FAZENDO CRINAS
Cineastas de “Valente” Solucionam Um dos Maiores Desafios da Animação
Como a diretora Brenda Chapman imaginou a protagonista de Valente, ela sabia que Mérida seria espirituosa, teimosa e vibrante. Ela também sabia que Mérida teria cabelos ruivos indomáveis. “O cabelo ruivo encaracolado de Mérida faz parte de sua personalidade”, diz Chapman. “Ele representa quem ela é. A mãe está sempre tentando conter o cabelo da filha, mas Mérida gosta do cabelo solto.”
“Ao longo de toda a minha carreira”, continua Chapman, “eu já vi muitos personagens começarem com belos cabelos encaracolados e depois eles ficam lisos apenas para simplificar as linhas e o tempo de desenho. Eu não tinha ideia do pesadelo que eu estava pedindo quando eu disse: ‘Não, ela tem que ter cabelo encaracolado’. Por sorte, a equipe técnica da Pixar estava à altura do desafio e nos deram exatamente o que precisávamos”.
Descobrindo o verdadeiro significado de valentia, os diretores-supervisores técnicos Bill Wise e Steve May e suas equipes passaram anos trabalhando numa maneira de dar aos diretores o que eles queriam. Isso envolveu escrever novos programas de simulação, inúmeras tentativas e erros e muita coordenação com os animadores e com outros departamentos.
“Cabelo é difícil”, admite Wise. “Cabelo encaracolado é ainda mais difícil. É um problema difícil de simular. Quando eu trabalhei em Os Incríveis (The Incredibles), o longo cabelo liso de Violet foi o problema de cabelo naquele filme. Na época, ninguém havia feito nada parecido em computação gráfica, mas nós conseguimos. Quando começamos a trabalhar em Valente, pensava-se que um programa de simulação não conseguiria lidar com cabelos encaracolados e manter o volume. Os diretores queriam que os cachos se movimentassem e interagissem uns com os outros de uma maneira semirrealista, porém mantendo o volume do todo. Você não quer que o cabelo se pareça com molas. Você quer que os cachos estiquem, mas que o corpo permaneça. Nós tivemos que criar um simulador de cabelo inteiramente novo.”
A supervisora de simulação Claudia Chung, que supervisionou a simulação do guarda-roupa e dos tecidos, também chefiou a simulação de cabelos e pelos, e garante que cada cabelo e pelo dos personagens movimentem-se de acordo com o desempenho dos animadores.
Chung conta que ao contrário do que acontece com cabelos lisos, os cabelos encaracolados precisam ter volume para mostrar os cachos, e criar volume no computador não é fácil. “A simulação se baseia em física ─ precisamos entender de gravidade e outras leis da física”, diz ela. “Não conseguíamos entender por que os cabelos encaracolados se movimentavam da forma como se movimentam, então trabalhamos com uma forte equipe de pesquisa na Pixar para construir um modelo físico para o cabelo de Mérida.”
“Um dos artistas decidiu que cabelos encaracolados são como um fio de telefone que enrolamos”, continua Chung. “É como o cabelo de Mérida se movimenta e é a base de seu modelo, mas isso é de acordo com um pesquisador com raciocínio físico. Não se trata de cabelo com visual natural. A equipe de animação queria cabelo fluido, com curvas em C e curvas em S, que acompanhasse naturalmente o movimento da cabeça de Mérida quando ela se movimentasse. Nós acabamos nos dando conta de que o cabelo de Mérida, na verdade, é submetido a uma força gravitacional muito menor do que a do restante dos personagens.”
“Então além de ser exímia arqueira e alpinista destemida, Mérida tem cabelos que desafiam as leis da física“, diz Chung. “Porque os cachos são tão encaracolados e essa é uma característica do cabelo, de certa forma ele desafia a gravidade.”
“O cabelo de Mérida é uma grande conquista”, continua Chung. “Eu sempre achei que o departamento de arte tinha criado cabelos exagerados para Mérida ─ com ondas e cachos de tamanhos diferentes, alguns mais apertados, outros mais soltos. Mas eu tenho uma amiga que tem vastos cabelos encaracolados, e agora me vejo fascinada como o fato de cabelos como os de Mérida de fato existirem.”
