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Os Vingadores | Crítica de fã para fã

 

No mundo do cinema é muito difícil encontrar Blockbusters que realmente tenham algo a mais para impressionar o público. Chegamos a um ponto da indústria cinematográfica em que os grandes filmes de ação e aventura não mais surpreendem o expectador, apelando cada vez mais para cenas e efeitos cada vez mais grandiosos, como uma grande competição para quem consegue fazer o filme mais artificial e caro do ano. O resultado de tamanha ânsia por lucros e números são filmes cada vez mais esperados, porém cada vez mais decepcionantes, com histórias mal contadas, roteiros execráveis e cenas de ação que não passam de cópias do que já foi feito anteriormente em filmes semelhantes. Porém, como tudo na vida, sempre há um ciclo, e de vez em quando, alguém consegue acertar na fórmula e finalmente surpreender quem estava cansado de se decepcionar. E Os Vingadores faz mais do que surpreender. Os Vingadores faz algo que só pode ser descrito com muito entusiasmo e animação. Portanto saibam desde já que Os Vingadores é sensacional!

 

 

Nunca fui leitor de quadrinhos, não por não gostar, mas por preguiça e por falta de incentivo durante a infância. Porém, como o bom nerd que me considero, adoro todos os universos e heróis presentes em suas páginas. Lembro quando Homem de Ferro chegou aos cinemas e Nick Furry apareceu no final do filme convidando Tony Stark para se juntar a um projeto. Depois O Incrível Hulk chegou às telonas e, para a minha surpresa, Stark apareceu no final do filme, falando sobre o mesmo projeto. A cena acabou e eu fiquei meio besta, sem entender se aquilo era uma piada ou coisa parecida. Mas não era. Aquilo era só o começo da jornada que nos traria até hoje, até o dia em que Os Vingadores se uniriam para tentar salvar a Terra de uma força maior. Meu maior medo quando anunciaram o projeto era que ele fosse feito da forma errada. Que os heróis não fossem muito bem explorados, que a história se resumisse apenas à pancadaria e cenas exageradas de lutas entre vilões e mocinhos. Mas felizmente, apesar de a jornada individual de cada vingador ter passado por altos e baixos, chegamos ao ápice dessa  história, e ele não poderia ser mais épico.

 

 

A história do filme se desenrola a partir das consequências dos acontecimentos dos filmes individuais de cada herói (principalmente Thor e Capitão América), onde vemos Loki (irmão de Thor) vir à Terra em busca do Cubo Cósmico e com a intenção de iniciar uma guerra contra os humanos e, ao vencê-la, dominar o planeta. Nick Furry então vê a necessidade de convocar uma equipe de pessoas extraordinárias para recuperar o Cubo e impedir que Loki realize seus planos. É quando entra em cena a Viúva Negra, Gavião Arqueiro, Capitão América, Hulk, Homem de Ferro e Thor. Munidos de tantos protagonistas e figuras poderosas, seria muito fácil para os roteiristas e diretor se perder e acabar dando atenção maior para certos personagens, ofuscando outros. Mas em Os Vingadores nenhum herói sobrepõe o outro. Extremamente fiel à HQ em que a história foi baseada, o filme funciona literalmente como um deleite em termos de adaptação para quem é fã e conhecedor dos quadrinhos. Mérito dos roteiristas e do diretor Joss Whedon (que também colaborou no roteiro), que souberam explorar muito bem as várias tramas e personagens da história originalmente criada por Jack Kirby e Stan Lee. Joss usou sua experiência como diretor de séries de TV em Os Vingadores e deu certo. Acostumado a dirigir seriados onde o tempo em tela de vários personagens é balanceado, para dar atenção a todos, o diretor soube usar a balança também no longa. Nenhum personagem se torna coadjuvante. Todos são protagonistas e ainda sim, o filme flui com cada um tendo sua própria história e trama pessoal.

As piadas e alfinetadas de Tony Stark com seus colegas de equipe são constantes e é o ponto alto dos momentos menos tensos e movimentados do filme, quando ele insiste em perturbar o Capitão América ou Bruce Banner. Querendo ou não, o Homem de Ferro foi quem começou toda essa saga nos cinemas e é o grande elo de ligação entre os heróis que compõem a equipe. Até mesmo os personagens coadjuvantes do filme são importantes em certos momentos da história. O Dr. Selvig, que foi introduzido no universo dos Vingadores no filme de Thor, tem grande importância para o desenrolar dos acontecimentos e até mesmo o Agente Coulson, que foi criado exclusivamente para os cinemas, tem seu momento de mostrar sua verdadeira função em todo o universo dos Vingadores. Coulson é a representação indireta dos produtores, criadores e fãs na história. Ele é o propósito que fez tudo isso acontecer. Quem é fã sabe o quão impensável era, anos atrás, imaginar entrar em uma sala de cinema para assistir um filme onde vários heróis se uniriam para salvar o mundo. Ainda mais conhecendo a indústria traiçoeira e muitas vezes irritantemente injusta que é Hollywood.

