Bela: “O que acontece quando a última pétala cair?”
Lumière: “O amo permanecerá como fera para sempre.”
O lançamento da versão com atores de A Bela e a Fera tem sido um sucesso mundial e isso não dá para negar. Mesmo dividindo opiniões sobre a performance dos atores e dos detalhes adicionados à história, é inegável que essa é a readaptação mais fiel à animação já feita pela Disney até agora.
Toda animação do estúdio sempre deixa algumas questões em aberto, afinal, não é possível abordar tudo em um filme de uma hora e meia, direcionado para prender a atenção de uma pessoa mais nova. Porém, graças ao novo longa, conseguimos sanar algumas dessas dúvidas e vamos mostrar para vocês algumas das respostas. Atenção: esta matéria contém spoilers dos dois filmes.
Essa é um questão delicada, porque as pessoas podem interpretar de duas formas. No prólogo da animação, o encantamento era que flor iria durar até o vigésimo primeiro ano. Muitas pessoas entendem que essa seria a idade da Fera e que, somada à letra do espetáculo do Lumière “dez anos sem dono, nós penamos no abadono…“, concluem que feiticeira enfeitiça o castelo quando ele tem por volta de onze anos.
Na readaptação, essa questão foi resolvida retirando toda referência de número, ou seja, no prólogo nada de anos é mencionado, na música ele mudam a letra pra “vivemos sem dono, já pensando em abandono…” e inclusive, o quadro que aparece no começo do príncipe mais jovem, é mostrado uma imagem de uma criança.
Na primeira música tanto do filme quanto da animação, somos apresentados a como a vila enxerga a jovem moça. “Essa garota é muito esquisita, o que será que há com ela? Sonhadora criatura, tem mania de leitura…”, sendo assim, notamos que nenhum, ou pelo menos a maioria, dos habitantes não lê.
Se voltarmos a atenção para a versão estrelada por Emma Watson, essa situação é revertida mostrando que apenas homens eram alfabetizados – pelo menos a maioria – e que, a enorme livraria, transformou-se em um pequena estante dentro da igreja de Villeneuve, local onde se passa a história.
Qual o motivo da adoração pelo Gaston? Você talvez nunca tinha se perguntado isso, não é mesmo? Ou, se aconteceu, deve ter pensado: “Ele é o galã do lugar“. Apesar de todo seu machismo, Gaston sempre foi visto como o caçador bonitão da vila – quanta virilidade em um corpo peludo.
Já no novo filme, o fanatismo e a adoração por Gaston surgem a partir de um fator mais honrado. Ele é um herói de guerra e, em diversos momentos, LeFou faz referência a isso, assim como o restante da vila.
O momento é comum. Bela vai espiar o que tem na Ala Oeste do castelo da Fera, entra no quarto, observa os quadros, a mobília, até que avista a cúpula com a rosa enfeitiçada. Só que, de repente, a Fera surge perguntando o que a moça esta fazendo lá e, então, ele a manda embora. Se sentindo insultada, Bela sai correndo do castelo para voltar para vila até que é atacada por lobos e, então, é salva pela Fera.
Até aí, tudo igual na readaptação e na animação. No entanto, quando Fera está ferida no chão, na animação, a cena é cortada para o cavalo andando com a Fera nas costas. Afinal, como isso pode ter acontecido? Agora no novo filme, Emma Watson chega perto da Fera e diz “Você precisa levantar. Você precisa me ajudar“, aí então entendemos que ela não tem uma super-força no braço.
Se Zip é filho da Madame Samovar, onde está o pai da criança? Na animação, não temos nenhum sinal disso. Para ser sincera, vemos um começo de romance entre Madame Samovar com Maurice. Mas, ainda bem, na refilmagem essa relação foi modificada.
Logo na primeira música do filme, aparece Bela falando com o Monsieur Jean e ele diz que precisava se lembrar de algo. Pois bem, na cena em que os aldeões vão lutar no castelo, Madame Samovar reconhece Monsieur Jean como seu marido e aí, ao final, eles se reencontram! O que nos leva a nossa próxima pergunta e resposta.
Na animação, fica muito mal explicado como nenhum habitante da vila nunca tinha visto o castelo ou não sabia da existência de um príncipe e um monte de criados em um local enorme. Em nenhum momento do filme, existe alguma razão para isso ter acontecido.
O que na nova versão da história é ao contrário. Logo no prólogo, é explicado que, quando a feiticeira lança o feitiço, atinge todos aqueles que viviam no castelo, apagando as memórias de seus entes queridos e dos aldeões que viviam em Villeneuve. Boa sacada, Disney.
Se na animação existiu toda a história da Fera ter sido uma criança, onde estão os pais desse jovem infanto? No longa animado, não existe a menção dessas figuras em nenhum momento, apenas é ressaltada o relacionamento de Bela com seu pai, Maurice.
A existência dos pais da Fera, na readaptação, serve para explicar sua mudança de comportamento ao longo do tempo. Enquanto a mãe do menino era viva, seu comportamento era o de uma criança doce, mas depois que a figura materna falece, o pai leva o menino para um caminho egoísta e mesquinho. Inclusive, Madame Samovar explica: “Não se pode julgar as pessoas pelos pais, não é mesmo?”.
Por fim, a razão que faz o filme rodar. Desde o começo, sabemos que, quando a última pétala da rosa caísse, todos os criados se tornariam mobílias e a Fera ficaria como aquela figura horrenda para sempre. Na animação, isso não acontece. Quando a última pétala cai, os objetos continuam vivos e a Fera aparece morta até que, após Bela confessar seu amor, acontece toda aquela cena maravilhosa da transformação.
Já no novo filme, existe a cena da pétala caindo, mas dessa vez, os criados se tornam objetos e Fera está morrendo, após ser atingida por três tiros de Gaston, mas diferentemente da magia sobrenatural que acontece na animação, a razão pela qual o feitiço é revertido, além da reciprocidade de amor da Bela, é que, na verdade, a feiticeira assiste à cena e demonstra o que a Fera deveria ter mostrado antes do feitiço: compaixão. E, então, tudo continua como vemos no longa animado.
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