Novas técnicas inovadoras em simulação de cabelo também foram usadas para o pelo do demoníaco urso Mor’du. Em alguns casos, o pelo do urso tinha quase um metro de comprimento e exigiu um tratamento especial para dirigir o movimento.
Chung diz: “O que mais me empolgou em Valente foi o fato de que a equipe de simulação foi capaz de participar em um nível artístico de uma maneira nunca vista antes. No passado, a simulação era algo que vinha depois da animação. Agora somos parte da atuação e da arte de forma integral. Muitos artistas técnicos neste filme ficaram eletrizados de fazer parte desta experiência, que foi criativa e também técnica. Temos um papel maior neste filme e isso é realmente muito empolgante. Valente é de fato um marco para a equipe de simulação ─ há simulação em quase 90% do filme”.
O SOM DAS HIGHLANDS
Trilha Sonora Tradicional e Canções Originais Conferem Ar de Autenticidade
“A música de Valente apoia a história, engrandecendo a jornada épica Com Mérida. A música de fato estabelece o tom do filme e também a época. Nós queríamos capturar essa sensação antiga da Escócia e a música realmente acrescenta outra camada de autenticidade.”
~ Mark Andrews, diretor
A TRILHA SONORA
O compositor indicado ao Oscar® Patrick Doyle, nascido na Escócia, trouxe paixão e empolgação por sua terra natal ao projeto que se reflete em sua trilha evocativa e ousada. Doyle é só o quarto compositor a escrever uma trilha sonora para um filme da Pixar, unindo-se a um grupo de elite de compositores distintos que inclui Randy Newman, Thomas Newman e Michael Giacchino.
“Eu sempre adorei animação”, diz Doyle. “O primeiro filme que fui assistir sozinho na grande cidade de Glasgow foi Fantasia da Disney no famoso cinema Cosma. Eu nunca perdi um filme da Pixar. Além de ter sido um privilégio estar envolvido em Valente, sendo um compositor escocês isso também significou que eu tinha uma conexão muito especial com este filme extraordinário.”
Doyle, para mim, foi transportado para casa. “O que torna Valente tão especial”, diz ele, “é o amor, o cuidado e a atenção aos detalhes que foram dados à criação da Escócia. Eles capturaram completamente o visual de sua topografia, a arquitetura antiga e o clima único. A história tem todas as qualidades míticas de grandes lendas celtas”.
Ao criar sua trilha sonora para o filme, o compositor usou uma variedade de instrumentos nativos tais como gaitas de fole, solos de violino, harpas celtas, flautas e o bodhrán. Para dar à trilha uma sensação contemporânea e nova, ele incluiu sons eletrônicos sob medida e saltério e címbalo eletronicamente tratados. Andrews explica: “Nós não queríamos fazer escocês demais e colocar gaitas de fole o tempo todo. A trilha tem um grande contraste de grandeza e intimidade sublime que realmente se encaixa com esta época da fantasia celta”.
“Eu usei muito ritmos clássicos de dança escocesa, tais como ril, giga e strathspeys, que não apenas servem à ação, mas para manter a autenticidade”, diz Doyle. “Eu adorei compor particularmente o lamento galês ‘Noble Maiden Fair’ com meu filho Patrick Neil, cantado tão lindamente por Emma [Thompson] e Peigi [Barker].”
Doyle insistiu que os instrumentos étnicos fossem interpretados por músicos escoceses. “Eu só sabia que eles trariam um profundo entendimento das raízes celtas na herança musical escocesa. Eles certamente atenderam as expectativas e seu trabalho soberbo veio de suas próprias almas.”
Quanto à própria trilha sonora, Doyle inspirou-se nos desempenhos, na direção, na história e no belo visual do filme. “Era vital que a força de Merida e Elinor se refletisse na trilha sonora e que seus personagens não fossem de nenhuma maneira sentimentalizadas”, diz ele. “A história antiga do país, através de suas lendas e mitos, evocaram cores escuras, etéreas e assustadoras e também harmonias evocativas ao longo da trilha.”
Doyle acrescenta: “Trabalhar com Mark e Katherine me deu muita liberdade artística e de escopo como compositor para inserir minha experiência musical com filmes e minha origem escocesa. Há uma atmosfera de abertura, que permite um artista experimentar e ser ousado; havia o luxo de ter tempo para experimentar e lançar ideias de uma maneira tranquila e satisfatória e, como resultado, eu acredito que dei o melhor de mim. É essa atmosfera, que vem diretamente de John Lasseter, que faz dos filmes da Pixar tão únicos”.