 

 

Todas as pontas abertas nos filmes individuais dos heróis foram explicadas, mostrando que desde o começo os produtores e responsáveis pelo projeto tinham tudo planejado para culminar nesse filme.  A história não é mostrada do ponto de vista de um herói específico. Basicamente se desenrola a partir das ações e decisões de Nick Furry dentro da S.H.I.E.L.D.. Vemos um pouco de como funciona a organização, seu conselho de pessoas anônimas, as decisões que precisam ser tomadas, os agentes e as instalações. Os Vingadores consegue ser um mash-up de histórias e personagens e ainda assim trazer elementos e tramas novas ao espectador. Conhecemos um pouco mais sobre a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro, que não tiveram filmes individuais, aparecendo apenas como participações nos filmes de Homem de Ferro e Thor, respectivamente. E nem por isso o filme deixa de ir um pouco mais ao fundo das histórias de, por exemplo, Bruce Banner (que não aparece nem é mencionado desde seu próprio filme), ou Steve Rogers que ainda sofre por ter perdido a mulher que amava e ter acordado em um mundo estranho para ele.

E por falar em pontas abertas, por favor, não saiam da sala antes do fim dos créditos. A história dos Vingadores ainda não acabou e, apesar de nem todos entenderem, a cena extra diz muito sobre o rumo que o universo Marvel vai tomar no futuro. Claro que ainda vai demorar, provavelmente teremos que ver continuações como Homem de Ferro 3, Capitão América 2, e até mesmo o possível filme do Homem Formiga que tanto tem sido especulado como a próxima aposta da Marvel.

 

 

Em termos técnicos, o filme é impecável. Todos os efeitos, cenas de ação, figurinos e tecnologia foram detalhados em tela e explorados de forma satisfatória. A cena épica e explosiva do clímax é muito bem dirigida, balanceando de forma muito positiva o foco da batalha, indo de um personagem ao outro sem deixar a linha narrativa confusa. Toda a ação individual tem consequências e ligação com o que está acontecendo ao seu redor e com os outros heróis. É tudo muito bem coreografado e arquitetado para não deixar o espectador “perdido” em nenhum momento, algo um pouco raro para filmes de destruição em massa semelhantes (Michael Bay é a prova viva disso). Mais interessante ainda é observar como o filme soube explorar o conhecimento dos fãs dos quadrinhos. É impossível não se empolgar ao ver o porta-aviões da S.H.I.E.L.D. decolando da água com toda a sua grandeza e tecnologia, ou com a Torre Stark, imponente e genial no centro de Manhattan ou mesmo ver todos os Vingadores lado a lado, quebrando tudo no meio de Nova York e prontos para enfrentar qualquer um ou qualquer coisa que aparecer para ameaçar o planeta.

 

Novo trailer dublado de “Os Vingadores“:

 

O 3D, que era o que eu mais achei que ia me decepcionar, me surpreendeu e já na primeira cena me deixou de boca aberta quando personagens e objetos começaram a sair da tela sem nenhum tipo de distorção ou efeito forçado. Durante todo o filme a sensação de profundidade está presente e muitas vezes, principalmente no clímax, objetos, faíscas, estilhaços, personagens e grandes objetos são arremessados para fora da tela. A sensação de terceira dimensão é tão forte, que eu inconscientemente virava o rosto em algumas cenas, por puro reflexo, achando que algo ia sair da tela em minha direção. O efeito é discreto, mas funciona incrivelmente bem em todo o filme. Quanto à trilha sonora, eu normalmente não costumo me impressionar com as trilhas dos filmes dos heróis da Marvel, porém em os Vingadores a trilha se encaixa perfeitamente com as cenas, deixando tudo ainda mais épico. Alan Silvestri captou perfeitamente o clima tenso e grandioso do filme e fez uma trilha sonora à altura dos heróis que vemos em tela.

 

 

Algo que me chamou a atenção foi que, em nenhum filme individual dos Vingadores a figura de super-herói foi explorada. Em alguns, o termo nem ao menos é mencionado. Talvez o que mais tenha chegado próximo disso tenha sido Homem de Ferro. Porém, os filmes sempre foram focados na história dessas pessoas extraordinárias e não em seus atos heroicos. Thor era apenas o Deus que veio à Terra por causa do seu exílio e se apaixonou. Hulk era apenas um fugitivo do governo querendo viver em paz com seu “problema”. A Viúva Negra e o Gavião Arqueiro eram apenas os espiões treinados para matar. E o Homem de Ferro, bem, era apenas um gênio excêntrico, bilionário, playboy e filantropo que decidiu usar sua inteligência para algo maior. Porém em Os Vingadores, todos eles se tornam públicos, eles realmente se intitulam protetores da Terra e fazem de tudo para protegê-la. Vemos a mídia mostrando seus rostos, especulando seus paradeiros e identidades. Vemos as pessoas admirando e os odiando. Vemos as mocinhas indefesas com seus olhares apaixonados depois de serem salvas pelos heróis bonitões. Essas pessoas extraordinárias que foram apresentadas à nós se tornam os heróis que o mundo precisa. Alguns odeiam, outros amam e agradecem. Mas eles existem, e todos precisamos deles. E quando eu digo todos, eu me refiro a você que está lendo esse texto e a todos que foram ou vão assistir Os Vingadores no cinema. Eles podem não existir na vida real, mas eles nos trazem esperança, nos empolgam, e nos surpreendem. Nós precisamos deles. Precisamos de Vingadores.

 

Escrito por Felipe Andrade

Estudante de Administração, nerd, cinéfilo, colecionador e uma eterna criança. Não exatamente nessa ordem...