Moratória. Cofre. Quem nunca ouviu essas palavras sendo relacionadas aos clássicos da Disney? São termos bastante comuns entre os colecionadores, assim como motivo para pesadelo. No entanto, para entender essa prática tão comum da Walt Disney Home Entertainment, é preciso voltar no tempo.
Tudo começou com o próprio Walt Disney, e com o primeiro longa-metragem de animação: Branca de Neve e os Sete Anões, lançado em 1937. Buscando aumentar os lucros durante a Segunda Guerra Mundial e atingir uma nova geração de crianças, Walt relançou o filme nos cinemas sete anos depois da estreia original, em 1944.
Isso se tornou uma tradição e o clássico da princesa branca como a neve voltou aos cinemas em outras sete ocasiões, a saber: 1952, 1958, 1967, 1975, 1983, 1987 e 1993. Nas duas últimas vezes, houve um processo de restauração, uma devido ao quinquagésimo aniversário e outra usando técnicas digitais.
Porém, tal prática não se limitava apenas a um único título. Pinóquio (1940), Fantasia (1940), Cinderela (1950), 101 Dálmatas (1961), Mogli – O Menino Lobo (1967), e muitos outros foram reexibidos nas telonas por tempo limitado. E como nenhum filme permanece em cartaz para sempre, também não devem permanecer nas prateleiras.
Com o advento das fitas VHS na década de 1980, a casa do camundongo encontrou uma nova forma de fazer dinheiro, e decidiu utilizar a mesma lógica cinematográfica. Após um prazo razoável para o público adquirir a sua cópia, as animações são retiradas das lojas e retornam ao cofre, do qual sairão depois de um período entre sete e dez anos.
Esse método acaba por instigar o consumidor. Através de vídeos, anúncios e cartazes em lojas, sempre destacando a disponibilidade limitada, o público acaba sendo atrair a comprar uma edição e levá-la para casa. E com a criação de novas tecnologias, como DVD e Blu-ray, tem-se um novo pretexto para se explorar essa política, denominada de moratória.
Segundo Robyn Miller, antiga vice-presidente de marketing da The Walt Disney Company, tal estratégia de lançamento visa manter os clássicos do Walt Disney Animation Studios frescos na memória dos espectadores, e ao mesmo tempo, busca alcançar crianças entre dois e sete anos, as quais não tiveram a oportunidade de ir aos cinemas na época da estreia.
Robyn Miller também revela não haver um padrão ou ordem pré-estabelecida para os filmes saírem do cofre. Antes de cada anúncio, a empresa analisa sua biblioteca de títulos, a competição e qual o interesse do público, além de outros fatores. Motivo pelo qual muitos filmes da Coleção Platinum não foram incluídos na Coleção Diamante, por exemplo.
A moratória ainda tem como objetivo adaptar os clássicos às inovações técnicas disponíveis no mercado, como as versões em Blu-ray utilizadas na Coleção Diamante. Perante o crescimento dos vídeos sob demanda, serviços de streaming, e cópias digitais, a empresa tem mudado sua janela de lançamentos.
Disney Movies Anywhere e DisneyLife são apostas do camundongo para se manter à frente das exigências dos consumidores. O primeiro serviço — não disponível no Brasil — permite ao usuário organizar e assistir à sua biblioteca de filmes digitais em diferentes dispositivos, incluindo as compras feitas na iTunes Store, na Google Play e na Amazon Video.
Já o segundo é mais ambicioso. Além de oferecer um vasto catálogo de filmes, o serviço de assinatura apresenta também livros, músicas e séries de televisão, exceto produções do Marvel Studios e da Lucasfilm. O DisneyLife, por enquanto, é exclusivo do continente europeu, onda ainda se encontra em fase de implementação.
Nos últimos meses, a empresa tem priorizado cada vez mais o mercado digital, disponibilizando seus filmes com antecedência neste meio. Star Wars: O Despertar da Força (2015) foi lançado em cópia digital na última sexta-feira, 01º de Abril, enquanto a versão em mídia física estará apenas à venda nas lojas no final deste mês.
Logo, é possível sentir os ventos da mudança soprando. Tais atitudes representam uma quebra no padrão de moratória. Durante a década de 2000, os países seguiam à risca as datas de tal política, no entanto, França e Japão, para citar alguns, lançaram clássicos como 101 Dálmatas (1961) e Aladdin (1992) meses antes dos Estados Unidos e fora da Coleção Diamante.
Com essas mudanças, o sistema de moratória se torna cada vez mais relativizado. Porém, muitos clássicos continuam a ter disponibilidade limitada em todos os locais, a exemplo de A Bela e a Fera (1991). Títulos de estúdios afiliados — DisneyToon Studios, Pixar Animation Studios e outros — não são influenciados por essa medida e são descontinuados, com alguns poucos recebendo novas edições.