CANÇÕES ORIGINAIS
Duas novas canções interpretadas pela aclamada cantora galesa escocesa Julie Fowlis também foram incluídas nos destaques musicais do filme. “Touch the Sky”, com música do próprio Alex Mandel da Pixar e letra do diretor Mark Andrews e Mandel, acompanha a cavalgada libertadora e empolgante de Merida pela floresta quando ela consegue escapar da confinada vida no castelo. A canção “Into the Open Air”, com música e letra de Mandel, é ouvida mais tarde no filme durante um momento especial entre mãe e filha.
As duas canções foram escritas na Pixar e originalmente eram músicas temporárias. “Nós adoramos trabalhar com artistas da casa”, diz a produtora Katharine Sarafian. “Eles trabalham ao lado da nossa equipe de história e sabem o objetivo da história, então podem realmente colaborar com o diretor para obter o objetivo por trás da canção de uma forma maravilhosa. Nós ficamos encantados com o fato de as canções de Alex Mandel acabarem sendo exatamente o que nós precisávamos para o filme.”
Sarafian acrescenta: “Julie Fowlis interpreta as duas canções. Se imaginássemos uma voz cantando para Mérida ─ a beleza, a clareza, a simplicidade e a sinceridade ─ Julie incorpora isso e ela é fantástica”.
“Foi ótimo ter sido convidada para gravar e interpretar na trilha sonora de Valente e, particularmente, cantar as canções que representam a indomável protagonista Mérida”, diz Fowlis. “Eu gostei muito do desafio de acrescentar uma dimensão de interpretação ao cantar para poder dar a personagem Merida sentimentos da vida através da canção.”
“Learn Me Right” é uma canção original interpretada por Birdy, cujo disco autointitulado foi premiado com o disco de ouro e de platina no Reino Unido e na Europa respectivamente, e o grupo britânico de rock indicado ao Grammy® Mumford & Sons, que também compôs, fez os arranjos e produziu a faixa.
Andrews diz que ele gosta da energia que o Mumford & Sons trouxe ao filme. “Eles queriam manter o espírito da heroína, então eles chamaram o jovem cantor Birdy. O resultado é esta canção poética e dinâmica que agrega valor à moral da história: ‘Nós vamos ser quem nós vamos ser e tudo bem’ ─ é feita de uma maneira muito bonita e cheia de energia.”
Sarafian acrescenta: “‘Learn Me Right’ é uma canção incrível. Eu sinto algo toda vez que ouço. O grupo Mumford & Sons escreveu uma música que faria justiça ao momento culminante do filme, às emoções, aos sentimentos e lições subliminares aprendidas entre mãe e filha. Eles realmente encontraram essa hora da verdade na história que estamos tentando contar, e a música leva o filme a um novo nível no final”.
Da Walt Disney Records, a trilha sonora de Valente estará disponível em vários pontos de venda em 19 de junho de 2012, e inclui as seguintes faixas:
- “Touch the Sky”, interpretada por Julie Fowlis
- “Into the Open Air”, interpretada por Julie Fowlis
- “Learn Me Right”, interpretada por Birdy [com Mumford & Sons]
- “Fate and Destiny”
- “The Games”
- “I Am Merida”
- “Remember to Smile”
- “Merida Rides Away”
- “The Witch’s Cottage”
- “Song of Mor’du”, interpretada por Billy Connolly e Elenco
- “Through the Castle”
- “Legends Are Lessons”
- “Show Us the Way”
- “Mum Goes Wild”
- “In Her Heart”
- “Noble Maiden Fair (A Mhaighdean Bhan Uasal)”, interpretada por Emma Thompson e Peigi Barker
- “Not Now!”
- “Get the Key”
- “We’ve Both Changed”
- “Merida’s Home”
FAZENDO MAGIA
Cenografia, Software, Fotografia e Efeitos Especiais elevam “Valente” a outro Nível
Com seus cenários míticos e uma história baseada em magia, Valente pedia a assinatura artística da Pixar para chegar à telona. De cenários a software, de fotografia a efeitos especiais e, por último, mas não menos importante, a iluminação, os cineastas conseguiram o impossível… de novo.
