxTZJRr3iE

Melhor do que imaginar ou tentar lembrar todas as cenas que comentei é assisti-las. Por isso, não deixe de conferir o vídeo acima. Ollie fala sobre sua carreira e suas cenas mais famosas são mostradas. Qual sua cena ou personagem favorito do animador, Camundongo?

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Escrito por Caroline

Designer Gráfico, Disney freak, viciada em café, quer ser roteirista e princesa quando crescer. Têm mais livros do que deveria e leu mais vezes “Orgulho e Preconceito” do que têm coragem de admitir.