A luta feminista tem se fortalecido cada vez mais atualmente. A cada dia que passa, mais mulheres deixam de se calar e erguem-se na luta pela igualdade. Esta luta, entretanto, nunca combinou com as delicadas Princesas da Disney. Ou será que estamos errados?
Veja bem, Frozen: Uma Aventura Congelante (2013), sem sombra de dúvida, foi o filme que mudou o conceito que as pessoas tinham das princesas. Elsa e Anna são mulheres fortes e independentes, o “príncipe encantado” acaba não se mostrando tão encantado assim e o sucesso comercial do filme mostrou que as pessoas estão preparadas para isso.
Finalmente, depois de ter passado décadas fazendo princesas frágeis e indefesas, a Disney mudou sua forma de pensar. Esta afirmação, porém, pode estar incorreta, e podemos ter passado muito tempo entendendo a mensagem errada. Frozen: Uma Aventura Congelante (2013) pode ter sido apenas uma versão bruta e direta de um exemplo que tentam mostrar há muito tempo.
Vamos começar tirando nosso principal preconceito. As personagens femininas da Disney não são “princesas”. São protagonistas. Tanto quanto Luke Skywalker, Harry Potter ou Frodo. Se analisamos friamente as histórias das princesas, elas seguem diversos pontos do aclamado livro A Jornada do Herói, do qual a maioria dos filmes de aventura e fantasia tiram sua inspiração.
A maior reclamação que vemos com relação a esses filmes é a de que a maioria das princesas “tem que ser salva” por um herói, e depois se casa com ele. Apesar de isso ser verdade em alguns casos, vemos que a parte do “ser salva” não é tão correta assim. Vamos analisar a Branca de Neve, por exemplo.
Antes de ser ludibriada a comer uma maçã enfeitiçada por uma mulher muito mais poderosa, tanto em status quanto em poderes mágicos, ela própria se salva ao entrar na casa dos anões e fazer amizade com eles.
Ela realiza o trabalho doméstico de uma casa em que moram sete homens, porque é a forma que ela encontra de valorizar o auxílio de moradia e alimento. Se acham que isso é uma tarefa fácil, pergunte para as pessoas que fazem as tarefas domésticas em suas casas, e irão se assustar com a resposta.
Cinderela foi salva não por um príncipe, e sim, por si mesma, ao se rebelar dos abusos que sofria, aliada a uma poderosa madrinha. Tirando o fato do casamento, a presença do Príncipe Encantado não é diferente da presença de Hagrid no primeiro Harry Potter. O único feito dele foi tirá-la de casa, enquanto ela batalhou por sua libertação sozinha.
Outras princesas, como Ariel, Bela, Jasmine, Pocahontas e Mulan, tem como base de seus filmes o desafio do patriarcado. Para alcançar sua felicidade, elas literalmente desafiam as ordens de seus pais. Anakin Skywalker estava vivendo em uma situação opressora, e por isso conseguiu sair. Ariel não tem uma história muito diferente.
O conceito das Princesas, especialmente como franquia, aparecendo juntas e tendo diversas opções de merchandising, não é algo ruim. Todas as crianças passam por suas fases heroicas, e as Princesas são equivalentes aos cavaleiros da Távola Redonda. São onze mulheres fortes e independentes ficando juntas umas pelas outras.
Claro, ainda há problemas, como a cultura obcecada pela beleza e o fato de elas não serem tão independentes quanto gostaríamos, mas elas sempre foram e continuam sendo o centro de suas histórias.
Isso acontece pouquíssimas vezes na ficção científica, em que vemos muitas vezes as mulheres diminuídas a ajudantes desastradas ou garotas bonitas que não entendem o que está acontecendo, e ainda teimamos em reclamar com a Disney.
Não só as protagonistas são importantes, mas nas histórias vemos vilãs altamente poderosas e inteligentes. A Disney vem criando desde o inicio vilãs carismáticas, palpáveis e reais, tanto quanto Darth Vader, por exemplo.
As protagonistas não-princesas também não estão muito longe em empoderamento. Peter Pan (1953) é de longe uma história sobre Wendy, e não, sobre Peter. Lilo e Alice são outros exemplos de excelentes protagonistas femininas, que não dependem de uma personagem masculina para brilhar.
Por fim, embora sejam extremamente criticadas, as sequências dos filmes de princesas provam que até para a Disney não existe realmente o “Felizes para Sempre”. Para adultos, muito provavelmente, as histórias são péssimas, e mexer com clássicos da nossa infância é um pecado mortal.
No entanto, para crianças, o público-alvo destas sequências, ver Cinderela tendo problemas em administrar o palácio ou Ariel tendo problemas para criar sua filha adolescente apenas ajudam a desconstruir o conceito de que “tudo é perfeito após o casamento”, e também mostra que as princesas têm muito mais qualidades e talentos do que os revelados em seus primeiros filmes.
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No final das contas, ainda existem diversos problemas que enfrentamos para a conquista da igualdade social, mas às vezes o que consideramos problemas podem acabar nos ajudando com as futuras gerações. Ainda falaremos mais sobre isso, que é um assunto importante e deve ser analisado mais profundamente.