CENÁRIOS
De castelos antigos e ruínas, a círculos de pedras, florestas e vegetação, a equipe de cenário da Pixar, supervisionada por Derek Williams, estabeleceu o palco para a colorida ação que ajuda Valente a ser uma experiência visual única repleta de autenticidade e sabores da Escócia.
“O maior desafio do departamento de cenários em Valente foi criar ambientes de floresta orgânicos, fazê-los ter um visual natural e mantê-los vibrantes”, explica Williams. “Para este filme, nós construímos sete florestas diferentes e as povoamos com tramazeiras, vidoeiros e pinheiros escoceses. Com diferentes versões dessas árvores, o número total de árvores que usamos chegou a cerca de 40 tipos. Nossa primeira etapa para gerar um cenário de floresta é uma olhada no local onde as coisas serão colocadas. Assim que câmera e equipe de cenário entram e filmam, nós voltamos e começamos a mexer nas coisas dentro do quadro para obter o máximo da composição. Acrescentamos vegetação ─ grama, musgo, líquen, urze gerados por computação ─ para criar a complexidade que o desenhista de produção e os diretores querem. Nós tínhamos um trio de gênios em nosso departamento ─ Inigo Quilez, Andy Whittock e Jamie Hecker ─ que era responsável pelo incrivelmente complexo, porém deslumbrantemente belo musgo.”
Além do musgo e das árvores, Williams e sua equipe fizeram uma extensa pesquisa nas rochas e pedras encontradas na Escócia, bem como nos tipos de armas que eram usadas nos tempos antigos. Espadas, escudos, machados, arcos e flechas e outros armamentos foram manufaturados para as cenas de batalha ao longo do filme.
Williams diz: “Este filme tem tanto escopo que foi fácil para nós elevarmos nosso nível e ir mais além do que jamais fomos. Os cenários eram bem maiores, há muito mais modelagem e sombreamento orgânico. Um dos meus cenários favoritos é uma ruína subterrânea. É muito sombria e escura e tem tudo que gostamos de fazer em termos de modelagem, sombreamento e cenografia.”
SOFTWARE
O Estúdio Pixar Animation é conhecido por sonhar grande quando se trata de tecnologia e arte. Com Valente, um sistema de software inovador, o PRESTO Animation System, permitiu aos narradores e artistas sonharem ainda mais alto. “A Pixar tomou a decisão de construir nova tecnologia para solucionar problemas futuros da cinematografia agora ─ nosso antigo software não podia evoluir nessa direção”, explica Gordon Cameron, supervisor de tecnologia global do filme e importante membro do grupo de tecnologia global da Pixar.
“Valente é o primeiro filme da Pixar a usar o novo sistema proprietário de animação”, diz o diretor-supervisor técnico Steve May. “Ele nos permite que façamos animação complexa que não conseguíamos fazer antes. Uma das coisas mais difíceis de serem feitas em animação é controlar muitos personagens que são conectados e dependentes uns dos outros. Em uma cena, Mérida está cavalgando em seu fiel cavalo Angus enquanto costura a tapeçaria e carrega os trigêmeos na garupa do cavalo. A animação de todos os personagens é dependente uma da outra ─ se um se movimenta, os outros reagem, e o modo como eles dependem uns dos outros muda ao longo da cena. As conexões são dinâmicas e tornar isto mais fácil para os animadores requer novas tecnologias de animação.”
O diretor supervisor técnico Bill Wise acrescenta: “Uma das razões pelas quais estávamos dispostos a assumir isto foram as cenas do urso e do cavalo, principalmente. São personagens grandes, pesados e musculosos, e nós queríamos integrar simulação no processo de articulação para poder conseguir aquele movimento secundário ─ o balanço dos músculos e da carne com o impacto. Nós queríamos sentir o peso e a massa. Você pode ver o resultado quando Angus se esforça ─ seu peito e músculos se movem a cada passo. PRESTO ofereceu mais controle e mais poder em termos de aprimoramento. Neste filme, em particular, o sistema permitiu que integrássemos simulação ao processo de animação. Foi uma enorme inovação.”
