Os contos de fadas sempre foram os bens mais preciosos da Disney. Independente da idade, o público que cresceu acompanhando as lindas e graciosas Princesas é muito grande. Garotas e garotos se identificam com os personagens, músicas, danças e todo o aprendizado que podemos desfrutar em meio a uma animação empolgante. Passar todo este universo, que já conhecemos, para um filme, com pessoas reais em situações reais é muito delicado, até mesmo para o estúdio do Mickey Mouse que se aventura nas releituras de grandes contos. Mas mais difícil do que transformar desenhos em filmes é manter a franquia acesa no coração dos fãs e da nova geração, e assim, são criadas as sequências. Uma princesa que não ficou livre de se reciclar foi a Cinderela, que ganhou duas novas animações muitos anos depois da primeira produção e, neste mês, recebe seu live-action.
“Cinderela“, de 1950, é o décimo-quinto trabalho de animação em longa duração dos estúdios Disney. É uma história contada de forma atemporal pelos escritores e roteiristas retratando a vida de uma jovem garota vestida em farrapos e forçada a trabalhar de servente por sua malvada madrasta e duas meias-irmãs. E para arrematar o enredo, temos um baile, um príncipe e uma fada madrinha. E como sabemos, a Disney tem como tempero especial os animais encantados – foram adicionados ao longa ratinhos e pássaros, que auxiliam a Gata Borralheira em seus afazeres; um cachorro, o qual ela tem como melhor amigo; e um gato maléfico e cruel (que não existem em outras versões e adaptações deste conto).
O que vejo de especial neste conto de fadas é o fato de ser uma história de amor. Mais do que focar no vilão do filme (Rainha Má e Malévola roubam a cena), ou no herói (Príncipe Felipe enfrentando o Dragão), ou na coragem da própria princesa (Bela enfrentando Gaston para proteger a Fera) como em outras histórias, o enredo de “Cinderela” é apaixonante porque sim, sem ter uma explicação muito óbvia para tanto. Duas pessoas valsam por uma noite e, isso, é o suficiente para que não possam mais viver longe uma da outra. Então a cabeça começa a ficar avoada, a vida árdua parece estar mais leve e a vontade de rever esse alguém é tão forte que você precisa arranjar uma forma de reencontrar essa pessoa.
É assim que Cinderela e seu príncipe travam esta trama, que acaba com seu mágico final feliz. Há também uma lição moral do próprio papai Disney que sempre dizia: “Nunca pare de sonhar“, através da Fada Madrinha (uma versão mais cômica e animada da Fada Azul). Junte tudo isso e teremos uma produção que vai ser lembrada para sempre. Porém, o para sempre é meio relativo quando falamos de clássicos. E mesmo os melhores títulos do entretenimento vão, em algum momento, ficar pegando poeira. E “Cinderela” também passou pela crise das sequências ganhando duas: “Cinderela 2: Os Sonhos se Realizam” (2002) e “Cinderela 3: Uma Volta no Tempo” (2007).
A diferença entre a versão original e as duas sequências não são muitas no quesito “salvamento”. O primeiro filme foi produzido em uma época onde Walt Disney enfrentava problemas financeiros devido à Segunda Guerra Mundial, e por isso, desde “Bambi” (1942), teve de produzir animações de baixo orçamento e divididas em segmentos durante oito anos, que mantiveram o sustento da empresa, mas não tinham o mesmo impacto das obras anteriores – até a chegada da segunda princesa Disney. Já “Cinderela 2: Os Sonhos se Realizam” foi a “salvação” da febre Princesas Disney. Com a entrada de várias personagens novas ao mundo das princesas, o estúdio teve que reapresentar as suas criações mais antigas. Assim, os anos 2000 ganharam várias sequências de clássicos, a exemplo de “A Pequena Sereia” (1989) e “A Dama e o Vagabundo” (1955).
A sequência é mais corrida, sem tanto trabalho e elaboração como foi feita com a original e conta uma história paralela à da princesa, na qual ela ajuda sua meia-irmã Anastácia a ficar com o amor de sua vida, seguida de duas outras histórias curtas, todas acontecendo após a volta de Cinderela e do Príncipe da lua-de-mel. O filme teve bastante aceitação infantil e se tornou mais um referencial da princesa que foi repaginada graças a sua volta. Porém diferente da Ariel, que após seu longa-metragem de estreia, acabou ganhando um seriado animado, o segundo filme estrelado por Cinderela caiu rapidamente no esquecimento, e até hoje há quem se espanta por não saber da existência do mesmo.
Cinco anos depois, foi feita mais uma continuação para a história da princesa do sapatinho de cristal. “Cinderela 3: Uma Volta no Tempo” veio na leva das versões do “e se”. A Disney sabe se reinventar e aproveita todos os modos que aparecem no caminho. Sabendo que as garotas e garotos de hoje não são sonhadores à moda antiga e gostam de tramas mais mirabolantes, nada melhor do que dar nessa aventura uma rasteira, em que Cinderela nunca chegou a seu final feliz. Mas, claro, sem perder a grande receita Disney: o bem ganha no final. E tem de ganhar mesmo, pois foi assim no início e será assim até o final.
Após toda essa análise das três animações, só faltava dizer algo sobre a estreia desse mês. Acredito que a história continuará a mesma que já nos contagiou muitas outras vezes e, com a ajuda do avanço tecnológico, dá para perceber que a produção caprichou nos efeitos visuais, então o filme será, sim, apaixonante, sem quebrar a regra proposta pela produção de 1950. Em minha opinião, os efeitos visuais serão de tirar o fôlego e que muitos vão voltar a sonhar à moda antiga, pois já dizia um personagem do Marvel Studios: “We all need a little old fashioned sometimes”. Já estou contando os dias.