FOTOGRAFIA ─ CÂMERA E ILUMINAÇÃO
A cinematografia em animação por computação tem avançado aos saltos desde Toy Story, o longa-metragem de estreia da Pixar e o primeiro longa-metragem totalmente feito em computação gráfica da indústria cinematográfica, lançado em 1995. Com Valente, os diretores de fotografia Rob Anderson (câmera) e Danielle Feinberg (iluminação) trazem nova empolgação ao processo, com movimentos de câmera ousados e eletrizantes, e iluminação sofisticada.
“Nossa filosofia em termos de trabalho de câmera é sempre reforçar a história”, diz Anderson. “Se é um momento emocional em que os personagens não estavam se comunicando e agora estão, nós podemos começar a forçar que eles se unam um pouco. Uma das minhas cenas favoritas é quando Mérida está zangada com a mãe e parte em seu cavalo pela floresta. Nós vemos uma cena estabelecida em que ela sai do castelo e a câmera mostra amplas paisagens e belos cenários. Mérida está zangada e o cavalo está realmente em movimento. É como se a câmera estivesse em um carro em movimento de modo que podemos seguir e assistir conforme o cavalo segue velozmente pela floresta. Mérida cai do cavalo bem no meio de um misterioso círculo de pedras, tudo é mostrado com um movimento elegante e gracioso que seria impossível de fazer no mundo real: a câmera gira para o lado oposto para mostrar o enorme círculo de pedras erguidas. Isso a coloca em um novo espaço e fornece uma transição realmente muito boa.”
Anderson diz que ele também gosta da cena na qual Mérida escala a rocha da Cascata de Fogo. “A cena começa com Merida no promontório entalhando um pequeno símbolo em seu arco enquanto uma águia grasna e circula acima dela. Nós temos a visão de Mérida do ponto de vista da ave, e então a câmera passa para uma cena arrebatadora de Mérida na parede de rocha. Isso foi um verdadeiro desafio para nós porque queríamos que desse a sensação de que você estivesse subindo com o pássaro, mas ainda mantendo Mérida no quadro bem abaixo. A câmera imita o movimento do pássaro ─ é um movimento muito lírico; Mérida está perfeitamente enquadrada com o pôr do sol e com a cascata ao fundo.”
“Trabalhar com Mark [Andrews] tem sido ótimo”, acrescenta Anderson. “Ele consegue entrar numa sala e fazer todos se sentirem extremamente à vontade. Ele tem uma mente muito ágil, ele conhece seu filme e sabe o que quer que a câmera transmita. Nós tentamos dar a ele o máximo de opções possível. Sempre começamos usando o storyboard como um mapa, e depois damos opções que são mais conservadoras e mais agressivas para contar os mesmos pontos da história.”
Entre os créditos anteriores de Danielle Feinberg estão a função de diretora de fotografia e iluminação em WALL•E ─ algo bem diferente de Valente. “Este filme foi renovador e atemorizante ao mesmo tempo. WALL•E deveria ter uma sensação mais como um documentário ─ Valente é o oposto. Robôs são muito fáceis de iluminar, humanos são incrivelmente difíceis. Quando uma cena chega ao nosso departamento, tudo está cinza, porque só há uma luz branca simples. A animação vê suas cenas com esta luz. Tudo fica insípido, não há atmosfera, clima ou hora do dia. Quando começamos a iluminar a cena, acontece esse momento mágico em que subitamente você é transportado para um mundo totalmente diferente.”
“Nossos personagens são seres vivos”, continua Feinberg. “Você realmente os conhece quando começa a iluminá-los. Cada um tem suas características próprias. Mérida tem um magnífico cabelo ruivo e nós levamos um tempo para descobrir como iluminá-lo para que ela ficasse bonita. Tivemos que trocar a luz principal com ela, de modo que iluminasse abaixo da bochecha, ou diminuíamos a luz para evitar um efeito tipo máscara. Iluminar seu cavalo, Angus, também foi complicado porque ele é muito negro com patas e focinho brancos. Se você colocasse luz demais, ele poderia acabar ficando muito bizarro. Acabamos usando um especular molhado, que tem um reflexo borrado, para ressaltar sua forma.”
Feinberg e sua equipe tiveram muito trabalho no grande hall do Castelo DunBroch, onde enormes multidões foram iluminadas por centenas de velas, tochas e candelabros. Com uma luz necessária para cada vela, a iluminação assumiu um nível inteiramente novo de complexidade. Adicionalmente, sua equipe ajudou a criar a atmosfera misteriosa e o antigo ambiente escocês. “Uma das nossas cenas favoritas no que se refere à iluminação é a que Merida e Angus acabam num círculo de pedras”, diz Feinberg. “É um lugar mágico em que Merida encontra as luzes mágicas. Além da floresta, a cena se abre e você vê uma tomada ampla do céu com grandes nuvens negras. Tudo à frente é escuro e desconhecido e tudo no caminho de volta ao castelo é iluminado e seguro. Acrescente o cintilar das luzes mágicas e é uma cena realmente legal.”
EFEITOS ESPECIAIS ─ LUZES MÁGICAS, NÉVOA, RIOS
Valente apresenta uma ampla gama de efeitos visuais inovadores e eletrizantes que engrandecem o drama e a magia da jornada de Mérida. Névoa, fogo, luzes mágicas e um rio caudaloso são apenas alguns dos desafios que a equipe de efeitos enfrentou nesta produção.
David MacCarthy, o supervisor de efeitos de Valente, diz que a natureza interpreta um importante papel nos efeitos deste filme. “O ambiente é o efeito primário que dá vida a este mundo. Na Escócia, há muita umidade, vento, e outros elementos naturais que mantêm as coisas vivas.”
Um dos principais efeitos, as luzes mágicas, na verdade, surgiu da fábula escocesa na qual pequenas luzes, que alguns acreditavam ser causadas por gases das trufeiras, atraíam curiosos seguidores que acabavam ficando presos na lama espessa do pântano ─ acabando, assim, por ter um triste destino. “Mark [Andrews] usou a analogia que as luzes no filme são como luzes da terra guiando os personagens em um caminho específico”, continua MacCarthy. “As luzes marcam a primeira vez que fizemos um personagem que é inteiramente um efeito. Nós queríamos usar fogo como uma pista visual, mas não um elemento direcional.”
MacCarthy conta que a equipe de efeitos levou um ano para aperfeiçoar o visual das pequenas luzes. “As luzes começam com um núcleo”, explica ele, “que é o próprio personagem subliminar ─ é a geometria. Nós enchemos esse núcleo com um gás sonoro. Então há dois níveis do lado externo. A silhueta primária é muito parecida com uma chama e muito similar a uma vela, exceto quando se movimenta, o movimento não é com a gravidade. Parece mais que está se movimentando embaixo d’água. Há um brilho azul e mechas que possuem uma qualidade de plasma quando ela se movimenta. As luzes assobiam como o vento pelas folhas, e o movimento é muito parecido com o de uma água-viva. Elas estão sempre se movendo muito languida e etereamente para lá e para cá, para cima e para baixo.”
Uma das grandes viradas no relacionamento mãe e filha acontece em um rio. “Nós queríamos um rio que transmitisse a ideia exata de que estávamos na Escócia”, diz MacCarthy. “Este é um caminho de salmões e o deságue de uma geleira em um cenário de uma cascata que tem uns 9 metros de largura por 2,5 de altura.”
O diretor-supervisor técnico Steve May adiciona: “A cena do rio mostra os processos mais avançados da animação de cabelos e roupas em Mérida, além da simulação de água do próprio rio. A água é animada usando novas técnicas desenvolvidas que fornecem uma ampla escala de comportamento, como o formato do rio como um todo, e um nível de detalhamento muito alto, como as extremidades das rochas e os respingos dos personagens”.
“É provavelmente a simulação física mais complexa que a indústria já fez”, diz MacCarthy. “Foi um trabalho de colaboração entre as equipes de arte, cenários, efeitos e software.”
Criar a névoa, fumaça e outros efeitos atmosféricos foi um esforço coordenado entre os departamentos de efeitos e iluminação. “A névoa é uma fera estranha”, afirma MacCarthy. “Se for dirigida ou estrutural, o departamento de efeitos supervisionava. Por exemplo, quando revelamos pela primeira vez as pedras erguidas, a névoa deve se comportar de certa maneira, então a equipe de efeitos lida com isso.”
Feinberg acrescenta: “Por que a Escócia tem muita névoa, há uma tendência a aparecerem muitas silhuetas ao longe. É uma coisa maravilhosa, e dá um efeito teatral que orquestra a iluminação ao redor do personagem. Isso acrescenta uma sensação de magia ao filme ─ um mistério sobre o que pode haver na floresta”.